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terça-feira, 24 de dezembro de 2024
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Saúde

No dia de Conscientização da doença de Parkinson, estigmas e preconceitos ainda são desafios

Tratamento medicamentoso e abordagem multiprofissional são aliados à qualidade de vida dos pacientes, avaliam especialistas

Postado em 11 de abril de 2022 por Maiara Dal Bosco

Hoje (11) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. A data revela dados alarmantes. No Brasil, o Ministério da Saúde calcula 200 mil brasileiros com a Doença de Parkinson e estima-se que 1% da população mundial, acima de 55 anos, e 0,3% da população em geral tem Parkinson e a estimativa é de que até 2040, o número de pessoas com a doença em todo o mundo deverá exceder 12 milhões de pessoas.

Para a presidente da Associação Brasil Parkinson (ABP), a fisioterapeuta e especialista em doença de Parkinson, Erica Tardelli, a data de hoje é fundamental porque auxilia na divulgação da doença e no conhecimento dos sintomas precoces, bem como na diminuição do estigma e do preconceito. “São várias questões que a ABP traz nesse ano. Acredito que a principal é um alerta para a população e também para os profissionais de saúde, como os médicos generalistas”, avalia. 

A presidente frisa a necessidade de que a doença seja conhecida pelas pessoas. “O que as pessoas precisam saber mais é que existem associações pelo Brasil todo. É necessário que esse dia seja usado como uma forma de divulgar mais sobre a doença, para que as pessoas deixem de demorar tanto para ter o diagnóstico. É preciso diminuir o estigma de que para ser Parkinson é necessário haver tremor, ou que é uma doença do idoso. Na verdade, há outras questões envolvidas que não só a questão do movimento”, pontua Tardelli. 

“Mais coisas boas do que ruim” 

É com essas palavras que a dona de casa Maria Aparecida Faccani, 65, diagnosticada há 15 anos com a doença de Parkinson, define como tem sido sua vida desde o diagnóstico. Ela conta que demorou dois anos – entre ir ao médico e realizar exames, para confirmar o diagnóstico. 

“Eu me sentia muito mal mas não sabia o que era. Sentia meus ouvidos tapados, não ouvia direito e cheguei a ir ao otorrino, porque imaginava que era um problema nos ouvidos. Marquei outros vários médicos, fiz exames que não constavam nada. Quando fui diagnosticada com Parkinson, não sabia muito sobre a doença. Foi aí que passei a pesquisar e a compreender melhor a respeito”, destaca.

Maria Aparecida se recorda do amparo que recebeu da médica que já a acompanha há 13 anos. “Ela me disse ‘realmente você tem Parkinson. Mas não se preocupe, você vai tomar o remédio e ficar ótima. A medicina está muito avançada. Com o tratamento, cuidados e exercícios, você vai ter uma vida normal”, relembra. 

E assim aconteceu. Maria Aparecida conta que logo que começou com a medicação correta já se sentiu melhor. “Com o passar dos dias eu já estava super bem. Fiquei muitos anos sem mexer na dosagem [do medicamento]. Hoje me sinto bem, me cuido e nunca deixei de fazer minhas atividades e exercícios”, pontua. 

Entre os exercícios realizados por ela, estão a fisioterapia e atividades de terapia ocupacional. “A parte motora fica lenta, e o que eu mais sinto dificuldade hoje é a escrita. Por isso, faço terapia ocupacional porque tenho dificuldade para escrever. Sou de bem com a vida e acredito aceitar [a doença e as adversidades] é o melhor caminho para viver”, ressalta.

Descoberta 

Maria Aparecida afirma que há nove anos encontrou a Associação Brasil Parkinson (ABP). Lá, ela ressalta que se deparou com profissionais carinhosos e pessoas com as quais compartilha os desafios e progressos da doença. Também foi na ABP que ela descobriu um dom, a pintura. 

“Eu não sabia que eu sabia pintar. Hoje, faço telas com paisagens, flores, rostos. Quando comecei, fazia desenhos na cartolina. Depois, passei para a pintura em tela e me apaixonei. Às vezes nem acredito que as telas são minhas. Não sei mais viver sem a pintura”, destaca. 

Tremor não é o sintoma principal da doença

Médico neurologista do Hospital Brasília/Dasa, Thiago Taya explica que a doença de Parkinson apresenta como principal sintoma a perda da fluidez natural dos movimentos, como se fosse uma lentidão nos movimentos. “Ao contrário do que todo mundo pensa, o tremor não é o sintoma principal da doença, apesar de ser sim uma característica muito importante do quadro parkinsoniano”, aponta. 

