Quando Valdemar Costa Neto abriu as portas do Partido Liberal (PL) para o projeto político-eleitoral de Jair Bolsonaro, mirando desarticular movimentos do Partido dos Trabalhadores (PT), a imprensa – de olho em tudo em Brasília – lembrou logo das relações da estrela vermelha do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, com Valdemar. 

E não era nenhuma novidade. Calado ante às falas cada vez mais fortes contra o lulopetismo, Valdemar, conhecido líder partidário, parecia estagnado com o gigantismo de Bolsonaro, mesmo depois de não reeleger-se, sobretudo quando tudo parecia caminhar a seu favor, com uma máquina trilionária, aparelhada, e, claro, o natural ranço de milhões de brasileiros ao PT, Lula e demais “esquerdistas comunistas”. 

Acostumado a embarcar em bases governistas, como qualquer partido do Centrão brasileiro, Valdemar Costa Neto até demorou dar algum sinal para Lula, ignorando a força raivosa dos parlamentares do próprio partido que estão intrinsecamente ligados aos ideários de Bolsonaro: eles de um lado e o PT bem longe. 

De qualquer forma, as falas de Valdemar causaram repercussão por todo canto em que vive um bolsonarista. Agora, o que não se sabe, é como tudo isso vai terminar. Sem mandato, Bolsonaro pode deixar o partido. Se sair, claro, perde o salário vultoso na legenda. São R$ 41,6 mil como presidente de honra. Perdem ele e a mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela ganha 41 mil por comandar o PL Mulher e por caminhar, com prestígio, em eventos pelo País. 

Por isso, é possível que, como o ex-juiz Sergio Moro, agora senador da República, deverá ficar calado frente a qualquer tratativo do PL com Lula. Moro condenou Lula e, atualmente, vê o seu partido, União Brasil, compondo o governo petista com três ministérios. 

As reações — raivosas — se espalharam pelo País, não causando, por outro lado, nenhum constrangimento a Valdemar Costa Neto, um dos políticos mais experientes da República. Ele sabe que, caso o bolsonarismo, atualmente sem a chance de lançar o grande líder a uma candidatura — Bolsonaro está inelegível até 2030 — vai perder espaço sobretudo se o partido não conseguir refletir a força do movimento de direita – que teve êxito em 2018 e 2022. 

A fala em questão foi dita por Valdemar dias atrás em uma entrevista. Ao que ele disse: “Bolsonaro não é uma pessoa igual a nós. Não tem comparação. O Lula é um camarada do povo. O Lula é completamente diferente do Bolsonaro. Completamente diferente, e é um fenômeno, porque chegar onde ele chegou. Ele foi bem no governo também, e elegeu a Dilma [Rousseff] depois. É completamente diferente o Lula do Bolsonaro”.

Bolsonaro reagiu: “Esta semana tive um problema sério, não vou falar com quem. ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 ali na esquina. Não vem”. 

O ex-chefe do Executivo também chegou a falar em “implosão” do partido após a fala de Costa Neto. Valdemar usou o X (antigo Twitter) para dizer que houve recorte da entrevista. “Estão me atacando usando uma fala minha sobre o Lula que está fora de contexto. A esses, deixo um recado: quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva.”