Produtos estão “encolhendo” nos supermercados
Mudança é uma estratégia das empresas para que o consumidor não perceba o aumento
Os produtos estão “encolhendo” nas prateleiras dos supermercados. Com a inflação em alta, algumas marcas estão reduzindo a embalagem e quantidade de produtos, mas mantém o mesmo preço. O caso mais repercutido foi a redução de 40 fósforos da caixa da marca Fiat Lux, que agora tem só 200 unidades. Anteriormente eram 240.
Trata-se de uma estratégia das empresas para que o consumidor não perceba esse aumento de forma significativa e continue comprando daquela marca. A prática é autorizada pelo Governo Federal, porém as indústrias precisam informar nas embalagens as mudanças para evitar que o consumidor seja induzido ao erro.
A dona de casa Cleonice Nunes, 57 anos, afirma que a inflação tem atingido as compras de forma bastante drástica. “Hoje em dia nós vamos ao mercado e não voltamos com praticamente nada do que compraríamos antigamente com o mesmo valor. Quem não está acostumado a ir fazer compras com frequência, vai se assustar com o tanto que o preço das coisas subiram”, aponta.
Cleonice tem percebido que alguns produtos têm vindo em quantidade menor. Ela cita como exemplo o pão de forma. “Na embalagem não está escrito que diminuiu o peso, mas como eu sempre como, percebi que o tamanho do pão está menor uns dois dedos”, diz.
A vendedora Carolina Martins, 26, ressalta que está difícil manter as despesas. “Temos que economizar ao máximo porque o salário mínimo não está dando para se ter uma boa alimentação. Ainda mais para quem trabalha o dia todo e quer comer algo mais rápido”. Ela percebe a diferença na quantidade de produtos dentro do carrinho quando vai ao supermercado. “Uma bandeja de mortadela custa mais de R$ 10 e você precisa consumir em menos de uma semana porque senão vence”, diz.
Os consumidores que vão às compras todos os meses já puderam perceber as mudanças em alguns itens. Um exemplo é o biscoito Piraquê, o Goiabinha, que passou de 100g para 75g. Já o Wafer de Chocolate teve uma redução ainda maior, foi de 160g para 100g.
Alimentos como biscoitos das marcas Bono e Nesfit ficaram menores 10% e 20%, respectivamente, e o achocolatado Nescau, que é da mesma fabricante, diminuiu em 7,5%. Também houve reduções nos molhos e condimentos. O molho de tomate refogado Salsaretti teve redução de 40g, ou 12%. Nas gôndolas de produtos de limpeza, o lava
roupas líquido Brilhante e o sabão glicerinado Ypê perderam 10% de volume cada (100ml e 20g, respectivamente).
Estratégia de mercado
Luiz Carlos Ongaratto, Professor e Mestre em Economia, explica que a redução de embalagem é uma estratégia do mercado para tentar manter o preço dentro das prateleiras dos supermercados para o consumidor não sentir o aumento, mas acaba que ele recebe menos produto. “Para não ter aquele choque visual de aumento de preço ou até mesmo para que o consumidor não troque de marca. Ele leva menos produto pagando igual. É uma estratégia de aumentar de preço por quilo ou litro, mas o consumidor percebe o aumento de outra forma”, ressalta.
As marcas fazem isso para que continuem vendendo, pontua Luiz. “O consumidor sai prejudicado, mas a inflação está assolando cerca de 78% dos produtos que compõem o índice. Ao invés de ser proibitivo, a população consegue comprar. O produto teria 500g e reduziu para 400g, porém o consumidor ainda consegue ter acesso ao produto, mesmo que em menor quantidade”.
Regras de sinalização
Conforme explica a Secretária Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, a redução das medidas é permitida, porém devem respeitar as regras de sinalização. “No caso específico de produto embalado, existe uma determinação normativa que obriga os fornecedores a informarem na parte frontal do rótulo desses produtos sempre que houver alterações quantitativas”, informa em em nota.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor também aponta que as marcas precisam informar de maneira clara ao consumidor qualquer alteração em embalagem ou quantidade. “Não adianta apenas uma pequena indicação no mesmo lugar onde o volume anterior estava. É preciso ter destaque.”
De acordo com o Idec, os consumidores devem ficar atentos ao tamanho da embalagem e ao preço, mesmo que seja um produto que você compra frequentemente. “Caso perceba que a quantidade diminuiu e não foi alertado de forma visível no rótulo. taça uma reclamação ao Procon de sua cidade e acompanhe o processo”.
Custos de produção
Em nota, a Piraquê informou que as novas embalagens do Goiabinha e do Wafer de Chocolate têm como objetivo cobrir o avanço dos custos de produção, especialmente devido à alta do trigo e demais commodities, evitando o aumento de preço dos produtos. Com relação ao biscoito de Leite Maltado Coberto com Chocolate, a empresa alega que é um produto novo, com formulação diferente ao extinto Piralokos!, um biscoito doce coberto, mas com receita e sabor diferente e, por legislação, por se tratar de um produto similar, a informação de redução foi mantida.
O objetivo das novas embalagens é acompanhar as tendências de mercado, garantir a adequação a inovações tecnológicas ou também padronizar a gramatura dos produtos das marcas, de forma a manter sua competitividade, informa a Nestlé. “Todas as mudanças ocorrem em conformidade com a legislação vigente”, disse em nota.
Procon Goiânia aponta reajuste de 7,64% no valor da cesta básica
O Programa de Defesa do Consumidor (Procon Goiânia) divulgou, no final do último mês, pesquisa que atesta reajuste de 7,64% no preço da cesta básica, que saltou de R$ 562,66 para R$ 634,60. Desse modo, houve aumento de R$ 71,94 no custo médio da cesta. Estudo foi realizado entre os dias 12 e 18 de abril, em 12 redes de supermercados da capital.
Foram coletados preços de 30 produtos que compõem a alimentação de uma família composta por quatro pessoas. Conforme a pesquisa, entre os itens que mais sofreram reajuste estão: o quilo da banana nanica (195,27%), tomate saladete (141,25%), pão francês (114,45%), farinha de mandioca (111,14%) e banana prata (110,82%).
Por outro lado, o levantamento mostrou que houve redução nos preços do óleo de soja (16,80%), arroz (19,56%), café (20,66%) e leite (22,27%). Os valores da carne vermelha continuam altos, segundo os três cortes bovinos analisados. O quilo do coxão mole varia de R$ 31,99 a R$ 52,50. O quilo do coxão duro alcançou preços de R$ 29,90 a R$ 50,50, e patinho teve preços de R$ 31,99 a R$ 50,99.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre as 17 capitais que apresentaram aumento na cesta básica, Goiânia está na 10° colocação, à frente de Belo Horizonte (4,28%) e Fortaleza (4,17%).
Diante das variações no preço dos alimentos, o Procon Goiânia recomenda aos consumidores a realização de pesquisa de preço e denúncia, nos casos de elevações sem justificativa. (Especial para O Hoje).