Índice de cobertura vacinal infantil tem caído nos anos de pandemia; entenda os motivos
Isolamento social, movimento antivacina e fake news sobre eficácia das vacinas levaram pais a não cumprirem o calendário de vacinação infantil
Por Cris Soares
Nesses dois últimos anos, devido a pandemia da Covid-19, tem ocorrido uma queda na procura pelas vacinas obrigatórias, deixando a população, em especial o público infantil, vulnerável a doenças que já estavam erradicadas no País, como sarampo e poliomielite, que pode causar sequelas ou até mesmo a morte. Os dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) revelam que em Goiás houve queda na vacinação infantil.
Considerando que o ideal é que o índice de cobertura vacinal seja acima de 90%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Goiás não obteve resultados satisfatórios. O Estado contou nos dois anos de pandemia, 2020 e 2021, com taxas de cobertura vacinal inferiores ao recomendado. Os dados apontam queda nas cinco principais vacinas da caderneta de vacinação infantil.
No caso da vacina contra o Rotavírus Humano, o índice de vacinação foi de 80,09% em 2020 e 74,98% em 2020. A cobertura da Pneumocócica ficou em 84,26% em 2020 e 78,02% em 2021. Já a Tríplice Viral atingiu os seguintes índices de cobertura: 75,36% em 2020 e 75,26% em 2021. A vacinação contra a Poliomielite atingiu 77,79% em 2020 e 70,48% em 2021. A cobertura vacinal da Penta atingiu os índices de 76,11% em 2020 e 70,46% em 2021.
A tríplice viral – que imuniza contra sarampo, caxumba e rubéola – é um dos principais imunizantes do Programa Nacional de Imunizações (PNI), de acordo com a gerente de imunização Secretaria do Estado de Saúde de (SES), Clarice Carvalho, que observa que a taxa de cobertura está em queda desde 2019. Ela alerta que “a queda nas coberturas vacinais ao longo dos anos tem ocorrido para todas as vacinas previstas no calendário vacinal das crianças”.
Segundo a gerente, infelizmente, os pais têm deixado de levar seus filhos aos postos de vacinação para atualizar a caderneta vacinal e essa conduta pode estar relacionada a vários fatores como, a circulação de informações falsas a respeito da segurança das vacinas.
Ela ainda cita também um fato contraditório para justificar a queda na procura pela vacinação. “O sucesso do Programa Nacional de Imunizações na eliminação e erradicação de determinadas doenças, o que contribui para a falsa sensação de segurança, levando a alguns pais acreditarem que não há mais a necessidade de vacinar”.
O movimento antivacina, que ganhou força durante a pandemia da Covid-19 em várias partes do mundo, também agrava a situação. “Os movimentos antivacina têm contribuído também com a queda das coberturas vacinais. As consequências são graves, pois as baixas coberturas vacinais podem contribuir para o aumento de doenças imunopreviníveis, bem como o retorno de doenças já eliminadas e ou erradicadas”, ressalta Carvalho.
Cumprir o calendário
Vacinar é a forma mais efetiva de prevenir as doenças virais e as consequências dos baixos índices não podem ser ignoradas, destaca o infectologista e professor do Centro Universitário São Camilo Robert Fabian Crespo Rosas. Ele afirma que com a redução dos índices de vacinação fica impossível controlar a disseminação dos vírus.
O médico alerta que o cenário pandêmico contemporâneo, o isolamento social e outros fatores que marcaram a pandemia contribuíram para a baixa procura pelas vacinas. “Na verdade, o que tem acontecido é a soma de fatores, como o problema da pandemia, o lockdown e tudo que a gente tem sofrido, que acaba gerando um ambiente de perigo aos pais, não somente em relação a eles próprios e sim aos filhos”.
As notícias falsas sobre a vacinação são outro fator que agrava a cobertura vacinal. “A disseminação de fake news também contribui para que os pais duvidem da eficácia tanto das vacinas obrigatórias, quanto da vacina da covid-19”, destaca o médico infectologista.
Rosas destaca que no momento é necessário reforçar a importância da vacinação, para despertar a consciência das pessoas sobre esse ato. “A vacina é o meio mais eficaz não só de proteger as crianças, mas de mantê-las em um estado saudável e erradicar algumas doenças, seguindo o esquema vacinal de forma correta, existente no calendário vacinal.
Sucesso da imunização depende do cumprimento correto do calendário de vacinação
Para garantir a eficiência da cobertura vacinal é necessário cumprir o calendário de vacinação seguindo as datas indicadas. “A eficácia da vacina é no período certo. Não adianta chegar ao fim do ano e vacinar de uma vez todas as doses em atraso. “Pois as vacinas só mantêm a eficácia das duas ou três doses, dentro do esquema vacinal e do prazo adequado”, explica o médico.
A imunização, de acordo com o infectologista Robert Fabian Crespo Rosas, é a única forma de efetivar a prevenção e evitar que doenças erradicadas não voltem. Mas, para que haja eficácia, o calendário vacinal precisa ser seguido de forma coerente e correta. “Se os pais não vacinam seus filhos e a fiscalização não segue em cima, ficamos com portas abertas para receber os vírus”, pontua.
Cartão em dia
Vários fatores contribuíram nestes dois últimos anos para a queda nos índices de vacinação, conforme apontado pelos especialistas, que destacaram ainda que vacinar é o ato mais eficaz para imunizar a população contra diversas doenças e evitar pandemias, como essa da Covid-19.
Apesar da desconfiança sobre a eficácia das vacinas, as fake news, o isolamento social e as condições que levaram à queda da cobertura vacinal, existem os defensores das vacinas e que cumprem à risca o calendário de vacinação dos filhos. Esse é o caso da auxiliar de serviços Hosana Gomes. Ela ressalta a importância de manter atualizado o cartão de vacina de sua filha. “Vacinar é importante, é um meio de prevenir as doenças. Eu me sinto segura quando as vacinas de minha filha estão em dia”.
Estratégias para aumentar a vacinação
O Programa Nacional de Imunização destaca sobre as estratégias as serem utilizadas para conscientizar os pais sobre a importância da imunização de suas crianças. Segundo a gerente de imunização da SES-GO, Clarice Carvalho, diversas estratégias estão sendo utilizadas para aumentar a adesão à vacinação de crianças como, esclarecimentos por especialistas em canais de rádio, televisão e redes sociais da pasta.
“É informada a importância da vacinação na prevenção de doenças, bem como a Campanha Nacional de Multivacinação que ocorre todos os anos, além do apoio desta secretaria junto aos municípios goianos no planejamento de ações para busca da população não vacinada”, segundo Carvalho.
Índice de cobertura
Os dados da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) apontam que nos últimos dois anos vem ocorrendo uma queda no índice de cobertura vacinal de diversas vacinas. Os dados apontam queda nas cinco principais vacinas da caderneta de vacinação infantil. Confira como ficou o índice de cobertura vacinal das seguintes vacinas: Rotavírus Humano, Peneumocócica, Tríplice Viral, Poliomielite, Penta Viral.