Paklets: A tendência de novos espaços utilizados em Goiânia
As mini praças podem ser instaladas em lugares que são destinados a estacionamentos
Os parklets têm o objetivo principal de humanizar e democratizar o uso do espaço público, além de criar áreas de convivência social e interação entre as pessoas. Parklets são projetos bem sucedidos em várias cidades do mundo e no Brasil. Goiânia, Recife, Fortaleza, Blumenau, Canoas e São Paulo são localidades que já contam com parklets instalados em espaços públicos. O conceito foi criado em São Francisco, nos Estados Unidos. No Brasil, o sistema funciona como reflexo de iniciativa da Organização Não-Governamental (ONG) Instituto Mobilidade Verde.
O primeiro Parklet da Capital foi inaugurado no final de abril de 2015 na confluência das Ruas 137, 144 e 145, no Setor Marista. No padrão oficial, as plataformas móveis instaladas em Goiânia funcionam como uma extensão temporária da calçada, equipada com bancos de madeira, mesas, floreiras, guarda-sol, bicicletário e aparelhos para exercício físico, dotada de energia solar, pontos para carregamento de bateria e internet sem fio, criada em alguma área antes ocupada por veículos.
Os parklets são usados pela população para descansar, ler, participar de manifestações artísticas, praticar exercício físico e também para o lazer. Ainda em 2015, os primeiros parklets da Capital foram montados em praças e em empresas, especialmente de construtoras ou de arquitetura.
Extensão da área pública
O secretário da Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (Seplanh), Paulo César Pereira, explica que de fato houve queda nos pedidos de instalação, o que agravou a pandemia. “Além disso, no ano passado, houve alterações nos procedimentos, que antes ficavam a cargo da Agência Municipal de Turismo Eventos e Lazer (Agetul), e passou para a Seplanh. Com a volta dos bares, deve ter uma crescente nos pedidos. É um modelo interessante do espaço público, democrático e que é um espaço para os pedestres, que tira dos carros”, afirma.
Pereira pontua, no entanto, que os parklets não possuem vínculo apenas com os bares, nos quais são utilizados até mesmo como fila de espera para as mesas ou espaço aberto para o consumo de bebidas ou mesmo para clientes fumarem. “Os equipamentos têm regras de democratização, ou seja, assim como as calçadas, é de uso público e qualquer pessoa pode usá-lo, mesmo não sendo cliente dos locais. Ele pode ser para um jardim, para dar sombras, um espaço de convivência para as empresas. É um modelo de uso do espaço a ser bem explorado em Goiânia”, explica.
O secretário entende ainda que é possível pensar em uma política para os parklets que não seja de parceria com as empresas privadas, porém, neste caso, o poder público ficaria com os custos e com a responsabilidade de manutenção. Outros parklets que já existiram em Goiânia foram retirados justamente pela dificuldade da manutenção e também pelo vandalismo e furtos que ocorriam nas estruturas.
Infraestrutura
O arquiteto e integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), David Finotti, pontua que um dos benefícios gerados por parklets é que, ao tomar o espaço de vaga de estacionamento (o que não deixa muitas pessoas contentes), ele estimula o uso de alternativas sustentáveis de mobilidade urbana. Além disso, ele torna o ambiente mais agradável e mais convidativo para passeios a pé, de bicicleta e outros meios.
“Porém, é preciso ter educação e usar conscientemente. Uma das grandes críticas aos parklets é que eles são usados para algazarras no período noturno, o que perturba os moradores. Além disso, é preciso cuidar bem do espaço, como evitar deixar sujeira ou não destruir o mobiliário. Como é uma ideia relativamente nova, as regras para uso desses espaços ainda estão em fase de aperfeiçoamento”, afirma Finotti.
Segundo o arquiteto, além de mudar o cenário urbano e funcionar como área de lazer, os parklets, quando alocados nas proximidades de restaurantes ou bares, tendem a aumentar as vendas. “Esse é um fato que contribui para que seja cada vez mais fácil encontrar um parklet pela cidade. Assim, com vários benefícios, a ideia dos parklets agrada um número cada vez maior de pessoas e é uma interferência benéfica na paisagem urbana”, pontua.
Como funciona
O parklet é uma iniciativa da administração municipal que é realizada por empresas privadas, por pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado. Os interessados devem procurar a Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer (Setel) com projeto de instalação (que apresente os elementos descritos no decreto) e protocolar o pedido. Depois da aprovação da Setel o responsável ficará autorizado a instalar o equipamento e terá a licença de uso por três anos.
Significado
O Parklet, neologismo em inglês criado a partir de trocadilho envolvendo as palavras parking, estacionar, e parks, parques; além de possibilitar a criação de um novo cenário para as ruas, estimula processos participativos, incentiva o transporte não motorizado e aumenta a oferta de espaços públicos da Capital.
A regulamentação da Prefeitura de Goiânia estabelece que esses espaços, geridos pela iniciativa privada, tenham placas que atestem o caráter público e que informem sobre vedação à utilização exclusiva deles, inclusive pelo mantenedor do Parklet. O poder público municipal também proíbe, de forma expressa, atividades comerciais dentro desses locais.
Correlata
A origem dos parklets pelo mundo
Mesmo que o século XXI seja a era tecnológica, nos possibilitando falar com muitas pessoas por dia sem sair de casa, necessitamos cada vez mais de convivência e contato com as pessoas e com a cidade que existe fora da tela do celular. Para promover o uso do espaço público de qualidade e para reunir as pessoas nas ruas das cidades, estimulando a troca de ideias e o debate sobre a prioridade de carros e pessoas, surgem os Parklets.
A iniciativa que deu origem a esse formato que conhecemos atualmente começou em 2003, em São Francisco nos Estados Unidos, e foi chamada de Parking Day. O objetivo era simples: Juntar as pessoas na vaga que um carro ocupava durante um dia para debater sobre o espaço dos carros e também de espaços que fossem dedicados para as pessoas. A partir desses encontros, o movimento foi ganhando força com o número de adeptos aumentando, até que em 2010, um escritório de Arquitetura de San Francisco criou o primeiro Parklet, utilizando a vaga de estacionamento de dois carros.
Esses locais também podem ser chamados de “mini praças”, podendo ser constituídos por vegetação, bancos, mesas e cadeiras, palcos, locais para guardar bicicletas e mais outros elementos pensados por quem fez o projeto. Utilizando a rua, que originalmente é o espaço dos carros, os Parklets invertem a lógica de prioridade para os automóveis, pensando mais na relação das pessoas com as cidades, do que dos carros com as pessoas.
Além disso, esses locais também estimulam a prática da leitura, a convivência entre pais e filhos em comunidade, as rodas de conversa, ou até parar para comer um lanche, fazer reuniões, e por aí vai as infinitas possibilidades ao ar livre. Algumas áreas são destinadas para o descanso dos pedestres ou ciclistas para que possam parar e tomar água durante o trajeto dos passeios pela cidade.São Paulo foi quem implantou no Brasil os Parklets, isso em 2013. Quando foram implantados, a população começou a questionar sobre os espaços públicos disponíveis, levando a prefeitura da cidade a regulamentar esses espaços no ano seguinte. No site da prefeitura de São Paulo, é possível ler os critérios urbanísticos para escolher os locais de implantação do Parklets.