Goiânia tem 10% de diagnóstico de depressão entre as 27 capitais brasileiras
A questão pontual na depressão é a perda do desejo de vida, um certo desconforto em prosseguir, explica especialista.
Por Daniell Alves
Uma pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel) aponta que cerca de 10% dos adultos residentes em Goiânia já tiveram diagnóstico de depressão. O levantamento foi feito nas 27 capitais brasileiras por meio do telefone. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SESGO), a depressão é uma doença do organismo como um todo”, que compromete o físico, o humor e, em consequência, o pensamento.
Ela altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente disposição e prazer com a vida. Além disso, afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas. É, portanto, uma doença afetiva ou de humor, não é simplesmente estar na “fossa” ou com “baixo astral” passageiro.
O autônomo Pablo Vinícius Sousa Oliveira, 19 anos, foi diagnosticado com depressão em novembro do último ano. “Eu estava tendo muitas crises de ansiedade e já não sabia mais o que fazer. Daí pessoas próximas falaram para eu procurar ajuda. Procurei uma psicóloga e, no decorrer das terapias, ela percebeu que não era só ansiedade e sim depressão”, lembra.
De início, ele ficou assustado e a especialista o encaminhou duas vezes para o psiquiatra. Pablo também fez sessões de terapia. “Eu já não faço mais terapia, mas quando fazia era muito bom e ajudava bastante. A depressão me atrapalha de várias formas, me faz pensar que eu não consigo fazer tal coisa, me isolo bastante, afasto pessoas”, explica.
Já o lojista Matheus Lobo, hoje com 21 anos, descobriu que estava com a doença aos 14. Na época, ela tinha vários problemas relacionados à sexualidade, não aceitação da família, além de não ter perspectivas para o futuro. “Minha família não apoiava os meus sonhos e queria sonhar por mim”. Atualmente, ele diz que não sofre mais com a doença.
Alma e físico
O psicólogo e psicanalista Patrick Olivera, Mestre e Doutorando em Antropologia Social, da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a depressão é um adoecimento da alma e do físico. “Ela desencadeia processos que dilaceram a vida. A questão pontual na depressão é a perda do desejo de vida. Um certo desconforto em prosseguir assegurando o que é fundamental na arte de viver, a força de vontade.
Ao conviver com a doença, o depressivo perde esse link com a sua própria maneira de viver, aponta o psicólogo. “Esquece sua natureza não conseguindo mantê-la. No aspecto físico e biológico a depressão traz à tona a prostração do corpo, sua inutilidade, sua não – necessidade. Por isso perde a fome, a sede, o sono e tudo mais. Neste tempo de pandemia que obscureceu o mundo, os índices de pessoas depressivas aumentaram sobremaneira”, avalia.
Prevenção
Pode-se prevenir a depressão mantendo-se a qualidade de vida, aprendendo a conviver com o estresse e os conflitos cotidianos, sabendo lidar com as adversidades, não sucumbindo diante dessas situações. “É necessário evitar o isolamento, procurando relações de parceria e cumplicidade, para compartilhar os sentimentos”, aponta a SES. A doença não tem cura, nem por medicação ou terapia, e podem ser necessárias intervenções que vão desde o uso de medicação antidepressiva até psicoterapias individuais, de grupo ou familiares. “A pessoa deve procurar tratamento médico ou terapêutico, ou ambos, para aprender a lidar com a doença”, pontua.
Escolaridade
No conjunto das 27 cidades pesquisadas, a frequência do diagnóstico médico de depressão foi de 11,3%, sendo maior entre as mulheres (14,7%) do que entre os homens (7,3%). Entre os homens, a frequência dessa condição tendeu a crescer com o aumento da escolaridade. Em ambos os sexos não foi observada relação clara entre o indicador e a faixa etária.
A frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de depressão variou entre 7,2% em Belém e 17,5% em Porto Alegre. No sexo masculino, as maiores frequências foram observadas em Porto Alegre (15,7%), Florianópolis (12,9%) e no Rio de Janeiro (11,7%), e as menores em Salvador (4,2%), Rio Branco (4,3%) e Palmas (4,4%). Entre mulheres, o diagnóstico de depressão foi mais frequente em Belo Horizonte (23,0%), Campo Grande (21,3%) e Curitiba (20,9%), e menos frequente em Belém (8,0%), São Luís (9,6%) e Macapá (10,9%).
Caps
A Prefeitura de Goiânia disponibiliza Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que são unidades específicas para atendimento a usuários com transtornos psiquiátricos e pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. As unidades são responsáveis por organizar e regular a rede de atenção em saúde mental. O serviço comunitário funciona com porta aberta e de forma substitutiva aos hospitais psiquiátricos e tratamento via internação.
Os Caps dispõem de uma equipe multiprofissional que atua de forma interdisciplinar e acompanha os usuários com transtorno mental grave ou persistente e pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Entre esses profissionais estão terapeutas ocupacionais, enfermeiros, musicoterapeutas, educadores físicos, médicos, psicólogos, assistentes sociais, artistas cênicos e arteterapeutas, além de trabalhadores administrativos e de apoio.
Para casos de urgência em que o usuário está em crise ou surto, a porta de entrada para atendimento é o Pronto Socorro Wassily Chuc. A unidade funciona 24h na Av. C 107 Q 310, 3333 – Jardim América. Lá o paciente passa pela análise da equipe médica e, se necessário, fica em observação. Conforme o caso, ele é direcionado para acompanhamento no Caps mais próximo de sua residência.