O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
PublicidadePublicidade
Mudança Climática

Ondas de calor no Brasil foram responsáveis por aproximadamente 48 mil mortes 

Entre 2000 e 2018, houve um aumento significativo na frequência e intensidade desses eventos climáticos extremos

Postado em 26 de janeiro de 2024 por Larissa Oliveira
Uma das ondas de calor de 2023 - Foto: MetSul/ Reprodução

As ondas de calor no Brasil foram responsáveis por aproximadamente 48 mil mortes nas últimas duas décadas. As principais vítimas desses períodos de altas temperaturas foram idosos, mulheres, negros e pessoas com baixa escolaridade. Os dados são de um estudo liderado pelo físico Djacinto Monteiro dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De acordo com a pesquisa, houve um aumento significativo na frequência e intensidade desses eventos climáticos extremos.

Na última década, houve um salto impressionante de 11 ondas de calor anuais, em comparação com no máximo três na década de 1970. Segundo o estudo, os grupos mais vulneráveis a esses eventos extremos são idosos e mulheres, devido a fatores fisiológicos e maior incidência de comorbidades. Além disso, pessoas pardas, negras e com menor nível de escolaridade também são consideradas mais suscetíveis. Por conta disso, os pesquisadores alertam para a necessidade de medidas preventivas.

De acordo com os responsáveis pelo estudo, deve haver a instalação de sistemas de alerta semelhantes aos utilizados para enchentes e deslizamentos. Assim, ajudará a prevenir mortes decorrentes das altas temperaturas. Atualmente, mais de 4 mil pluviômetros estão espalhados por 1,2 mil cidades monitorando pontos de maior risco. Para o ex-diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Carlos Nobre, essas medidas implementadas são um sucesso.

Ondas de calor

Somente em 2023, os brasileiros vivenciaram nove ondas de calor. Conforme levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas ficaram acima da média histórica nos meses de julho a novembro de 2023. Foram 65 dias de calor extremo, o que corresponde a quase 18% do ano passado inteiro. Dessa forma, 2023 se tornou o ano mais quente dos últimos 174 anos de medições meteorológicas, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Para definir o que são ondas de calor, os autores do estudo usaram um padrão conhecido como Fator de Excesso de Calor (EHF, na sigla em inglês). Ele leva em consideração a intensidade, duração e frequência de aumentos na temperatura para prever níveis considerados nocivos à saúde humana. A pesquisa analisou dados das 14 áreas metropolitanas mais populosas do Brasil, onde vive 35% da população nacional, o que corresponde a um total de 74 milhões de brasileiros.

Portanto, consideraram as seguintes cidades: Manaus e Belém, no Norte; Fortaleza, Salvador e Recife, no Nordeste; São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, no Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, no Sul; e as regiões metropolitanas de Goiânia, Cuiabá e do Distrito Federal, no Centro-Oeste. Com isso, os pesquisadores concluíram que as ondas de calor aumentaram em volume e também estão cada vez mais prolongadas. Nas décadas de 1970 e 1980, esses eventos adversos duravam de três a cinco dias. Entre os anos de 2000 e 2010, entre quatro e seis dias.

Principais vítimas

Para calcular as vítimas das ondas de calor, os pesquisadores analisaram mais de 9 milhões de registros de óbitos de períodos em que ocorreram esses eventos extremos do clima no Brasil. Os cálculos levaram à conclusão de que em torno de 48 mil brasileiros morreram por consequência de ondas de calor entre 2000 e 2018. As mortes se deram devido a problemas circulatórios, doenças respiratórias e/ou condições crônicas agravadas pelos períodos de temperaturas extremamente elevadas.

Outra descoberta da pesquisa é a de que há grupos mais vulneráveis às ondas de calor. Em primeiro lugar, os idosos e, entre eles, as mulheres. Conforme o estudo, a maior vulnerabilidade se justifica por razões fisiológicas. Além disso, pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas também estão entre os grupos considerados mais vulneráveis. Isso porque situações socioeconômicas precárias levam a um acesso também precário a condições de moradia, sistema de saúde e meios de prevenção.

Menos impactantes

Ainda segundo o estudo, quando há aumentos bruscos de temperatura, com as ondas de calor, os efeitos são ainda mais drásticos em regiões urbanas. De acordo com os pesquisadores, os efeitos do aquecimento global são ainda mais sentidos em torno de centros urbanos. Contudo, apesar de terem matado mais de 48 mil brasileiros em duas décadas, as ondas de calor têm menos visibilidade e recebem menos atenção em comparação com outros eventos climáticos catastróficos.

Os autores da pesquisa avaliam que mesmo com a alta mortalidade, as ondas de calor são desastres negligenciados no Brasil. Portanto, o aumento drástico da temperatura no país pode ser considerado invisível em comparação a deslizamentos e enchentes, que apresentam grande impacto visual. No entanto, o estudo calculou que houve mais mortes por efeito de ondas de calor no Brasil do que por deslizamentos de terra. De 1988 a 2022, houve cerca de 4,1 mil mortes de brasileiros por deslizamentos.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também