Vítimas de assédio e de tentativa de dopagem em carros de aplicativo relatam experiência
Fontes escutadas pelo jornal O Hoje relatam o sentimento comum de vulnerabilidade e medo
Nos últimos meses, mulheres vêm relatando o aumento do assédio em carros de aplicativo, mas agora com outra denúncia atrelada: a tentativa de dopagem durante a corrida, o chamado “Golpe do Cheiro”. Vítimas ouvidas pelo jornal O Hoje relataram as duas situações sofridas recentemente: tanto o assédio, quanto a tentativa de golpe, em ambos os casos afirmaram terem se sentindo vulneráveis.
Maria, nome fictício dado à vítima que prefere não ser identificada na reportagem, contou ter sido assediada duas vezes dentro de carros de aplicativo. Durante o relato, a jovem relata o medo sentido durante os episódios. “Me senti totalmente vulnerável, é uma sensação horrível você saber que está passando pela situação e não poder fazer nada pois está dentro do carro de um estranho em movimento”. Em seguida, ressaltou que sentiu medo e raiva “ao mesmo tempo”.
Segundo a vítima, ela tentou sair do carro, uma vez que já havia chegado ao destino, mas que o motorista tentava impedir que ela descesse. “Na primeira vez eu tentei sair do carro, pois já havia chegado ao destino, mas o motorista ficou tentando puxar assunto para que eu não descesse. A segunda eu tentei agir com naturalidade pois o carro estava em movimento no meio de uma rodovia à noite. O que eu podia fazer era tentar fingir que não estava percebendo”, afirma.
Após a situação, Maria (nome fictício) conta que, desde então, se sente insegura para andar pelo aplicativo e que evita solicitar o serviço à noite. “Principalmente quando você pega motorista à noite, você começa a perceber que ele está indo para alguns caminhos mais desertos. Às vezes ele não está tentando nada, mas só por estar em um caminho diferente, já sente aquele medo de estar ali. Meio que a gente tenta se proteger dessas situações”.
A jovem não prestou denúncias em delegacia, apenas contatou a empresa de carros por aplicativo, a empresa por sua vez, afirmou que lamentava o ocorrido e que tomaria “medidas” contra a situação, sem deixar claro quais seriam.
Além do assédio, de acordo com a delegada chefe da Delegacia da Mulher, Ana Scarpelli de Andrade, existem notícias de relatos de passageiros de transporte privado, especialmente nas mídias sociais sobre o “Golpe do Cheiro”, que consiste na tentativa de dopagem do cliente por meio de um gás que é soltado no carro. Segundo a delegada chefe, em Goiás, é recomendado que o cidadão comunique o mais rápido possível qualquer situação em que a pessoa se sinta em situação de vulnerabilidade.
Conforme relato ouvido pelo O Hoje, a sensação sentida por Júlia (nome fictício), ao passar pela tentativa de dopagem, foi de que iria desmaiar. Ao relatar a situação, ela conta que sentiu um cheiro forte e uma pressão na cabeça, “como se estivesse sendo esmagada pelos lados e pela frente”, ressaltando ainda que a visão ficou turva e que ficou com falta de ar.
Diante da situação, Júlia (nome fictício) conta que a primeira reação que teve foi abrir a janela para tentar respirar, mas que a ação não adiantou. “Quando percebi que não tava adiantando e eu iria desmaiar, falei para o motorista parar o carro porque eu iria vomitar, mesmo que eu não fosse de fato vomitar, eu precisava que ele parasse o carro e meu pai me ensinou isso: sempre que eu estiver em um carro e quiser sair por não me sentir segura, eu falar que vou vomitar, porque o motorista nunca vai querer que alguém vomite no carro dele”.
De acordo com a vítima, ele parou o carro e ela saiu. Em seguida conta que, por sorte, conseguiu pedir ajuda para duas pessoas que a deram água e uma cadeira para ela se sentar até melhorar.
Júlia (nome fictício), conta que, assim como Maria (nome fictício), não teve coragem de ir à delegacia, afirmando que não tinha como provar o que aconteceu, além de ter medo de que o homem fosse “atrás” dela. Entretanto, afirmou que alertou aos amigos e compartilhou os relatos nas redes sociais para que alcançassem o máximo de mulheres.
Os efeitos deixados na jovem foram crise de pânico e afastamento do trabalho. “Eu já estava passando por uma situação de transtorno depressivo e tinha acabado de começar o tratamento com psiquiatra. O episódio do aplicativo foi um tsunami no copo d’água, me levou a ter crises mais intensas e frequentes, insônia, transtorno alimentar e muito medo. Faz quase um mês e meio e ainda não consigo pegar carro de aplicativo ou táxi sozinha”, conta.
A delegada Ana Scarpelli recomenda que, para uma viagem cautelosa, o passageiro “deve conferir antes do ingresso no veículo se os dados da placa e foto do motorista coincidem com o carro e a pessoa que o está conduzindo”, além disso, cita os mecanismos de segurança disponibilizados pelos aplicativos, como por exemplo, compartilhar as viagens e tempo real e as chamadas de emergência.