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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Wes Gama

O Caipira Futurista nas cores da arte urbana

Wes Gama encontrou nas ruas sua academia, tornando-se um artista formado pelo pulsar das cidades

Postado em 22 de janeiro de 2024 por Luana Avelar
Refletindo sobre o papel do artista na sociedade

Em Uruaçu, no interior de Goiás, as primeiras pinceladas de Wes Gama já denunciavam uma alma inquieta. A mudança para Goiânia em 1995 foi o palco onde seus primeiros rabiscos ganharam asas nos muros do Setor Coimbra. Aos 12 anos, sua jornada artística começava, deixando sua marca através da pixação e bombing, moldando o cenário urbano.

A semente de sua jornada artística foi plantada em Fortaleza, Ceará, no Réveillon de 1999 para 2000, conforme explicou Wes: “A família tinha parente lá, a gente foi passar o Réveillon em Fortaleza. E aí, na hora da virada, uns primos foram fazer uma pichação no lugar, eu vi, fui atrás e fiz minha primeira pichação”.

Ao retornar a Capital, sua visão sobre a arte urbana se expandiu: “Através daquilo, quando eu voltei para Goiânia, eu comecei a observar, parecia que tudo já existia e eu não sabia, e de fato era. Eu percebi que tinha gente que pintava. Naquele mesmo ano, eu já comecei a fazer os primeiros rabiscos e formar um primeiro grupo.”

A guinada em sua carreira ocorreu em 2003, quando teve a oportunidade de participar de um projeto especial em Goiânia. Wes explicou: “Teve um projeto quando o Pedro Wilson foi prefeito. No primeiro ano de prefeitura dele, teve uma pasta especial para assuntos da juventude que ficava ali no centro, e uma das pessoas que coordenavam esse espaço era o DJ Fox, o William dos Santos, e nessa época eles propuseram cursos na área do hip-hop, DJ. Breaker, Grafiteiro, MC, e aí lançaram uma propaganda na televisão, eu vi, corri lá, me inscrevi e fiz parte desse projeto”.

Esse projeto consolidou seu papel como observador da natureza e da vida rural, inspirando a concepção do ‘Caipira Futurista’. Wes compartilhou: “Essa ideia do Caipira Futurista é uma viagem, assim, de uma mescla do que eu tinha muito de informação e de vivência quando era criança, que eu ia pra roça”.

A dualidade entre sua infância na roça e a imersão no mundo tecnológico contemporâneo deu origem a esse conceito único. Wes explicou: “A partir de 2011, 2012, que eu fui morar na Chapada dos Veadeiros, um tempo depois eu comecei a observar um pouco também mais os Kalungas, o modo de comunidade, de plantio, de coletividade. Aguçou ainda mais essa ideia que eu tinha de roça.”

Ao longo do tempo, sua abordagem artística se transformou, explorando desenhos mais lúdicos e surrealistas, refletindo uma fase experimental onde suas criações fluíam da imaginação. No entanto, o artista notou uma mudança em direção a temas mais humanos e sociais.

O projeto ‘Pelegrino do Alvorecer’ se destacou como uma experiência enriquecedora, envolvendo pesquisa em um livro do Altair Salles sobre os povos da terra. Wes explicou: “No Pelegrino do Alvorecer, a gente fez uma pesquisa naquele livro ‘Piar do Juriti Pepena’. Na verdade, isso é um parágrafo dentro do livro, e aí a partir dele a gente fez uma pesquisa muito interessante pra poder falar sobre os povos da terra, sobre o que a gente vive e se relaciona, né, como que é hoje a nossa alimentação, as dificuldades que o ser humano passa, todo esse contraste social.”

O palco de suas manifestações artísticas é vasto, com murais que contam histórias em cidades pelo Brasil. Do Festival Alcheringa na Índia em 2022 ao Projeto Favela 3D em São Paulo em 2023, Wes não apenas pintou paredes, mas teve conexões entre comunidades e culturas. “A gente acaba conhecendo os artistas que a gente admira, outras pessoas que a gente não conhecia, então rola uma troca muito legal”, comenta.

Ele destacou o ‘Manifesto Urbano’ como um projeto importante, realizado durante a pandemia, para destacar a potência da arte e instigar reflexões sobre a realidade urbana. O mural, com mensagens claras sobre futuro, presente, ancestralidade e a relação entre ser humano e natureza, teve um impacto importante na comunidade.

Como artista autodidata, Wes Gama compartilhou sua crença no poder do estudo ao longo de sua trajetória de mais de 20 anos. Apesar de não ter frequentado uma faculdade de artes, Wes incentivou o aprendizado contínuo. Ele ressaltou a importância de trazer diversas influências para o processo criativo: “Acredito que essa questão técnica é muito pessoal, a gente se desenvolve como o nosso corpo está afim, está fluído a fazer acontecer, mas é importante poder estudar, poder receber informação, receber o conteúdo, troca de pessoas que estão fazendo o que você está fazendo também, com certeza é enriquecedor”.

Finalizando suas reflexões, Wes Gama expressou a visão ampla do papel do artista na sociedade: “Acredito que várias áreas de pesquisa desde um curso de geografia a uma arquitetura, uma história, uma matemática, línguas, filosofia, antropologia, enfim, acho que tudo vai ser uma influência muito legal a gente poder observar a política do novo país, nosso planeta e poder saber como atuar nisso né e se possível usar dessa ferramenta como uma ferramenta política em prol de uma sociedade melhor de transformações de mudanças eu acho que é onde se amplia a visão de ser um artista”.

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