Um família com onze pessoas, em uma rotina de trabalho com reciclagem de materiais, mas sem condições financeiras suficientes para o próprio sustento. Essa é a realidade vivida por Ana Izabel Inês Monteiro, de 16 anos, que juntou forças para buscar ajuda aos pais e os oito irmãos.

A jovem vive com sua família em Aragoiânia, cidade com cerca de 10.500 habitantes que fica a 35 km de distância da capital. Ao O Hoje, Izabel conta que sua rotina se divide entre os estudos e o trabalho.

“Eu, meu pai e minha mãe trabalhamos com reciclagem. Os outros dois irmãos trabalham em lava-jato, mas eles só ganham 10% do valor recebido, o que não dá quase nada. Os menores ficam em casa com uma outra irmã de 19 anos cuidando deles”, comentou.

Pela manhã, ela cursa o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual José Candido Rosa, região central da cidade. A tarde, ajuda os pais a separar garrafas PET, latinhas de alumínio e peças de ferro que são recolhidos semanalmente para a indústria da reciclagem.

O trabalho é árduo, mas tem pouco retorno. Um quilo de garrafas plásticas rende apenas 20 centavos, enquanto o mesmo peso para materiais de ferro são 25. As latinhas de alumínio tem um rendimento um pouco maior, R$ 4,50 por quilo.

Para ajudar a complementar a renda, Izabel conta que a família recebe o benefício do Auxílio Brasil (ou Bolsa Família). O valor mensal, porém, não é o suficiente para arcar com todos os custos. “Não temos nossa casa própria. Então precisamos pagar o aluguel, depois a energia e a água. O que sobra é pouco para minha mãe comprar comida”, relata Izabel. “Eu ainda tento fazer bicos, tipo faxina, cuidar de crianças. Tudo que vier eu faço”, reforça.

A mãe, Luzia Inês Rodrigues, de 49 anos, enfrenta diferentes problemas de saúde, o que dificulta a lida do dia-a-dia. Segundo Izabel, ela sofre de pressão e colesterol alto, pedra na vesícula, além de depressão. O pai, Antônio Luiz Alves Monteiro, de 60 anos, tem doenças na coluna que lhe causam dores durante o trabalho de separação de materiais.

Leia também: A solidariedade como principal aliada das famílias carentes em meio à pandemia

Dificuldades e despedida

Ao longo da entrevista, Izabel contou que o mês de dezembro é especialmente difícil para a família, principalmente para a mãe Luzia. É que há quase 4 anos, em 10 de dezembro de 2018, ela perdia um dos filhos devido a uma pneumonia aguda e eficiência respiratória.

Geovane Monteiro tinha 27 anos e a partida dele agravou o estado de saúde física e mental de Luzia. “O mundo dela caiu. Passou um tempo ela começou a passar muito mal e vivia no hospital. Ontem mesmo [terça-feira, 6/12] ela teve uma crise depressiva e ansiosa e foi parar no hospital de novo”, diz Izabel.

O preconceito e o desrespeito sofrido também são grandes. “Recebemos muitas críticas por sermos recicladores e vivermos de ajuda de pessoas”, relata.

Leia também: Voluntários distribuem mais de 5 toneladas de doações em Goiânia

Esperança de um novo futuro

Os desafios e as memórias tristes não desanimam Izabel e sua família. A jovem conta que gosta de ajudar os pais na reciclagem, mas seu desejo é trabalhar com moda e arte. Ela sonha em se formar e poder conquistar uma vida melhor para sua família.

“Quero muito poder ajudar, não só a minha mãe e o meu pai, mas também meus irmãos pequenos. Eu nunca me importo com o meu aniversário, nem com receber presentes. Nunca exijo nada da minha mãe, porque sei que não temos muita condição”, relata Izabel.

Falando em aniversário, a jovem conta à reportagem que um de seus principais objetivos é poder dar à mãe uma festa para celebrar sua data de nascimento. Luzia completará 50 anos no dia 13 de dezembro. “Queria fazer ela sorrir mais. Ela nunca teve nem se quer uma festa ou um bolo para comemorar”, lamenta a adolescente, que completa dizendo ter esperança de um dia morar em uma casa própria.

Os irmãos também buscam melhores oportunidades de trabalho, em especial no setor de construção civil.

Como ajudar

Izabel pede qualquer tipo de ajuda, seja doação de alimentos e roupas ou encaminhamento para oportunidades de trabalho. As doações podem ser feitas via PIX, pelo telefone (62) 99933-0941 (Antônio Luiz Alves Monteiro), ou presencialmente, pelo endereço: Rua Laura Cândida de Lima, Quadra 13, Lote 16, Residencial Sônia Rodrigues, Aragoiânia. Mais informações pelo telefone (62) 99419-1951 (Ana Izabel Monteiro).