Desmonte de bibliotecas acende novo alerta contra Rogério Cruz
Medida foi divulgada um dia antes do prefeito viajar a Israel, longe do debate público sobre o tema
O prefeito Rogério Cruz (Republicanos) se licencia do cargo a partir desta quarta-feira (9) para uma viagem a Israel, que dura até 18 próximo. A licença, em caráter particular, provocou críticas de vereadores durante a sessão que autorizou que o presidente da Casa, Romário Policarpo (Patriota), ocupasse o lugar de Cruz, conforme prevê a lei porque não existe vice devido à morte de Maguito Vilela. Tudo isso em meio a mais um acaso da gestão do prefeito que, ao tentar arranjar vagas para crianças, desmonta bibliotecas.
O assunto foi colocado em pauta enquanto a imprensa repercutia a informação de que pelo menos 50 bibliotecas de escolas públicas de Goiânia devem ser fechadas pela Secretaria Municipal de Educação (SME). As dependências de lugares que deveriam ser destinados à leitura e prática de escrita vão se tornar salas de aula de crianças remanejadas de Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs).
Dois professores ouvidos pelo jornal O Hoje – e que pediram anonimato – reclamam da atitude da gestão de Rogério. “A gente usava o lugar para colocar a criança em interação com o livro. A leitura do livro físico, um ambiente de brincar com as palavras”, diz uma. Outra se diz arrasada. “A gente nunca sabe o que pode piorar na educação básica. Ainda bem que as coisas passam. Seria preciso priorizar a leitura, nem que construíssem novas salas”, comentou.
A justificativa da Secretaria Municipal de Educação é a de que vão aumentar em 2 mil vagas para crianças de até dois anos em Cmeis e outras 3 mil na educação infantil. O assunto ainda não foi pauta de debates na Câmara, mas deve servir, na ausência de Cruz – blindado pela distância física do posto – como mais um motivo de cobrança, sobretudo por vereadores da oposição.
Sem repercussão generalizada sobre a polêmica da vez, vereadores comentaram a viagem do prefeito Rogério Cruz. Como de costume, o líder do gestor, o vereador Anselmo Pereira, disse: “[O prefeito] trará mais energia e sabedoria para Goiânia”. Na oposição, a conversa foi outra. Chateado com a falta de avanço sobre as emendas impositivas, o recém-empossado Paulo Magalhães (União Brasil) disparou: “Rogério viaja no momento de graves problemas administrativos vividos pela cidade e sua população”.
Ainda sem recuperar a demissão de indicados, Luciula do Recanto (PSD), emendou, dizendo que a capital tem “uma administração morta, sem objetivos claros, com abandono da saúde e da educação”. E, sem pestanejar, soltou: “Na verdade o prefeito está fugindo para não enfrentar o caos administrativo”.
A principal voz de oposição a Cruz, o petista Mauro Rubem (PT) soltou o verbo: “ele [Cruz] sai da cidade, mas antes manda fechar 50 bibliotecas. Não sou contra sua ida a Israel.” Antes de finalizar, foi no fígado: “Rogério Cruz é um desastre no que diz respeito à política cultural e educacional”.
Como não poderia ser diferente, o vereador Mauro Rubem recorreu, por meio de representação, ao Ministério Público Estadual (MP-GO) e ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) contra o gestor da capital e o secretário de Educação, Wellington Bessa, pelo fechamento de 50 bibliotecas da rede municipal de ensino.
O vereador de oposição sabe que é necessário criar novas turmas, mas, para ele, deveria ocorrer por meio de construção, não de desmonte. Mauro ainda lembra que, dois anos e meio depois do fim do prazo legal para implantação das bibliotecas nas escolas, determinando que elas devem funcionar em espaço físico exclusivo, a “SME viola a legislação, em retrocesso que precariza e prejudica o aprendizado de crianças e adolescentes, além de causar possível perda para o patrimônio público”.