Parcela de endividamento bate recorde e chega a 80% dos consumidores
A alta concentrou-se entre as famílias com até 10 salários mínimos
Por Vinicius Marques
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), revelou pela primeira vez na história que a proporção de endividados entre os consumidores de menor renda ultrapassou a marca de 80%. Entre agosto e setembro, a alta da contratação de dívidas concentrou-se entre as famílias com até 10 salários mínimos de rendimentos mensais com mais 0,4%. No grupo de famílias com maior renda, a proporção de endividados manteve-se estável no mês, mas cresceu mais em um ano do que entre as famílias consideradas mais pobres. +7 pontos percentuais e + 5 pontos percentuais, respectivamente.
Aumentou muito o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa).
Essa é a terceira vez consecutiva que há aumento da dívida e em setembro alcançou 79,3% do total de lares no País. No entanto, a alta da proporção de endividados desacelerou na passagem mensal, com incremento de 0,3 pontos percentuais, o menor desde abril deste ano. Em relação a setembro do ano passado, a proporção de endividados também desacelerou, com aumento de 5,3 pontos percentuais, a menor taxa desde julho de 2021.
A pesquisa ainda mostra que o endividamento avançou 0,9% entre as mulheres, de agosto para setembro, enquanto caiu 0,1% entre os homens. No intervalo de um ano, as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens sendo mais 5,9% a mais de dívidas contratadas pelas mulheres enquanto os homens contrataram 5,1%, principalmente no cartão de crédito e no cheque especial, as duas modalidades em que houve crescimento da proporção de mulheres endividadas.
A Peic orienta os empresários do comércio de bens, serviços e turismo que utilizam o crédito como ferramenta estratégica, uma vez que permite o acompanhamento do perfil de endividamento do consumidor, com informações sobre o nível de comprometimento da renda do consumidor com dívidas, contas e dívidas em atraso, e sua percepção em relação à capacidade de pagamento.
Hélia Gonçalves, gerente administrativa e financeira da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), afirma que a alta da inadimplência pode prejudicar muitos os lojistas. “Principalmente nesse fim de ano, com a aproximação da Black Friday, copa do mundo e das compras de fim de ano, a inadimplência pode prejudicar muito os lojistas que tem como base o parcelamento. A alta dos juros é o principal fator que tem endividado as famílias e consequentemente trazendo prejuízos ao comércio”.
No entanto, a melhora progressiva do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda mais robustas e a queda da inflação geral nos últimos meses refletem-se positivamente na renda disponível, mas o orçamento das famílias de menor renda segue apertado com um nível de endividamento alto, bem como os juros elevados, que pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento.
“Nos 2 últimos meses tivemos uma melhora gradual do número de empregados que trouxe um fôlego no bolso dos consumidores, apesar da queda da inflação ainda não chegar nos alimentos e medicamentos e principalmente na taxa de juros cobrados no cartão de crédito pelos bancos” Afirma Hélia.
A CDL busca todos os anos reduzir a inadimplência com o Feirão Limpa Nome e segundo a gerente administrativa da instituição é uma chance para o consumidor se regularizar. “Eu acredito que aquele consumidor que está inadimplente possa efetuar uma regularização das dívidas, cortando o que pode ser cortado, ficando somente com os gastos necessários. Estamos em um cenário que pede cautela do consumidor”, conclui Helia.
Varejo
Nas dívidas diretas com o varejo, o volume de endividados nos carnês de loja vem crescendo desde maio deste ano, e o total de famílias com dívidas na modalidade alcançou 19,4% em setembro, mantendo a estabilidade em relação a agosto.
No recorte por faixa de renda, no entanto, a proporção de endividados nos carnês entre os com até 10 salários mínimos de rendimentos atingiu o maior volume desde fevereiro, totalizando 20,1%, um acréscimo de 0,3%, ante agosto, revelando que estes consumidores estão na dinâmica de diversificação do endividamento e buscando alternativas de crédito mais baratas, com a elevação dos juros. Quando se olha o filme dos últimos cinco anos, o avanço do crédito operado pelo varejo tem resultado no maior volume de endividados de forma geral no Brasil.
A boa notícia é que a proporção dos que afirmam não ter condições de pagar as dívidas já atrasadas e que permanecerão inadimplentes teve ligeira queda entre agosto e setembro (de 10,8% para 10,7%). A redução foi apontada entre as famílias com até 10 salários mínimos (de 13% para 12,9%), mas o indicador para esse grupo ainda está 0,7% acima da proporção registrada em setembro do ano passado.