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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Vida melhor

Cresce a procura por imigração para o exterior entre goianos

Dificuldades com idioma e cultura são superados ao longo da convivência em outros países

Postado em 1 de dezembro de 2022 por Alexandre Paes

A polarização política no Brasil tem deixado muita gente insegura quanto ao futuro e, como consequência, aumentado o número de pessoas que consideram a hipótese de viver em outro País. Como o Brasil recebeu portugueses, espanhóis, holandeses, italianos, alemães, poloneses, entre outros povos durante sua fase de colonização, muitos brasileiros querem lançar mão dessa ascendência e mudar-se para países onde esperam ter mais direitos e melhor qualidade de vida.

Houve um aumento na busca por dupla cidadania, seja motivada por melhores oportunidades de trabalho, qualificação profissional, seja para oferecer formação educacional para os filhos. Até 2020, existiam 4,2 milhões de brasileiros vivendo no exterior, segundo o Ministério das Relações Exteriores, sendo 1,9 milhão nos Estados Unidos e 1,3 milhão em países da Europa. Em 10 anos, o crescimento da comunidade brasileira no exterior foi de 35%.

Danyele Silva Costa, 33, vendeu seu carro para ir em busca de uma vida financeira estabilizada no exterior, com o objetivo de levar suas filhas e futuramente retornar ao Brasil.“Eu havia acabado de me divorciar, e como diz o ditado, estava entre a cruz e a espada. Me planejei, pensei por muito tempo, e só vi esperança em mudar de vida vindo para Europa”, argumentou a brasileira.

Dificuldades

Só que viver e aprender os modos de outra cultura também se torna um desafio, principalmente quando não se sabe o idioma do país. “A comunicação é essencial para que a gente consiga se virar e arrumar um emprego. Tinha alguns conhecidos aqui na Bélgica, então não fiquei totalmente desamparada. A cada dia que se passa e com a convivência entre os nativos, aprendemos rápido, e ficamos mais tranquilos em relação à troca de culturas e idiomas”, apontou Danyele.

A goiana ressalta ainda que todo processo de planejamento para a mudança durou menos de 2 meses, e que contou com a ajuda de uma advogada, para deixar suas contas bancárias organizadas, pois caso tivesse que voltar de imediato ao Brasil, ela teria maior estabilidade com os ganhos financeiros que fosse tendo no exterior.

“Mudar sua realidade no escuro é muito arriscado. Obviamente que tenho as despesas e compromissos com gastos mensais aqui onde moro, mas também tenho um fundo de reserva em real para caso precise retornar ao meu país de origem”, destacou.

Procura por cidadania

A advogada e integrante do Conselho da Academia Brasileira de Direito Internacional, Mariane Stival, notou que a procura por informações sobre cidadania e vistos para outros países dobrou nos últimos três meses em Goiás.  “Normalmente atendemos de 10 a 15 casos por mês, mas nos últimos 2 meses, esses números subiram para 20 a 25 casos”, explica ela, que atua na área do Direito Internacional há 18 anos. 

Países europeus como Portugal, França, Itália, Espanha e Alemanha são os destinos mais procurados pelos brasileiros. Mariane  percebe que a busca por cidadania é maior que a busca por vistos, o que indica que os interessados buscam uma maior segurança para uma possível mudança de País.

“Atualmente, muitos países estão desburocratizando os processos de imigração após a pandemia, pois a população está em déficit vegetativo e ainda sofrem perdas significativas com a Covid-19. Na Itália, Espanha e em Portugal, aconteceram mudanças recentes que facilitam a imigração”, comentou. 

Diferentemente do visto, quem consegue a cidadania em um outro país, passa a ter os mesmos direitos civis e políticos daqueles que nasceram lá. “É importante salientar que essa segunda cidadania não anula a de origem, no caso a de brasileiro”, esclarece Mariane.

Visto e autorização de residência 

Além da cidadania, é possível viver em um País por meio da obtenção do visto e autorização de residência. O visto, explica a advogada, é uma autorização condicional concedida por um país a um estrangeiro, permitindo-lhe entrar, permanecer dentro ou sair desse país, durante um tempo estimado.

“Esse movimento nos últimos anos é inédito e, de fato, representa a maior diáspora da história brasileira para os nossos padrões, um país que, historicamente, sempre recebeu imigrantes”, avalia Pedro Brites, professor de Relações Internacionais.

Existe também a autorização de residência, que vai além do visto, pois, neste caso, estrangeiros que preencham os requisitos legais possuem o objetivo de residir no país de forma legal. “Mesmo nessas solicitações, que são mais simples, o que notamos é que as pessoas querem buscar formas legais de estarem nesses países”, diz.

Wanessa Braga, 25, saiu de Senador Canedo em 2019 rumo a Bruxelas. Como sua mãe já era residente no país há cerca de 8 anos, a estudante não teve problemas em conseguir a documentação legal. “Quando tinha 5 anos de idade, morei aqui por 3 anos. Meus pais voltaram pro Brasil, se divorciaram e só após a maioridade resolvi me mudar e morar com a minha mãe novamente na Bélgica”, contou.

Recentemente a brasileira também conquistou a cidadania espanhola, pois após se casar teve seu filho na Espanha, e por lei, acabou adquirindo o reconhecimento maternal. “Foi um processo complexo pois eu já sou brasileira naturalizada, e possuo documento belga. Mas nada que os documentos não resolvessem essa burocracia europeia”, relata.

Melhores condições de vida

Ela conta ainda que pretende morar lá por bons anos, ou até a formação educacional de seu filho. “A infraestrutura do Brasil não é ruim, porém no exterior a qualidade de vida, educação e segurança são bem melhores. Hoje minha visão de mãe é proteger e oportunizar que meu pequeno consiga ter o que eu não tive. E nada melhor que ficar aqui, já que tenho meu apartamento e meu emprego me esperando com todo reconhecimento que a lei exige”, finalizou Wanessa.

A goiana Suellen Reis, de 36 anos, deixou o calor de Porangatu para morar em Trondheim, na gelada Noruega. Casada com um cidadão meio americano, meio norueguês, ela foi embora do Brasil no fim de 2016. Hoje, cria a filha de 6 anos nos fiordes do outro lado do mundo e se vê cada vez mais acompanhada de conterrâneos. 

“Aqui também tem muitos brasileiros chegando, e sempre encontramos uma família ou outra que também mora por aqui mas tem parentes no Brasil”. De acordo com os dados do Itamaraty, a Noruega abriga 10.858 brasileiros. Somam-se a eles os 323 que vivem na Islândia, também atendidos pela Embaixada do Brasil em Oslo.

A goiana acaba de lançar uma loja de comércio virtual e estuda o complicado idioma norueguês. Para o futuro, quer fazer faculdade, mas não tem planos de voltar à terra natal. “Os primeiros meses foram muito difíceis, mas agora estou bem. Não penso em voltar, não. Minha vida aqui é bem melhor, independentemente da saudade daquele calorzinho do Goiás”, argumenta Suellen.

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