O neurologista pontua que os sintomas costumam aparecer de forma assimétrica, ou seja, pior de um dos lados do corpo e o tremor típico dessa doença é um tremor de repouso, que piora quando os membros estão parados e relaxados. 

“Além disso, também é comum termos outros sintomas, como rigidez, isto é, sensação de endurecimento dos membros e instabilidade postural. É importante destacar que, com anos de doença, podem surgir sintomas cognitivos, como desorientação e perda de memória”, destaca Taya. 

Com relação ao diagnóstico da doença, o médico esclarece que o mesmo é feito de forma clínica, isto é, feito a partir da presença dos sintomas, do exame físico e da avaliação neurológica como um todo. Segundo ele, a própria resposta positiva à uma medicação para doença de Parkinson, ajuda no diagnóstico da doença.

 “Os exames são importantes sim, mas principalmente para excluir outras possíveis causas de sintomas que se assemelham com Parkinson, como doenças metabólicas ou por exemplo um Acidente Vascular Cerebral [AVC] numa região específica que dá sintomas parecidos e outras causas, sendo muito importante exame de sangue, um exame estrutural do crânio, como uma ressonância e, ainda, em casos que geram dúvidas, exames mais específicos que auxiliarão na definição e diferenciação de possíveis diagnósticos”, pontua o especialista. 

Genética

Taya destaca que o papel genético na doença de Parkinson é bem importante, mas isso não quer dizer que ela seja hereditária, até porque ela acontece de maneira esporádica. “Ou seja, não tem ninguém na família e de repente aparece alguém com a doença, por exemplo. Mas, como o papel genético é importante, se o paciente tiver essa receita genética para a doença, é bem provável que ele desenvolva em algum momento da vida a doença, geralmente após os 50 anos de idade”, pontua.  

Contudo, o médico alerta que, se a pessoa tiver bons hábitos de vida, como prática de atividade física regular e boa alimentação, pode ser que isso ajude a postergar um pouco o surgimento da doença e a retardar um pouco a sua progressão, sendo extremamente importante o acompanhamento multidisciplinar depois que o diagnóstico foi feito. 

Para Taya, é importante falar da doença para que as pessoas possam suspeitar da doença de maneira precoce, para investigar e iniciar o tratamento o mais breve possível. “Além disso, é importante também para que as pessoas saibam que nem tudo que treme é Parkinson. Na verdade, temos muitas outras causas para o tremor. Por isso, é fundamental fazer uma avaliação médica e neurológica para o melhor entendimento de cada caso”, frisa.  

Tratamento 

Já o neurologista e professor de Medicina do Centro Universitário São Camilo João Brainer explica que o Parkinson é uma doença neurodegenerativa, ou seja, que não tem cura, embora tenha tratamento. 

“A tendência da doença de Parkinson é somente piorar. Alguns pacientes podem estabilizar muito fácil, ou seja, estabilizam e não pioram, mas a tendência na imensa maioria dos pacientes é que exista uma perda progressiva de função motora e não motora, cognitiva, evoluindo inclusive com alguns casos de demência, algo parecido com Alzheimer, mas lembrar que não é Alzheimer e sim demência da doença de Parkinson que pode acontecer”, afirma.

O médico pontua que o tratamento envolve medicamentos que vão melhorar todos esses sintomas. “Alguns [medicamentos] melhoram mais um tremor, outros melhoram mais a lentificação do movimento, por exemplo. Da mesma forma, há o tratamento específico para os sintomas não motores, como a ansiedade, depressão, e transtorno comportamental do sono rem, que podem acontecer também nesses pacientes”, ressalta Brainer. 

Sobre a qualidade de vida do paciente com doença de Parkinson, o especialista destaca que ela acontece principalmente quando é feito o tratamento medicamentoso para com o paciente, bem como quando é realizada uma abordagem multiprofissional, com fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e acupuntura em alguns casos – naqueles pacientes que têm rigidez, dor, entre outros. 

“A abordagem multiprofissional oferece qualidade de vida. Além disso, também procuramos engajar os pacientes em grupos comunitários de portadores de doença de Parkinson, por exemplo, para que eles compartilhem experiências, participem de atividades lúdicas. Com isso, é possível reintroduzir ao máximo possível esse paciente na sociedade, além de treinarmos a família e os cuidadores para saberem cuidar desses pacientes”, pontua o neurologista.

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