Venda de medicamentos para insônia cresce 676% no Brasil
Diversos relatos têm viralizado nas redes sociais de pessoas que tomaram zolpidem e precisaram lidar com seus efeitos adversos
No período de 2012 a 2021, o número de caixas do medicamento zolpidem, indicado para insônia, comercializadas no Brasil subiu 676%. Os números são da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e foram divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Apenas no primeiro semestre de 2022, os brasileiros compraram 10,6 milhões de caixas do remédio, o que representa mais da metade (55,6%) do total de 2021.
A média de caixas vendidas por mês em 2020 foi de 1,94 milhão; em 2021, 1,58 milhão; e, no primeiro semestre deste ano, 1,76 milhão, o segundo maior número já registrado. Para efeito de comparação, a média mensal de caixas dispensadas nas farmácias entre 2012 e 2021 foi de 902,5 mil.
O zolpidem é um remédio da classe dos hipnóticos e tem a venda autorizada no Brasil desde 2007, mas começou a se popularizar a partir de 2011, ano em que 1,7 milhão de caixas haviam sido vendidas. No ano seguinte, houve uma alta de 41,7%, chegando a 2,4 milhões. Porém, o grande salto ocorreu de 2016 para 2017, com aumento de 55,2%, atingindo a marca de 10,5 milhões de caixas.
Recentemente, diversos relatos têm viralizado nas redes sociais de pessoas que tomaram zolpidem e precisaram lidar com seus efeitos adversos, como alucinações, agitação, pesadelos e depressão. Para o neurologista Wanderley Cerqueira de Lima, o medicamento está na moda.
“Não podemos esquecer que o remédio tem os seus efeitos colaterais. O mais importante é ter a avaliação de um profissional que saiba identificar qual o distúrbio do sono do paciente”, destaca o especialista.
Conforme o médico, a insônia é apenas um dos muitos distúrbios que atrapalham o sono. Outras coisas podem impedir uma noite bem dormida, como comorbidades e maus hábitos noturnos.
Graças ao seu efeito quase imediato, o uso do Zolpidem pode fazer o paciente ignorar esses outros fatores que causam a má qualidade do sono – é o caso de distúrbios como a ansiedade. “O remédio não é uma bengala. Nós temos que saber a causa [da insônia] para eliminá-la”, reforça o neurologista.
Ansiedade e pandemia impulsionaram vendas
A pandemia aumentou uma tendência que acontecia desde 2011, já que daquele ano até 2018, as vendas do zolpidem cresceram 560%. “A dinâmica que a pandemia trouxe e ainda traz mexeu com o sono das pessoas. As causas vão desde isolamento social, modificação da rotina, medo, incertezas, até aumento do trabalho, aumento do uso de telas, televisão, no celular, o que piora a condição do sono. Além do aumento do consumo de álcool, o que atrapalha a qualidade do sono são bebidas estimulantes para conseguir produzir cada vez mais”, explica a psicóloga Ksady Sousa.
As medicações têm efeitos colaterais que vão desde sonolência, que é o mais comum, até alteração de consciência, memória, dependência e tolerância, que é quando a medicação deixa de ser suficiente e a pessoa vai aumentando cada vez mais o uso para dormir. O uso sem acompanhamento médico pode agravar os problemas.
Os especialistas deixam claro que os remédios para dormir são aconselháveis em casos de distúrbio do sono, mas é necessário um acompanhamento de perto de profissionais que vão controlar os efeitos colaterais, a quantidade de medicamentos e o tempo de uso necessário.
“Muitas dessas insônias, não são bem insônias. Elas estão relacionadas, por exemplo, ao distúrbio do ritmo do sono. A ideia de a pessoa economizar àquela hora que ela pegava o transporte para dormir uma hora a mais, ela tende a dormir e acordar mais tarde. Só que, quando ela quer voltar a dormir na hora certa, tem dificuldade para iniciar o sono, por exemplo”, alerta a psicóloga.
Os médicos sugerem que o tratamento mais indicado para cuidar dos problemas do sono é a terapia cognitiva comportamental, que vai descobrir as causas da insônia. “Essa terapia inclui medidas que são adequadas para que a pessoa funcione bem durante o dia e dormia melhor à noite. Vai aprender a lidar com a angústia de não dormir, o que fazer se acordar à noite e, o mais importante, aprender a regular o sono”, diz Ksady.