Goiás teve redução de 60% de área afetada por queimadas em três anos
Meses de agosto e setembro foram os menores casos de queimadas em 35 anos
A última vez que Alex Gomes viu, e combateu, um incêndio florestal foi em meados de novembro de 2023, há três meses. “Nós respondemos um incêndio florestal nível dois em novembro, foram dois dias de combate. É o segundo nível mais alto, acima disso é nível três quando já é uma grande queimada”, diz o Coordenador da Brigada de São Jorge com 7 anos de carreira.
Alex conta que a diminuição na quantidade dos focos de incêndio foi visível nos últimos dois anos, mesmo com a região da Chapada dos Veadeiros sendo atingida por queimadas na época da estiagem. “A redução foi clara, todos os anos temos incêndios florestais no período de seca, a vegetação não suporta esses incidentes. Mas esse ano de 2023 foi estranhamente tranquilo, apesar das altas temperaturas”, fala o coordenador.
A Brigada Voluntária é um importante recursos contra as queimadas florestais para as regiões mais afastadas do estado, gerando a autonomia a essas áreas e um tempo de resposta mais adiantado. Devido a natureza do trabalho, a brigada aceita apenas as pessoas treinadas por órgão públicos capacitados pelo o ICMBio e o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Geralmente, são escalados oito brigadistas para responder às ocorrências, de acordo com Alex, e a informação do local do foco de incêndio é transmitida e atualizada com imagens de satélite por entidades governamentais ou por terceiros para garantir a fluidez da comunicação. Com esse objetivo, os programas de monitoramento e combate às queimadas evoluíram nos anos passados, gerando a tão estranheza de Alex após uma época com poucos casos.
Um destes programas é o sistema Monitor de Queimadas da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que é fiscalizado pelo Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo). Um dos seus objetivos principais é a desburocratização da comunicação dos alertas de queimadas, garantindo uma informação rápida para membros e órgãos responsáveis pelo combate do incêndio florestais.
O programa está em funcionamento desde maio de 2022 e já possui resultados desde a sua idealização. Por informações pegas pela reportagem do O Hoje, a redução da área afetada pelas queimadas nos três anos passados é de pelo menos 60%, saindo de 602.018 em 2021 a 236.858 metros quadrados em 2023. Um número similar também foi observado na redução das ocorrências de focos de queimadas florestais também no mesmo período de tempo, de 6.020 ocorrências em 2021, antes do programa Monitor de Queimadas, para 3.160 casos.
Além disso, mostram uma inversão em alguns meses como foi o caso de agosto e setembro do ano de 2023, de acordo com a planilha obtida em primeira mão pelo Jornal, ambos os períodos tiveram poucos focos de queimada apesar de terem tido uma estiagem prolongada, além de recorde de temperatura altas por todo o estado pelo bloqueio atmosférico do El Niño. Segundo os dados, os dois meses tiveram apenas 488 e 651 casos, respectivamente, as menores quantidades de ocorrências nunca antes vistas há 35 anos.
Para André Amorim, idealizador do programa e gerente da Cimehgo, tais números são uma vitória para diversos aspectos do estado, não somente a nível ambiental, mas também para a saúde pública, por exemplo. “Esses resultados são muito importantes para a gente porque isso significa que estamos conseguindo evitar a perda da fauna e da flora, além disso, estamos reduzindo a emissão de poluentes da atmosfera como os gases do efeito estufa. Também, ao reduzir as cinzas, estamos contribuindo para uma melhor qualidade de vida e de saúde dos goianos”, diz André.
O software agrega entidades estaduais e agentes civis selecionados para receber os alertas atualizados, como o local e a severidade. Dentro do sistema há órgãos como a Defesa Civil Estadual, Corpo de Bombeiros Militar, Secretarias Municipais e entidades civis. Atualmente, o programa corresponde a 552 áreas monitoradas de diferentes municípios, 135 órgão e entidades estaduais e privadas e mais de 230 pessoas cadastradas no sistema.
Um dos principais efeitos que o André observa desde a criação do programa foi um aumento na tomada de atitudes e decisões que conseguiram diminuir tanto os focos de incêndio como a área afetada. “Goiás está na contramão do resto do país, mas no bom sentido porque estamos reduzindo as queimadas e os danos que ela traz para a nossa biodiversidade. Estamos também sendo mais ativos nas decisões contra os incêndios a partir desse sistema”.