Proibido no Rio e SP, transporte de APP por moto caí nas graças do goiano
Mototaxistas cobram da prefeitura regulamentação do serviço e alegam que concorrência é desleal
Lorena Morais, 26, é enfermeira e constantemente utiliza os serviços do Uber Motos para ir e voltar do trabalho. Ela conta que facilita muito a vida, por não ter que andar de ônibus e acordar tão cedo, mas que mesmo assim tem medo e pede para os motociclistas irem sempre mais devagar com ela. “O valor da viagem é muito mais barata que a do carro e só de não ter que andar de ônibus, facilita muito a minha vida. Evita chegar estressada no trabalho, evitar assédios e atrasos também”, conta a enfermeira.
O serviço de Uber Motos na cidade de Goiânia começou em abril de 2021, segundo a própria Uber, o serviço também passou a ser disponibilizado pela 99, principal concorrente da Uber no Brasil.
Preocupação com segurança
Uma grande preocupação para o oferecimento desse serviço é a segurança, uma vez que o número de acidentes de motos é cada vez mais alto e 70% das mortes em acidentes, são de pilotos ou passageiros de motos.
Há pelo menos três anos, Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito (DICT) constata que os motociclistas são maioria entre as mortes em acidentes. No ano de 2021, por exemplo, houve recorde de óbitos de motociclistas: 128.
A DICT explicou que não analisa quais as causas da morte de cada vítima de trânsito. Portanto, não é possível afirmar qual tipo de acidente mais causa a morte de motociclistas. Mesmo assim, a delegada Maíra Barcelos, enfatizou que é constante a presença de motociclistas envolvidos em acidentes.
“O número alto de acidentes de trânsito envolvendo motociclistas já é uma constante. Não consigo dizer se é por queda, por colisão frontal ou qual a causa específica. Mas, motociclistas estão envolvidos em 58% dos acidentes com morte“, afirma a delegada.
Segundo Maíra, muitas pessoas abandonaram os carros e passaram a usar as motocicletas, em razão do custo ser menor. Outras, as usaram como instrumento de trabalho, como para entregas de delivery.
Segundo a DICT, os motociclistas se destacam como as principais vítimas, com 90 registros até Outubro de 2022. Ou seja, 58% de todas as mortes no trânsito são de condutores e passageiros de motocicletas. Já as mortes envolvendo acidentes de carro ficam em segundo lugar com 28 óbitos, também até outubro do último ano, seguido por atropelamentos (27) e acidentes envolvendo o transporte público (10). Os últimos dados com o total de mortes em 2022 ainda estão sendo contabilizados para divulgação.
Moto taxistas
Os mototaxistas cobram da Prefeitura regulamentação e fiscalização dos motociclistas.O preço é mais atrativo para os consumidores e atrai motoristas que estavam com dificuldade para manter o trabalho com carro.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Goiás (Sindimoto), José Carlos Pinto, já houve redução nas corridas e a categoria, que tem regulamentação municipal e precisa cumprir regras , teme o crescimento do Uber Moto.
“Não são legalizados e tem o agravante da qualificação. Para este transporte, tem de ter treinamento e não basta apenas ter moto. É uma concorrência desleal, porque o aplicativo tem força muito grande. Chegamos a ter 1,4 mil trabalhadores cadastrados e hoje estamos na faixa de 400 amarelinhos”, comenta.
Uber motos proibida em São Paulo
A Uber havia anunciado, na última quinta-feira (5), o início da oferta de viagens com motocicleta para passageiros nas cidades de São Paulo, por um preço menor do que o do UberX. A Prefeitura, porém, suspendeu o serviço e montou grupo de trabalho para discutir a liberação com a empresa e especialistas, de acordo com Ricardo Nunes.O prefeito argumentou que o trânsito da capital movimenta 7 milhões de veículos e, só em dezembro de 2020, fez 6,5 vítimas a cada 100 mil habitantes — a meta é reduzir esse número para 4,5 a cada 100 mil, disse. Ele também destacou que há 68 mil pacientes na fila de espera por cirurgia ortopédica na cidade, muitos deles por causa de acidente com moto.
“As questões relacionadas a acidentes de motos levam a situações gravíssimas, inclusive óbitos. Então, não é possível que a cidade de São Paulo vai poder assistir a uma empresa que é importante para a cidade, sediada aqui, fazer alguma atividade sem que nos apresente qual é o plano, quantas pessoas podem ser transportadas, se tem segurança, se vai ter o capacete”, disse.
Nunes, contudo, frisou que está disposto a dialogar e disse acreditar que a empresa “deve ter tido algum estudo consistente que demonstre que não vai gerar um monte de óbitos” com a atividade.
Prefeitura de Goiânia
A prefeitura de Goiânia até o fim da reportagem não havia se manifestado sobre como tem acompanhado o serviço da Uber Moto na cidade, mas os mototaxistas reclamam e cobram fiscalização e regulamentação da atividade.
Nota da Uber
Perguntada sobre os números de motoqueiros ou de viagens da Uber, a mesma disse não comentar sobre esses dados com a imprensa e informou apenas sobre a segurança.
Todas as viagens feitas com a Uber – incluindo agora também o Uber Moto – incluem, entre outras medidas, a checagem de antecedentes dos parceiros e dão aos usuários a possibilidade de compartilhar com seus contatos a placa, a identificação do condutor e sua localização no mapa, em tempo real.
Uma série de recursos de segurança são oferecidos pela plataforma da Uber em todas as viagens, como seguro para acidentes pessoais tanto para usuários quanto para parceiros.
A Uber possui uma série de vídeos educativos desenvolvidos em parceria com especialistas em segurança viária, além de um podcast para os usuários e motociclistas que usam o Uber Moto para se deslocar nas cidades onde a modalidade está disponível, estimulando a direção segura e o respeito às leis de trânsito. A segurança de todos é o principal tema discutido que visa diminuir os riscos de qualquer tipo de acidente. Os conteúdos são enviados para usuários e parceiros que utilizam a modalidade e também podem ser acessados por motoristas a partir do aplicativo Uber Driver.