Startup cria projeto para “ressucitar” ave extinta
Para cumprir o objetivo, a empresa já recebeu mais de US$ 150 milhões em financiamento
A Colossal Laboratories & Biosciences, uma startup sediada nos Estados Unidos, anunciou o lançamento de um projeto bastante ousado: ir o mais longe possível para replicar o Dodô (Raphus cucullatus), uma ave extinta há centenas de anos. Para cumprir o objetivo, a empresa já recebeu mais de US$ 150 milhões em financiamento.
Os dodôs foram pássaros que passaram alguns milhões de anos vivendo de maneira isolada nas ilhas tropicais de Maurício, na África Oriental. Nesse lugar, eles foram se adaptando ao longo do tempo para se tornarem um grupo de pássaros que não voava mais e vivia livre de predadores entre tartarugas e lagartos gigantes. Quando os humanos chegaram na região, o balanceamento natural ruiu e, ao poucos, esses pássaros sumiram do planeta.
Retirar da lista de animais extintos
A ideia de “deextinção” de uma espécie, ou ressurreição biológica, é um assunto bastante debatido pela ciência ao longo do tempo. Além dos dodôs, a Colossal Laboratories & Biosciences também tem planos de trazer os mamutes lansos e os tilacinos de volta à vida. Em 2022 uma equipe da Universidade da Califórnia, liderada pela professora Beth Shapiro, mapeou o genoma da ave extinta pela primeira vez na história.
A Universidade de Oxford, no Reino Unido, tentou mapear o genoma da ave, mas não obteve sucesso. Porém, um novo DNA bem preservado vindo da Dinamarca acabou trazendo resultados completamente diferentes. De qualquer forma, os pesquisadores acreditam que mesmo contendo o genoma completo ainda seria difícil trazer de volta o dodô, devido às dificuldades relacionadas à reprodução aviária.
Em uma entrevista, Beth Shapiro afirmou que o sonho permanece apesar das barreiras encontradas. Até agora, além de mapear o DNA, a equipe conseguiu identificar o parente mais próximo do dodô: o pombo-de-nicobar. Para as próximas etapas, será preciso estudar “o que torna o dodô um dodô?”. Após issom eles tentarão editar as células do pombo-de-nicobar para que pareçam com as do extindo pássaro.
Polêmicas científicas
O objetivo dos pesquisadores não é criar uma cópia exata do que era o dodô, mas sim uma versão alterada. Em sua fala, Shapiro disse que é “é impossível recriar uma cópia 100% idêntica de algo que se foi”. Desaparecido há mais de 300 anos, os dodôs eram enormes aves com asas inúteis — o que tornava essa espécie bastante única.
Já no meio científico, há quem acredite que os esforços feitos pela Colossal Biosciences para trazer animais extintos de volta à vida é necessário. Na imprensa internacional, a startup foi duramente criticada por não estar usando o dinheiro recebido para salvar espécies reais que estão em risco de extinção
“Tem gente que acha que porque você pode fazer algo, você deve, mas não sei a que propósito isso serve e se essa é realmente a melhor alocação de recursos. Devemos salvar as espécies que temos antes que elas sejam extintas”, disse o vice-diretor do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, Ewan Birney, ao The Guardian.
Apesar das preocupações, tudo indica que exista um amplo apoio ao trabalho do empreendimento da Colossal. Desde o seu lançamento, em 2021, a startup conseguiu arrecadar mais de US$ 225 milhões para seus projetos ambiciosos.