2º turno na Fraça entre Le Pen e Macron; veja as diferenças e os riscos da extrema direita
Marine Le Pen apoia leis consideradas xenofóbicas e tem o objetivo de investir em alternativas energéticas que não são sustentáveis
O segundo turno na França, disputado pelo atual presidente Emmanuel Macron e pela deputada Marine Le Pen, acontecerá no próximo dia 24 de abril. Apesar do representante do partido República em Marcha, ser o mais cotado a vencer, ainda existe a possibilidade de Le Pen ser a próxima presidente francesa, visto que foram separados por 4,6 pontos percentuais. Vejamos as principais diferenças entre eles.
Macron, de 44 anos, venceu as eleições em 2017. Formado em escolas de elite do país, antes de se candidatar era banqueiro de investimentos e pode ser o primeiro presidente reeleito em 20 anos. Ele tem como objetivo criar uma Frente Republicana, com diversos partidos e setores contrários à direita nacionalista, que hoje é representada por Le Pen.
Já Marine Le Pen, de 53 anos, é deputada do partido Agrupamento Nacional e defende ideais considerados nacionalistas. Ela também foi candidata em 2017, mas agora assume uma postura menos ácida e mais moderada. Le Pen fez um convite a todos que não votaram no presidente a se “juntarem” a ela.
Ela aborda a inflação, o elevado custo de vida, diminuição de impostos para que assim o preço da energia diminua. Le Pen ainda defende uma redução do TCA (Taxa de Valor Agregado) de 20% para 5% sobre a energia. Segundo o jornal Le Monde, ela afirmou, nesta segunda-feira (11/04), que “depois da alta do gás, do petróleo e da eletricidade, há outra nuvem negra sobre as cabeças dos franceses que será a inflação sobre os preços dos alimentos”.
Ao que Macron contestou, enumerando medidas adotadas por seu governo para diminuir o impacto causado pela inflação, como queda no imposto de renda, taxa de residência extinta e aumento de complemento salarial. “Houve aumento de 35% no gás. Mas sem o nosso escudo, alcançaria 140%. O preço do combustível cresceu bastante, mas nós concedemos desconto. Nossa estratégia é mais séria e mais robusta.” afirma.
Além disso, outras divergências em relação à economia sobressaem. Macron colocou 5 reformas em prática no país, depositou 100 milhões de euros no combate ao Covid-19, visto que a pandemia fez atividades de diversos setores despencar. Ainda, o Produto Interno Bruto (PIB) da França caiu 8% em 2020. No ano seguinte, o déficit público foi 6,5% do PIB, sendo que em 2019 era de 3,1%. Também em 2021, a dívida pública foi a 112% do PIB, visto que dois anos antes era de 97,4%. Apesar disso, no mesmo ano a França teve o crescimento econômico registrado em 7%, o maior em 52 anos.
Macron também faz apostas em um programa de reindustrialização, além de reformas previdenciárias. Ele quer aumentar a idade mínima da aposentadoria de 62 anos para 65, bem como reduzir a cobrança de € 10 bilhões sobre impostos de empresas e reduzir a tributação dos trabalhadores autônomos.
Por outro lado, Le Pen promete subsidiar os setores produtivos que criarem novos postos de trabalho. Ela também diz que reduzirá a idade mínima de aposentadoria para 60 anos para as pessoas que entrarem para o mercado de trabalho antes dos 20 anos.
Outro ponto, é que Macron pretende diminuir o imposto de renda para os casais que morarem juntos,enquanto Le Pen quer isentar o tributo para pessoas com menos de 30 anos que permaneçam e formem família na França. Além disso, o atual presidente visa no investimento em seis novas usinas nucleares, construção de outras seis e também quer aumentar o tempo de vida útil das que já existem para 50 anos, sem deixar de apostar em energia renovável e neutralidade de emissões de gases do efeito estufa até 2050. Já a deputada tem o objetivo de construir três usinas termonucleares e modernizar as que estão operando. No entanto, ela pretende suspender alternativas sustentáveis como a geração eólica para dedicar a usinas hidrelétricas e de hidrogênio.
Existe ainda, a questão que envolve a política externa, em que Macron demonstra compromisso em aprofundar o mercado comum e da zona do euro. Com a saída do Reino Unido da União Européia e com o fim do mandato de Angela Merkel, na Alemanha, Macron pode se tornar o principal líder do bloco. Ele também propõe uma reformulação na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que é liderada pelos Estados Unidos, e a criação de uma aliança de defesa europeia.
Na contramão, Le Pen prefere distância do país norte-americano e quer retirar a França do comando militar da Otan. Ela ainda, tem a proposta de constitucionalizar as leis francesas sobre as internacionais, para que assim, a França não seja obrigada a cumprir com todas legislações da União Europeia. Nesse caso, a Otan pode aplicar sanções.
O ponto mais polêmico de Le Pen e que causa grande preocupação é sobre a questão dos imigrantes que residem na França. Ela já prometeu a suspensão da autorização para os imigrantes que não conseguiram emprego no primeiro ano de estadia no país. Também, afirmou que irá proibir o uso de hijab, que são os véu utilizados pelas mulheres muçulmanas
Contudo, desde a derrota em 2017, Marine Le Pen apresenta discursos mais tranquilos, o que causa preocupação porque isso pode fazer com que as pessoas temam menos a ela. Segundo disse o cientista político da Universidade de Columbia, em Nova York e na Sciences Po, em Paris, Miguel Lago, “o tom da campanha de Le Pen tende a ser mais forte do que de Macron, que já é uma repetição de 2002 e 2017”, disse em entrevista ao G1.
“Le Pen é uma candidata diferente das outras extremas direitas que a gente vê no mundo. Ela é mais moderada do que um Trump, certamente um Victor Orban, mais do que Salvini, na Itália, e muito mais do que Jair Messias Bolsonaro. Zemmour seria muito mais o exemplo da extrema direita internacional na França. Ela [Marine Le Pen] é tão nacionalista que acho que só se preocupa com a França, de fato”.
Se vencer o segundo turno Marine Le Pen será um “fenômeno mais francês do que internacional”, ressalta
“No Brasil, a repercussão será menos ruim. Não vejo Marine Le Pen mexendo um dedo para tentar apoiar uma reeleição de Bolsonaro. Ela vai estar preocupada com a França e vai lidar com Lula, se for eleito”. Entretanto, Lago também afirma que “certamente será catastrófico ter a extrema direita, especialmente neste contexto de guerra”, inclusive para o Brasil.