Goiânia possui 27 áreas de risco com famílias abrigadas
A situação é mais devastadora para famílias que moram em áreas de risco perto de grandes centros
As fortes chuvas deste final de ano colocaram Goiás em alerta laranja. De acordo com fontes da área meteorológica, a previsão é que chova entre 30 e 100 milímetros por dia. Além disso, os goianos podem esperar ventos de até 100 quilômetros por hora. A previsão é ainda pior quando consideradas as áreas de risco dos grandes centros, como ocorre em Goiânia, em bairros como a Vila Fernandes e Gentil Meireles, que sofrem com alagamentos nesta época do ano.
No período de chuva o acompanhamento é mais frequente e as equipes ficam em alerta 24 horas por dia. De acordo com o Capitão do Comando de Operações da Defesa Civil do Estado de Goiás, Jonathan Alves Soares, o grande número de chuvas traz mais riscos, visto que o solo pode estar encharcado dando margem para que aconteçam alagamentos rapidamente.
“O local que mais temos áreas de risco catalogadas são Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis. Normalmente próximo dos grandes centros urbanos é onde temos as maiores zonas de risco”, destacou o titular.
Com a lista dos locais onde ocorre problema, os agentes de Defesa Civil acionam as outras pastas municipais para realização de serviços. Um exemplo são as bocas de lobo comumente entupidas com lixo. “A Comurg e a Secretaria de Infraestrutura são acionadas para retirada do entulho, remoção para um local apropriado e, se necessário, refazer os equipamentos, como as tampas, por exemplo.” Ele acrescenta que todas as pastas municipais podem ser acionadas, a depender da necessidade.
Algumas áreas sofrem com problemas historicamente. É o caso da Avenida Feira de Santana, no Parque Amazonas. Quando chove forte, a parte baixa da rua alaga a ponto de impedir a passagem segura de veículos. A orientação de Soares é para que os motoristas nunca se arrisquem. “Não se aventurar é a principal orientação. Pode ser que dê certo, mas pode ser perigoso e acabar em tragédia.”
Uma das moradoras dessas regiões é a doméstica Leodenice Lima, que vive na Vila Roriz há 20 anos. Segundo ela, todos os anos os moradores precisam lidar com os alagamentos na época de chuva. “Enche de água, não tem como passar. As mães não conseguem levar os filhos para a creche. Enche tudo de água. Não tem como, quando está chovendo”, contou.
O açougueiro Wanderlan de Moraes, que também vive na região, relatou que já precisou sair de casa de canoa. “Transporte bom, né? A gente, para ir trabalhar, tinha vezes que, cedinho, precisava sair de canoa”, afirmou. A professora de educação física Pollune de Souza contou que uma barreira construída pela Prefeitura de Goiânia ajudou a evitar os alagamentos no bairro. “Parece que agora não vem mais, só enche ali”, disse.
Acidentes na última década
Em outubro de 2011, uma mulher que estava em uma moto foi arrastada neste local durante uma forte chuva. O corpo dela foi encontrado no dia seguinte. O local, depois disso, recebeu uma boca de leão, que é uma estrutura maior que uma boca de lobo, mas que tem grades de aço para permitir a passagem da água.
Em 2013, um casal de motociclistas foi arrastado pela enxurrada dia 12 de dezembro. Eles haviam saído para comprar leite para o filho de três meses. Na tentativa de atravessar a ponte na Viela Nonato Mota, no Setor Pedro Ludovico, foram levados. O corpo do condutor da moto foi encontrado na manhã do dia seguinte. O corpo da mulher nunca foi encontrado. “O recomendado é acionar a Defesa Civil quando a água estiver subindo. As equipes podem ajudar, orientar e encaminhar moradores para áreas seguras”, diz o coordenador operacional.
Áreas de risco
Goiânia tem 27 áreas de risco mapeadas pela Defesa Civil. Entre os riscos, existe inundação, alagamento, deslizamento, processo erosivo e enchentes. Soares explica que o acompanhamento se dá porque a vida das pessoas pode estar em perigo. “As áreas são dinâmicas por conta das ações de mitigação por meio de obras. Mas mesmo quando uma situação está controlada, outras podem aparecer”, explica.
As principais áreas estão na Vila Roriz, Vila Fernandes e Vila São José, onde há risco de inundação e alagamento. Na Vila Bandeirantes, o risco é de deslizamento de solo. No Jardim Novo Mundo, o que preocupa é um processo erosivo severo. No Parque Tremendão existe um risco identificado recentemente de deslizamento de solo. No Setor Norte Ferroviário, há áreas propensas a enchentes e inundação.
“Quando recebemos um alerta seja do Inmet ou da Cimehgo, automaticamente encaminhamos um alerta via canais digitais. Além disso, encaminhamos um responsável para preparar a população local a ficar ciente que caso haja algum acidente, como chuvas intensas, todos estejam pré-prontos para resgate e retirada”, conclui.
Precipitação nos próximos dias
Há uma semana Goiânia tem vivido dias de céu fechado e chuvas intensas. A partir desta quarta-feira (16), a previsão é de que o tempo fique mais estável, mas a tendência é de que novo corredor de umidade proporcione mais chuva. A explicação é do gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim.
“Por volta do dia 18, nova frente fria deve proporcionar encontro a canalização desse novo corredor. As chuvas devem voltar com o formato do verão, de pancadas rápidas.” Mas ele alerta que o verão também tem a característica de ter mudanças repentinas no clima, por isso, é preciso manter o alerta por conta de chuvas fortes e mesmo de precipitações demoradas.
Muito se deve ao comprometimento e as falhas da própria população, que descartam os lixos e resíduos em regiões inapropriadas, o que favorece os riscos de alagamentos e inundações, pois esses materiais inservíveis obstruem as galerias pluviais que deveriam fazer a drenagem da enxurrada.
“No momento de fortes tempestades, os motoristas devem reduzir a velocidade para evitar aquaplanagem, e principalmente não dirigir sob condições de enxurrada forte, para evitar que o veículo seja levado para dentro de córregos próximos de pontes”, orienta André.
Hoje temos várias placas de identificação das áreas de alagamento pelas cidades, e o certo é obedecê-las. “O ideal é não se abrigar debaixo de árvores; no caso de enxurrada não atravessar e procurar um abrigo seguro para aguardar que o nível da água abaixe, pois, a força ou algum objeto pode derrubar e levar a pessoa”, completa o capitão.
O contato pode ser feito pelo CBMGO 193, ou pela Defesa Civil pelo 199. Caso seja necessária, as equipes serão encaminhadas para articular e realizar o resgate de possíveis acidentes que ocorrem devido às chuvas.