Forças de segurança goianas iniciam desbloqueio de rodovias
A desarticulação dos protestos, que oscilam entre pontos de ocupação e/ou interdição ao longo de rodovias estaduais e federais, atende a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Por Franscisco Costa e Sabrina Vilela
As forças de segurança de Goiás, lideradas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO), iniciaram o plano para desobstruir rodovias que foram bloqueadas por apoiadores do presidente Bolsonaro indignados com o resultado das urnas do último domingo (30). De acordo com a Polícia Rodoviária Federal de Goiás (PRF-GO), até o início da noite de ontem havia ao menos quatro rodovias interditadas parcialmente, entre elas a BR 364 Km 196 – Jataí/GO, BR 050, km 282 – Catalão, BR 060 km 381 – Rio Verde e BR 364 km 03 – São Simão.
A desarticulação dos protestos, que oscilam entre pontos de ocupação e/ou interdição ao longo de rodovias estaduais e federais, atende a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Morais, encaminhada à Procuradoria Geral do Estado de Goiás (PGE-GO).
O plano de operação e seus desdobramentos foram discutidos junto ao Ministério Público Estadual (MPE-GO) e ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e se deu primeiro pelas rodovias estaduais, onde foram registrados 19 pontos de ocupação. Em todos eles há, desde segunda-feira (31), forças policiais monitorando os protestos e garantindo a passagem de veículos de passageiros e de carga, total ou em situações de emergência.
“O Governo de Goiás esclarece que a operação busca cumprir a decisão judicial de forma pacífica, priorizando o diálogo com os manifestantes. Ao longo desta segunda-feira (31/10) e da manhã desta terça-feira, diversos pontos de interdição foram desbloqueados pelas forças policiais com base no entendimento entre as partes. Tão logo o governo de Goiás foi notificado da decisão do STF, a PGE emitiu uma Orientação de Cumprimento de Decisão Judicial (OCD) para que as para que as forças de segurança do Estado atendessem a determinação”, diz o governo por meio de nota.
Protesto
Ao menos nove rodovias federais foram fechadas parcialmente ou integralmente. Anápolis, Terezópolis, Jataí, Catalão, Formosa, Águas Lindas de Goiás, Cristalina, Quirinópolis, Rio Verde, Chapadão do Céu, Santa Helena de Goiás e Bonfinópolis também registraram inícios de fechamentos ou fechamentos parciais.
O Supremo Tribunal Federal (STF), formou maioria para determinar a liberação das vias. Desta forma, impedir a passagem, neste momento, é crime. A corte também fixou multa de R$ 100 mil por hora de descumprimento, a partir desta terça. Esta deverá ser aplicada diretamente ao diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que poderá ser preso em flagrante e afastado por desobediência se não cumprir a determinação. Para pessoa física o valor é de R$ 10 mil.
Em Bonfinópolis, há 37 km de Goiânia, o bloqueio teve início na noite da última segunda-feira e permaneceu até o dia seguinte. O vereador da cidade, Vitor Ricardo afirma que na entrada do município na GO-010 as manifestações tiveram início às 21h de segunda-feira,31. “De início era permitida a passagem de carros pequenos, mas o trânsito foi fechado totalmente em seguida”.
As aulas da cidade foram suspensas porque professores, coordenadores e agentes educacionais ficaram impedidos de passar na GO-010. Em nota a Secretaria Municipal de Educação de Bonfinópolis afirmou o seguinte: “Pedimos a compreensão de todos até que a situação de protesto seja normalizada e por esse motivo, agora no período matutino, apenas as aulas da Unidade Escolar Hermínio Lemes estão dispensadas. As demais unidades seguem as aulas normalmente. E os estudantes da zona rural estão seguros na unidade, com alimentação e aos cuidados da direção e dos professores que residem no município”.
Ainda na manhã desta terça-feira, alguns trechos começaram a ser liberados pela Polícia Rodoviária Federal. São eles: KM 516 da BR-153, KM 299 da BR 364, KM 516 da BR-153, KM 699 da BR-153, KM 303 da BR 060 e KM 380 da BR 060.
Vice-prefeito de Jussara convoca ato
Vice-prefeito de Jussara, Adriano Dias convocou a população para participar de atos no trevo da cidade, nesta terça-feira (1º). Ele chamou os moradores a fazer uma “manifestação pacífica” no local (BR-070 e GO-324) pelo descontentamento com o resultado das eleições.
“Estamos no trevo para fazer um convite para vocês, eleitores de Bolsonaro, que teve quase 60% [dos votos] em Jussara. Fazer uma manifestação pacífica, sem arruação, sem bagunça, aqui no trevo”, diz em vídeo que circula nas redes sociais.
Bolsonaro quebra silêncio
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se pronunciou pela primeira vez nesta terça-feira (1º/11), após perder o segundo turno das eleições. O presidente falou por dois minutos onde agradeceu os votos recebidos e criticou ocupações de rodovias.
Bolsonaro afirmou que “manifestações pacíficas são bem-vindas”. “Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, disse o presidente.
“Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição”, continuou.
Bolsonaro ficou quase dois dias em silêncio após sua derrota no pleito ser confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Lula (PT) foi eleito com 50,90% dos votos contra 49,10% do atual mandatário. Lula obteve 60,3 milhões dos votos válidos contra 58,2 milhões de Bolsonaro.
Após a fala do presidente, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), afirmou em entrevista coletiva que Bolsonaro “autorizou” o início do processo de transição entre seu governo e o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).