Cerca de 50 mil agricultores goianos aguardam mudas de pequi sem espinhos
Após as pesquisas foram selecionadas três variedades de pequi sem espinho, e diversos produtores e cidadãos estão na lista de espera da Emater/Embrapa
Alexandre Paes e Luana Avelar
Se tem uma coisa que o goiano gosta é o famoso ‘ouro do cerrado’, ou melhor, o pequi. Esse fruto típico da região centro-oeste é utilizado em diversos pratos, mas às vezes se torna um vilão devido aos espinhos que contêm em torno do caroço e da polpa. Mas a boa notícia é que no ano de 2023 a Emater (Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária) anunciou a distribuição de variedades do pequi sem espinhos, que emergiu como uma alternativa promissora para produtores e apreciadores dessa fruta emblemática.
Tudo começou após a clonagem da árvore e a conclusão de vários estudos, feitos numa parceria entre pesquisadores da Emater e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), em que as mudas já foram repassadas a viveiros credenciados para multiplicação. A chegada ao mercado está prevista para até o fim deste ano. Mas a demanda começou logo após o anúncio da produção de mudas pela Emater, o que levou um grande número de pessoas a procurarem a Agência.
Em entrevista, Elayne Botelho Carvalho Pereira, pesquisadora da Emater Goiás, revela sua descoberta de uma variedade de pequi sem espinhos. Com um doutorado em agronomia e vasta experiência de pesquisa, Elayne dedicou os últimos 20 anos de sua carreira ao estudo exclusivo da fruta.
Ao compartilhar a origem da descoberta, Elayne destaca a curiosa observação de um produtor em sua propriedade, que notou um pé de pequi sem espinhos. Ela comenta: “Não sei como ele descobriu, se foi comendo, roendo ou partindo, mas ele percebeu que o caroço não tinha espinhos”. A pesquisadora enfatiza ainda as características únicas da variedade, incluindo a polpa solta do caroço, que, ao cozinhar, revela a ausência de espinhos no caroço.
A colaboração entre o produtor e a equipe de pesquisa foi fundamental para multiplicar a descoberta. Elayne esclarece: “Ele nos convidou para tirar a raça do pequi para ele. Nós pesquisadores falamos multiplicar”. Após anos de avaliação no banco de germoplasma da Emater Goiás, a nova variedade foi oficialmente lançada no ano passado.
A trajetória do desenvolvimento do pequi sem espinhos, como relatado por Elayne, teve início em 2000, impulsionada pela demanda de agricultores familiares. A pesquisa teve como objetivo atender à exigência legal de destinar 20% da área da propriedade como reserva legal. Essa área, vital para pequenos agricultores, representava um desafio, pois plantar nela poderia comprometer a produção.
Elayne destaca a importância dessa pesquisa para os agricultores familiares, explicando que, ao plantar essa área com cerrado, os produtores poderiam gerar renda. No entanto, o cultivo do pequi apresentava desafios, principalmente em relação aos detalhes delicados de sua germinação. Os produtores, reconhecendo a complexidade da tarefa, buscaram apoio conjunto da Emater Goiás e da Embrapa Cerrados, estabelecendo uma colaboração fundamental.
Processo de produção das mudas
A pesquisadora enfatiza que o processo de plantio vai além de simplesmente colocar a planta na terra. Destaca a importância de escolher variedades que possuam valor comercial, sejam produtivas e resistentes a pragas e doenças, atendendo às exigências do mercado. Elayne elogia o Governo de Goiás por investir nesse esforço conjunto, registrando as cultivares no Ministério da Agricultura e lançando-as no mercado.
Tudo começa com a mistura da terra, areia e adubo, que será o substrato da planta. Depois os saquinhos vão sendo preenchidos para receberem as mudas, que ficam no canteiro de germinação até os primeiros brotos. Depois do longo processo a planta vai para o viveiro até atingir a idade jovem. Só após isso ela será distribuída para mais de 50 mil produtores e goianos que estão na fila de espera, para produzir, consumir e comercializar o doce fruto de polpa amarelada
Em suas palavras: “O governo de Goiás, juntamente com a Embrapa parceira, fez mais do que o agricultor queria, porque o agricultor queria só plantar.” Ela destaca que, além das variedades, foi oferecida uma tecnologia completa no final das pesquisas, abrangendo desde a produção da muda até o manejo da lavoura de pequi.
O resultado foi a disponibilização de seis cultivares de pequi registrados no Ministério da Agricultura, proporcionando aos agricultores familiares não apenas o que desejavam, mas uma resposta completa e tecnologicamente avançada às suas necessidades.
Elayne esclarece que o processo de produção segue uma abordagem semelhante à produção de mudas de laranja, sendo um método tecnológico que exige atenção a detalhes específicos. Ela destaca: “Você pega uma semente, faz todo o tratamento na semente, que é todo um processo longo, que não daria para responder aqui nessa pequena entrevista.” Elayne explica que o tratamento inclui etapas complexas, como a remoção da polpa amarela, o uso de ácido giberélico e vários outros procedimentos, que demandam uma explicação mais detalhada.
Após a produção da muda a partir da semente, conhecida como porta-enxerto, o processo avança com a enxertia por placa. Elayne ressalta que esse método tecnológico é crucial para obter a desejada variedade de pequi sem espinho. No entanto, ela reconhece que esse processo é extenso e requer tempo para uma explicação completa, indicando a complexidade envolvida na criação dessa variedade.
A pesquisadora destaca o papel da EMATER nesse processo, mencionando sua capacidade de produzir entre 5 a 10 mil mudas por ano. Elayne explica: “No lançamento nós produzimos 5 mil e agora esse ano estamos nos preparando para produzir mais 5 mil.” Contudo, ela esclarece que a estrutura é limitada, e a Emater visa gerar o material genético enquanto instrui viveiristas particulares.
O objetivo é permitir que esses viveiristas produzam as mudas em maior escala para atender à crescente demanda do consumidor. Ela explica: “A gente está fazendo para adiantar um pouco o processo. Nós estamos instruindo os viveiristas e dando todo o aporte para que os viveiristas produzam essas mudas e atendam o mercado”. Essa abordagem visa garantir que o pequi sem espinhos possa ser acessível e atenda à crescente demanda do mercado consumidor.