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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Literatura Goiana

Trajetória literária de Jheferson Rosa das Neves

Do interior de Goiás para o mundo das palavras

Postado em 18 de janeiro de 2024 por Luana Avelar
Autor de ‘Avião de Papel’ e fundador da Lola Edições

Nascido em Santa Rosa de Goiás no dia 16 de maio de 1998, Jheferson Rosa das Neves é uma promessa brilhante no cenário literário brasileiro. Seu percurso como escritor teve início em 2016, quando mergulhou nas letras enquanto estudante do curso de licenciatura em Letras no Instituto Federal de Goiás (IFG).

“Coisa que nem todo mundo sabe é que não cheguei a concluir o curso de Letras, estive bem próximo de fazê-lo (7º período), mas abandonei. O ambiente acadêmico nunca me brilhou muito os olhos”, comentou o escritor. “Permaneci durante 5 anos no curso de Letras pelo IFG e estaria mentindo se dissesse que o curso não influenciou na minha caminhada, e escolha, de permanecer na literatura: lendo/ produzindo/ sendo e o que mais pudesse, nesse lugar da ficção”, conclui.

Coletivos

Em uma narrativa marcada por paixão e juventude, o escritor, fundador e ex-membro do Coletivo Fiasco, compartilha sua experiência que se entrelaça com o surgimento do grupo. “Sobre o Coletivo Fiasco, foi muito importante para mim, aconteceu mais ou menos no mesmo momento, entrei no IFG em 2016 e comecei no coletivo em 2017, pouco depois fui oficializado como um dos fundadores. Lembro com carinho dessa época. A paixão fervilhava no sol quente do centro-oeste, éramos tão jovens, era fácil ser poeta, fazer zines com qualquer versinho e sair distribuindo. Era divertido,” revela o escritor.

Em meio a recordações afetuosas, destaca-se o impacto dessas iniciativas coletivas na cena literária goiana. “Essas iniciativas coletivas me impulsionaram bastante no começo. Imagino que não só a mim, mas também muitos outros nomes dessa geração que nasceu na literatura goiana de 2015 a 2019 por aí,” ressalta.

O Coletivo Fiasco, uma plataforma para jovens talentos, foi um terreno fértil para o desenvolvimento artístico e literário. Contudo, a trajetória não foi isenta de desafios, como a pandemia que afetou o coletivo em 2021. “Em 2021 abandonei o coletivo, que já se encontrava parado, sentimos muito na pandemia.”

O escritor reflete sobre seu envolvimento com o Coletivo Goiânia Clandestina, destacando sua contribuição inicial para uma geração vibrante na literatura goiana. “Lembro muito bem de uma conversa com meu amigo Carlos Brandão (compositor e agitador cultural), em que ele dizia nunca ter visto uma geração tão potente em Goiás, desde Pio Vargas. Ainda acho que alguém vá escrever sobre isso,” compartilha o autor.

Ao abordar a temática do seu e-book “Dança comigo enquanto eles dormem,” lançado pelo selo Fiasco, o escritor revela sua participação integral no processo de edição, diagramação e direção de arte. “Como na época em que foi lançado eu ainda fazia parte da Fiasco, eu acabei assumindo todo o processo de edição, diagramação e direção de arte,” explica. O livro, considerado um trabalho transitório, marca uma transição na vida do autor, saindo do coletivo e fundando o selo literário “Lola.”

Com a publicação do e-book, o autor deixa sua marca na literatura, preparando-se para um novo capítulo com o projeto “Trote.” Uma jornada marcada por lembranças do Coletivo Fiasco, do Coletivo Goiânia Clandestina e do Coletivo e/ou, onde cada pedra no caminho deixa sua marca indelével na trajetória literária do escritor.

Avião de Papel

Em 2021, o escritor lançou ‘Avião de Papel’ pela editora Nega Lilu, um livro de poemas que captura a intensidade da adolescência e a solidão única aos 17 anos. Ele conta: “O especial do avião é o mesmo que há de especial no Dança e que também haverá no Trote, esse tempo congelado pela palavra”.

Ao ser questionado sobre a inspiração por trás do livro, o autor comparou seus poemas a uma fotografia do momento, destacando a juventude, a paisagem dos zines e a pureza presentes nos versos que constantemente se despedem do mundo.

Lola Edições

Fundar um selo literário pode ser um ato de experimentação artística, e foi exatamente assim que Jheferson fundou a Lola Edições, inicialmente batizado como ‘Lola Frita Lab’. “Pretendia experimentar os limites da palavra, em artes visuais, projetos de formação, publicações…”, compartilha. A metamorfose aconteceu, moldando-se ao longo dos anos para se tornar um selo literário atuante principalmente em publicações desde 2022.

A primeira coleção da Lola Edições surgiu a partir de autorias convidadas, um processo que revelou o espaço para a experimentação com a palavra. Os critérios de seleção, como destaca o fundador, são essencialmente focados no uso da palavra: “Se percebemos que um trabalho consegue retirar desse espaço algo de interessante, que toque, que faça sentido de alguma forma, que experimente novos caminhos, ou que reinvente o velho… provavelmente a seleção acontece”.

No entanto, está prestes a se reinventar para o ano atual, expandindo-se além da imagem de editora e consolidando-se como um verdadeiro selo literário. Além de suas publicações, o foco se ampliará para iniciativas formativas, como oficinas de escrita e editorial. O lançamento de um site com loja integrada e espaço para publicações diversas, junto com outros projetos artísticos, promete uma presença mais aberta a todos os interessados.

Quando questionado sobre a interligação entre sua formação em design e letras, o escritor compartilha um sonho recorrente: “Estou num ateliê pintando um quadro, mas todas as tintas são textos aleatórios.” Revela que escrever é uma parte intrínseca do processo de criação, onde as palavras se entrelaçam com a arte, resultando em um livro que é ao mesmo tempo uma tela indissociável.

Renascimento

Sobre seus planos futuros para sua carreira literária, ele destaca: “Sobre a minha carreira literária, em primeiro ato deste ano quero anunciar minha morte.” Ele compara esse anúncio ao silêncio de atender um telefone e ser surpreendido por um trote.

O autor confessa que o livro mais recente foi fortemente influenciado pelo tema do “Trote”, sendo o catalisador de sua autotransformação. Ao explorar as violências vividas ao longo de sua vida, Jheferson confidencia ter “se matado” diversas vezes durante o processo de escrita, buscando extrair beleza dessas experiências.

Ao finalizar essa jornada, Jheferson Rosa assume uma nova identidade: “Já sou o Rosa, isso não tem mais volta, mas também sou o Jheferson, filho da dona Maria e do seu Deusmar.” Agora assinando como Jheferson Rosa, o autor se prepara para lançar seu livro, ansioso por compartilhar sua (re)estreia literária com o mundo.

O escritor contou que seu trabalho já está inscrito em seleções de originais, prometendo novidades em breve. Este não é apenas um renascimento, mas uma afirmação de vida, um sopro, um choro, e, acima de tudo, um livro novo aguardando ansiosamente para ser apresentado ao público.

Em relação às suas múltiplas facetas como escritor, designer e estagiário, ele enfatiza a mistura constante, afirmando: “Sempre que tento ser qualquer coisa, acabo por ser escritor mais uma vez. A ficção é a única faceta que acredito, na literatura só a mentira é incontestável”.

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