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domingo, 22 de dezembro de 2024
Opinião

Demissão humanizada não é mito, muito menos ação sem planejamento

Richard Uchoa é CEO de empresa de educação corporativa digital reconhecida por implementar estratégias inclusivas no trabalho

Postado em 27 de setembro de 2022 por Redação

Richard Uchoa

“Faça do meu jeito ou procure outro emprego.” Essa é a frase que milhares de chefes falaram para os seus colaboradores este ano. Um simples “tchau”, que não leva absolutamente nenhuma consideração pelo funcionário. Não à toa, a onda de demissões em massa que está acontecendo nas startups tem feito muitas pessoas usarem o LinkedIn para denunciar a forma que foram desligadas das suas companhias. Essa situação mostra o óbvio: demitir alguém é um processo delicado e não pode ser feito criando traumas e desrespeitando indivíduos.

Tem uma frase conhecida de Carl Jung que pode até parecer romântica para um procedimento demissional, porém serve como uma das principais dicas para os gestores: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Ou seja, não existe demissão sem planejamento e, nesse sentido, o cuidado maior é sobre se preparar emocionalmente para respeitar quem está na sua frente. Fortes emoções podem surgir nessas situações e um bom líder precisa ter tranquilidade para ouvir, ponderar, contornar e ser respeitoso.

Por isso, tanto o gestor quanto a empresa, como um todo, precisam estar seguros sobre a decisão, porque se há um padrão em demissões desastrosas é a falta de clareza. Algumas simples perguntas podem resolver esse dilema: qual o prejuízo e o ganho que essa ação trará para a marca, a área e a pessoa? Qual é o momento em que os ganhos são mais favoráveis em todas as perspectivas e o que você pode fazer para assegurar que seja assim? Tendo as respostas, os líderes do grupo podem evitar surpresas e colocar em prática algumas ações que garantirão um processo demissional bem feito.

Uma delas é dar os devidos feedbacks aos envolvidos para que entendam os motivos dessa movimentação. Isso assegura que a saúde emocional e financeira do demissionário seja preservada, além da própria reputação da instituição. No fundo, medidas como essa e quase todas tomadas em um cenário desses envolvem uma questão fundamental que é mais uma das maneiras de buscar uma demissão humanizada: a comunicação.

Ora, como dar uma notícia ruim senão cuidando do modo como ela é repassada? Não há segredo nesse raciocínio, por isso o respeito em demitir um colaborador já começa com o canal usado para o desligamento, que deve preservar a imagem das pessoas. Isso sem falar que esse não é um momento para “esquecer as coisas”. Ou seja, o gestor e o RH devem enfatizar como aquele funcionário contribuiu enquanto esteve ali e possui atributos que vão recolocá-lo no mercado de trabalho. 

Aliás, fechar portas com batidas e sem olhar para trás nunca funcionou. Tentar seguir a relação com o colaborador demitido pode ajudar em novas oportunidades no futuro, tanto para a companhia como para o funcionário. Por essa razão, ignorar o que o trabalhador tem a dizer não é nada inteligente (ou educado). Uma boa conversa garante que ele tenha todas as informações sobre seus direitos e políticas, além de dar a certeza que todas as equipes e pessoas impactadas diretamente pelas demissões têm a mesma informação sobre o movimento.

Vale ressaltar aos gestores “espertinhos” que a distância emocional em um escritório físico pode ser maior do que em home office. Portanto, as funções remotas que se espalharam nos últimos anos não são motivos para a falta de conexão entre o grupo. A transparência entre o colaborador e o líder cria confiança, que, por fim, elimina a famosa “conversa para boi dormir”. Dessa forma, vale frisar que investir em treinamentos de liderança nunca é demais, assim como em rituais de comunicação, como dailys (reuniões diárias entre equipes que duram 15 minutos para fazer um alinhamento rápido).

Todos esses fatores mostram que a demissão humanizada não é um conto de fadas. Ela existe, é essencial para a reputação de qualquer empresa e, mais do que tudo, deixa o ambiente corporativo mais claro e com menos segredos. Assim, quando acontece, é um sinal de que a marca trabalhou com aquele colaborador todas as possibilidades de treinamento, desenvolvimento e coaching enquanto dava feedbacks durante esse período. Ou seja, é uma ação que é necessária, não uma atitude descabida de lógica. E, mesmo não tendo outra saída, ninguém vai ser desrespeitado por isso.

Richard Uchoa é CEO de empresa de educação corporativa digital reconhecida por implementar estratégias inclusivas no trabalho

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