A estratégia de Caiado de adentrar Nordeste, área de Lula
Governador se aproxima de veículos de imprensa e ganha simpatia, repetindo outras tentativas de emplacar candidatura ao Planalto, como deve ocorrer em 2026
Não é nenhuma novidade: o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) está caminhando a passos largos para uma candidatura presidencial em 2026. Aproveitando a fragilidade do pai do bolsonarismo, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) – que deve ficar inelegível até 2030 -, e por ter a fama de ser “direita raiz”, Caiado tem apoio de uma boa parcela do eleitorado para tentar o Planalto.
A pedra do meio do caminho, no entanto, tem nome, cor e partido forte no Nordeste: Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, sigla muito alinhada ao nordestino por defender pautas mais progressistas e sociais. Pautas de esquerda, como repetem-se por aí, maiormente com um tom de deboche, pejorativamente.
Caiado não é novato nesta proposta de correr o País em busca de votos contra Lula e, com isso, chegar ao cargo mais importante da República. Foi assim em 1989, quando, ainda um jovem político, menos conhecido do que nomes da elite política brasileira (Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), e Paulo Maluf). Venceu Collor que, não demorou muito, foi fritado pela imprensa e pelos caras pintadas.
Aquela campanha eleitoral deu fôlego político-eleitoral a Lula e a Caiado. Ambos, num antagonismo que se auto-alimentava, seguiram cada qual seu caminho. Recentemente, quando os dois aparecem abraçados durante um encontro, a gente lembrou que, agora, os dois agem com democracia, respeito e, acima de tudo, decência. Mas, provavelmente, vão ter de enfrentar, voto a voto, mais tempo no poder. No caso de Lula, quiçá, o quarto mandato presidencial – o que seria um fato histórico nunca antes registrado no Brasil.
Dois personagens inconfundíveis da política brasileira. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, o maior líder da esquerda brasileira, com fama mundial, presidente pela terceira vez depois de disputar e perder o pleito outras três vezes. Do outro lado, o primeiro nome do agro a ter dimensão política, Ronaldo Caiado, que foi deputado federal, senador e governador no segundo mandato.
Em 1989, Lula, como o candidato urbano, sob o domínio do discurso pelos direitos dos trabalhadores, sobretudo dos metalúrgicos, profissão que o levou à fábrica ainda jovem. Caiado, de família tradicional em Goiás, levava ao debate a defesa da propriedade rural.
Caiado sempre se deu bem em Goiás. Lugar do agro. O coração do agronegócio, como lembrou dias atrás um desses figurões que escrevem para um dos jornalões de São Paulo ao destacar que Lula não visitou o estado no primeiro ano do seu terceiro mandato presidencial. Caiado agora é governador. Segundo mandato. Foi deputado e senador. Eleito sob a alcunha de um homem osso duro de roer.
Como candidato a presidente, contudo, vai ter de mostrar o tamanho do seu empenho de, como o PT de Lula alardeia, trabalhar pelos mais pobres. Em Goiás, um programa conhecido, Mães de Goiás, leva auxílio a mulheres e seus filhos. Também dá um valor a estudantes da rede pública. É o argumento
Os frutos ele deverá colher no Nordeste, onde, mês a mês, tem aparecido com certa frequência em veículos de lá. O jornal com que tem mais assiduidade, o Folha de Pernambuco, chegou a estampar em sua capa, depois de visita de Caiado em agosto do ano passado, foto do governador em visita à sede do veículo, quando ele buscava apoio para brecar, pelo menos em parte, a tramitação da Reforma Tributária em Brasília.
E foi ao mesmo veículo que esta semana, antes de ele tirar licença médica, deu declarações durante entrevista a um famoso colunista de política: Magno Martins, radicado em Brasília. Em seu blog, o jornalista chegou a publicar um texto com um título bem sugestivo: “O fenômeno Ronaldo Caiado”.