Após um ano de cirurgia, gêmeas siameses retornam a Goiânia para revisão
Laura e Laís passaram por uma série de exames no Hecad
Após um ano e sete meses da cirurgia de separação, as gêmeas siamesas Laura Silva Mendes e Laís Silva Mendes retornaram a Goiânia para passarem por uma revisão no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), na manhã de segunda-feira (29/08). Elas compareceram a uma consulta com o cirurgião pediátrico Zacharias Calil, e a revisão incluiu uma série de exames e avaliações, principalmente em Laís, que sofreu complicações pós-cirúrgicas. As crianças estão internadas na Casa de Apoio da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), no Setor Coimbra.
A cirurgia, realizada no dia 26 de janeiro do ano passado, durou 17 horas. Laura foi a primeira sair da sala de cirurgia, após 15 horas de procedimento, e Laís foi liberada duas horas depois, ambas sendo encaminhadas para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. Para o procedimento, foram necessários aproximadamente 30 profissionais. As gêmeas eram unidas pela parte intestinal, bexiga, ureteres, genitália e a bacia.
Segundo o Dr. Calil, após a avaliação clínica desta segunda-feira, Laís e Laura apresentaram evolução cognitiva e motora ao nível de crianças comuns, mesmo que a primeira ainda apresenta algumas limitações. “A Laís, por ter sofrido intercorrências graves nos primeiros dias pós-cirúrgicos, terá de passar por uma tomografia e avaliações na parte óssea e de aparelho urinário, a fim de detectar que tipo de correção terá de ser feita”, explica.
Separação complexa
O médico ainda lembrou que a separação das gêmeas siamesas foi uma das mais complexas entre as 21 desse tipo que ele e a equipe já fizeram, justamente pelo fato de as duas compartilhavam o fígado, intestinos grosso e delgado, aparelho urinário e outros. No pós-cirúrgico, Laís teve um período conturbado com graves intercorrências, sendo necessário passar por três cirurgias de urgência, além de ter sofrido uma parada cardíaca de quase 20 minutos.
Por Calil, a criança foi considerada “um exemplo de quem luta pela vida”. Atualmente, Laís e Laura estão com 3 anos de idade e foram trazidas à Goiânia pela mãe, Viviane Silva, e pela tia, Lina Silva.
Devido às complicações sofridas por Laís, o desenvolvimento das duas ainda é diferente. Laura anda e fala normalmente, enquanto Laís segue desenvolvendo a fala e ainda não consegue caminhar em decorrência de anomalia nos pés, que terá que passar por correção definida após a avaliação completa de um especialista na área.
Retorno
De acordo com Calil, o acompanhamento está sendo feito por ele mesmo e foram solicitados vários exames, inclusive tomografia computadorizada, que possibilita a análise do abdômen e da parte óssea da bacia. “Elas devem fazer esse acompanhamento, já tem um ano e meio, então era o momento ideal. Temos que acompanhar para ver como está essa situação e se programar se for alguma cirurgia de reconstituição daqui a seis meses”.
A bateria de exames ainda incluiu uma visita para exame físico, avaliação das cicatrizes, de como está o funcionamento do intestino, dos rins e da bexiga, devido a derivações urinárias feitas. Após a avaliação, o médico afirma que a sensação de ver a boa evolução das crianças é satisfatória. “Foi um sucesso que engrandece muito a medicina, principalmente a medicina de Goiás, e também de toda a equipe médica porque, na realidade, não sou eu que faço o procedimento isoladamente, mas tudo isso é mérito de uma equipe que vem trabalhando desde 1999 em conjunto e isso é muito importante para que a gente possa ter um resultado tão eficaz como esse”, diz.
Calil ainda ressalta que o sucesso do procedimento foi uma vitória grande, principalmente por ter sido em um hospital público, com procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “É uma situação muito emocionante e a gente fica orgulhoso de ver essas crianças, após um ano e meio de separação, numa situação saudável, sem nenhuma complicação até o momento e tendo uma vida bem independente uma da outra, porque, apesar de que estavam unidas, a mente de cada uma é bem diferente do que pensaria em um só conjunto”, finaliza.