Em 10 anos, renda média do trabalhador cresceu apenas para o agro
Dados indicam que rendimento da população ocupada foi estimado em R$ 1.690 em atividades que envolvem o setor agro
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) aponta que, em uma década, a renda média do trabalho no Brasil só cresceu para o setor que envolve agropecuária. Segundo os dados, no segundo trimestre de 2022, o rendimento médio real da população ocupada foi orçado em R$ 1.690 na atividade de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, valor 12,7% superior ao de igual período de 2013, que foi estimado em R$ 1.500.
A Pnad Contínua analisou ainda outras dez atividades e todas mostraram relativa estabilidade ou queda na renda. Vale ressaltar que a pesquisa é divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e contempla o mercado de trabalho tanto formal quanto informal, ou seja, retrata desde empregos com carteira assinada e Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) até “bicos populares”.
Entre as atividades pesquisadas pelo IBGE, a maior queda do rendimento foi registrada por alojamento e alimentação. No segundo trimestre deste ano, a renda do setor foi estimada em R$ 1.713, equivalente a uma perda de 14% se comparado ao mesmo intervalo de 2013. Apesar de apresentar crescimento, o rendimento médio da agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi o segundo menor entre os pesquisados, superando apenas o de serviços domésticos.
Segundo o economista Vitor Hugo Miro, professor do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC), a variação positiva da renda no campo está associada principalmente à valorização das commodities agrícolas na pandemia, sobretudo de grãos como milho e soja, que refletiram diretamente no mercado de trabalho.
Força do agro em Goiás
Goiás é um dos principais estados do agronegócio brasileiro, sendo um contribuinte importante para o número registrado pela Pnad. De acordo com o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Leonardo Machado, o Estado goiano é o terceiro maior produtor de grãos, o segundo maior rebanho bovino e o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país. “Internamente, o setor é fundamental para a geração de renda, emprego e para a qualidade de vida das famílias da maioria das cidades do nosso estado. O agronegócio, como um todo, é responsável por mais de 70% do PIB do nosso estado e por 78% de toda nossa receita com as exportações”, explica.
Entretanto, o coordenador entende que o crescimento de qualquer setor está relacionado com a sua competitividade, que tem caracterizado o agronegócio brasileiro e goiano. “Ela está relacionada com o avanço tecnológico no seu sistema de produção, baseado na sua produtividade. Do lado da demanda, temos visto cada vez mais um crescimento nas compras por commodities agrícolas, principalmente da China. Tudo isso favorece o crescimento e o maior desenvolvimento de nosso agronegócio”.
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Tecnologia
A observação também é comum ao professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Agro (FGV Agro), Felippe Serigati, que afirma que a implementação da tecnologia tornou o setor mais dinâmico e, consequentemente, mais produtivo.
“Houve uma combinação. Do lado da oferta, temos um setor que foi se sofisticando e contratando mão de obra mais qualificada. E, do outro, o país se deparou nos últimos anos com uma demanda aquecida, em que a China responde por uma fração importante, resultando em um mercado de trabalho mais aquecido, com uma remuneração maior”, afirma.
Dentre as tecnologias implantadas, Leonardo afirma que há aquelas de construção e outras de defesa da produtividade. Para construção, o coordenador institucional afirma que está relacionado a sementes de melhor qualidade genética e a biotecnologia que reflete em um maior potencial produtivo. Em relação à proteção da produtividade, cita os defensivos agrícolas, produtos que impedem ataque de pragas e doenças nas lavouras. Além disso, o especialista cita a tecnologia em nutrição de plantas, que contribuem para o avanço da produtividade.
Com os avanços, o rendimento médio em Goiás pode ser baseado no valor bruto da produção agropecuária, portanto toda a renda que o setor produz deve ser considerada. O IFAG apresenta que, em 2022, o setor produtivo rural deverá gerar um Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$ 111 bilhões.
Conforme a média de todas as atividades pesquisadas, a renda do trabalho principal totalizou R$ 2.575 no segundo trimestre de 2022, o menor nível para o período de abril a junho desde 2012, quando a série foi iniciada. A baixa observada é de aproximadamente 2,5% frente ao segundo trimestre de 2013, que registrou R$ 2.667.
Com a pandemia, as atividades mais dependentes do contato direto com clientes foram abaladas em decorrência de medidas protetivas, intensificada pela inflação que derrubou os salários em termos reais, mas a renda já sinalizava dificuldades para avançar devido a uma série de problemas que atingiram a economia brasileira antes mesmo da chegada da Covid-19.