Inventário de Vagas Lembranças: a estreia literária de Márcia Silveira
A obra reúne 28 crônicas que tratam de temas comuns, mas de forma singular, revelando as camadas de sentimentos e emoções que envolvem as experiências pessoais da autora.
Márcia Silveira é uma escritora e crítica literária carioca que acaba de lançar seu primeiro livro, Inventário de Vagas Lembranças, pela Editora Penalux. A obra reúne 28 crônicas que abordam temas como luto, infância, família, memória e identidade, com um tom de melancolia, mas também de humor e afeto.
A autora, que desde os 12 anos sonhava em ser escritora, diz que o livro é uma forma de homenagear sua mãe, que faleceu recentemente, e de resgatar as lembranças de sua vida. “Minha escrita tem certo tom de desencanto porque muitas vezes é assim que eu encaro a vida essa coisa doida e doída, com acento, como já escrevi uma vez. Mas consigo reconhecer também em minhas palavras um quê de humor, uma graça quase defensiva de quem às vezes precisa se resguardar da fragilidade da vida”, escreve ela em um trecho do livro.
As crônicas de Márcia Silveira se destacam pela sensibilidade, pela cadência e pela escolha das palavras. Ela trata de assuntos comuns, mas de forma singular, revelando as camadas de sentimentos e emoções que envolvem suas experiências pessoais. Ela também convida o leitor a se identificar e se conectar com suas histórias, que podem ser tristes, mas também alegres e divertidas.
Um exemplo disso são as seis crônicas intituladas “Efêmeras”, que são textos curtos, quase como rascunhos, lembretes ou devaneios, que expressam pensamentos e impressões da autora sobre diversos temas. Essas crônicas mostram a capacidade de Márcia de criar uma atmosfera envolvente e poética com poucas palavras.
O livro é uma obra que celebra a vida, a literatura e a identidade de uma escritora negra que realiza seu sonho de infância. É também um convite para o leitor mergulhar nas memórias, nas dores e nas alegrias de Márcia Silveira, e se reconhecer nelas.
A carioca é graduada em Filosofia e Design Gráfico e pós-graduada em História da Arte. Profissionalmente atuou como fotógrafa. Mais recentemente foi abrindo brechas e adentrando o mundo da escrita e revelando seu talento. Desde 2019 escreve críticas literárias no jornal Diário do Rio e em 2022 lançou a newsletter Página23.
O interesse por crônicas nasce na pré-adolescência a partir do contato com a coleção Para Gostar de Ler, da Editora Ática. Na época dizia que seria escritora por gostar do humor e da espontaneidade que aqueles textos continham. Hoje, ampliou o repertório de interesses literários. “Leio muito, mas tenho me sentido especialmente atraída por narrativas que unem biografia e ensaio, como as de Annie Ernaux e Felipe Charbel. Na área da crítica, admiro a escrita do José Castello e do Paulo Roberto Pires”, esclarece.
Ainda assim, a autora faz uma ressalva. “Acho muito emblemático que meu primeiro livro publicado seja de crônicas. É um retorno ao sonho de infância”.
Confira um trecho do livro:
Se não me lembro, a mente inventa. Era mesmo dourado o pacote de cigarros do meu pai? A casa era rosa? Minha mãe estava comigo na roda gigante? Aquela penteadeira era escura? De tanto inventar: um inventário. Minhas palavras tentam alcançar as certezas que a mente me impede de ter. Um levantamento dos bens que o tempo vive tentando me roubar. Ou uma tentativa afetiva de evitar que uma existência inteira se perca nos desvãos do cotidiano.