Retorno às aulas reforça importância da saúde mental nas escolas
De acordo com especialistas, as redes de ensino devem promover suporte psicológico qualificado e ambiente acolhedor ao estudante
Todo ano é a mesma coisa: pais e mães, juntos dos filhos, saem à compra de livros, cadernos, lápis e borracha. É o início de mais um ano letivo. No entanto, além da lista de materiais escolares, a saúde mental é outro fator importante para a rotina em sala de aula e o aprendizado dos estudantes da rede pública e privada do estado.
Neste mês, o movimento Janeiro Branco, que iniciou-se em 2014, pretende levar reflexões sobre a importância de cultivar a saúde mental em diversos âmbitos da sociedade. Essa proposta do movimento converge com a visão da psicóloga Samara Takahashi, para quem “a saúde mental é uma questão que precisa ser olhada individualmente, coletivamente e institucionalmente”.
Além disso, alunos e professores enfrentaram, nos últimos dois anos, um cenário de incertezas imposto pela pandemia e o ensino remoto. Contudo, diante do quadro de “normalidade” em 2023, segundo o presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE-GO) Flávio Castro, os agravos na saúde mental de discentes e professores em razão da pandemia de Covid-19, como ansiedade e depressão, precisam ser debatidos nas escolas.
Cenário Estadual
De acordo com o presidente do CEE-GO, diante da flexibilização das medidas restritivas e o retorno presencial das aulas, o primeiro semestre de 2022 foi desafiador, uma vez que houve o aumento de casos de ansiedade e depressão e a equipe de professores estava sobrecarregada. Ele ainda recorda que o nível das avaliações decaiu nesse período, mas observou a “psicologia escolar” mais atuante ao longo do ano passado.
Já no 2º semestre, Flávio observou que buscou-se contornar o déficit na educação causado pela pandemia – isto é, retomar conteúdos escolares em atraso. Para o ano de 2023, o presidente do conselho aposta em um clima de normalidade, embora ainda haja registros dos casos de Covid-19 e a cobertura vacinal para as crianças esteja em andamento.
Prejuízos
Takashi enumerou uma série de problemas que acometeram estudantes no contexto de confinamento – que vão desde quadros ansiosos a casos de depressão. A psicóloga ainda acrescenta que “a ausência do convívio impacta a formação e a manutenção de vínculos interpessoais e também prejudica o compartilhamento de experiências e as possibilidades de afeto no contexto institucional de educação”.
A especialista explica “que essa volta é benéfica para o desenvolvimento emocional das pessoas”. Entretanto, o período de reclusão causou “adoecimento” em alguns indivíduos, que enfrentaram dificuldades no retorno presencial: “essa volta divide opiniões, no sentido de que tem gente que melhorou bastante a sua condição de saúde mental, mas algumas pessoas passaram também a desenvolver outros transtornos relacionados ao contato e à higiene”, salienta.
Por outro lado, Takahashi aponta que, por meio da socialização, se constrói a identidade, o repertório de comportamentos coletivos e a possibilidade de expressão do indivíduo. Ela também enfatiza: “se a gente for pensar na complexidade do nosso comportamento, o isolamento não é uma condição interessante de nenhuma forma”.
No Ambiente Escolar
“A escola deve tornar-se um espaço mais humanizado”, afirma Railton Nascimento, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro Goiás). Na visão de Railton, o diálogo e a diversidade são fundamentais para que “o espaço escolar não seja frio, meramente tecnicista, mas seja um espaço para que a humanidade se desenvolva” e garanta a saúde mental de alunos e professores.
Em consonância ao presidente da Sinpro, a psicóloga alerta sobre a urgência de reavaliar a “lógica de funcionamento” da instituição de ensino: “se é uma lógica adoecedora, como melhorar isso, como fazer dali um espaço que não adoeça as pessoas que ali convivem”.
Samara também aconselha sobre o preparo das escolas na abordagem dos estudantes em casos de ansiedade e outros distúrbios psíquicos com “espaços de acolhimento”, que contam com profissionais de saúde mental – psiquiatras, psicólogos e terapeutas. A especialista também aposta em campanhas de conscientização sobre saúde psicológica nas escolas e reforça que a informação compartilhada por profissionais qualificados é uma grande ferramenta.