Procura por motos elétricas cresce para deixar transporte tradicional
Goiânia e Anápolis estão entre os dez municípios com adesão de veículos leves eletrificados, como as motonetas elétricas
Desde o fim da pandemia de covid-19, Nicolina Borges é uma das mais de milhares de pessoas no Brasil que ainda sofre de alguma forma com os efeitos de saúde provocados pelo vírus que teve seu auge em 2020, e está ressurgindo neste começo de 2024. Para ela, contudo, sua coordenação motora nas pernas ainda não é mais a mesma desde então depois que teve de ser entubada após complicações respiratórias.
Por causa disso, ela teve de andar com ajuda de uma bengala por anos para se movimentar pela cidade e a deixou impossibilitada de dirigir um carro, se dependendo dos ônibus superlotados como milhares de outros goianienses. Contudo, pode enfim ter achado a sua independência na mobilidade a cerca de um mês após descobrir como as motocicletas elétricas mais simples, como ciclomotores, podem funcionar sem a necessidade de carteira de habilitação.
De acordo com ela para a reportagem, essa inovação pode ter sido um dos melhores produtos que tenha comprado na vida após um mês de coma por causa da pandemia, a deixando com dificuldades neuromotoras. Para ela, a sua maior dificuldade era se locomover pois dependia de ajuda de outras pessoas para embarcar em um ônibus. “Tenho dificuldades para andar de ônibus e preciso de ajuda de pessoas que não conheço, mas tenho uma bengala como companheira. Ela apoia mas não resolve minha dificuldade para andar”.
Contudo, tudo isso mudou quando Nicolina conseguiu comprar um triciclo elétrico no fim de 2023, e desde então pode aproveitar da independência e da autonomia como antes. “Com o triciclo eu vou ao médico, ao correio , ao laboratório, à Igreja. Ele me proporcionou não só a mobilidade, mas uma intensa liberdade e autonomia que eu não tinha antes”, diz ela à reportagem.
Para ela, esse meio de transporte alternativo é muito recomendado para pessoas com deficiência física e para os idosos que queiram um pouco de liberdade sem o esforço físico extra e a dependência de outras pessoas. Inclusive, falou que não quer parar no seu triciclo e pretende comprar um mais potente no futuro, “já cresci com os olhos em um quadriciclo maravilhoso”, de acordo com ela.
E não é só Nicolina que pode aproveitar essa redescoberta na independência em Goiânia, de acordo com um censo das vendas de veículos leves eletrificados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), houve 4.225 vendas desses tipos de automóveis em Goiás só no ano de 2023. Ainda segundo o documento, as vendas deste ano superaram em 15,8% o número encontrado em 2022 que fechou com 3.647. Atualmente, o estado está em 8º lugar no ranking de consumo desses meios de transporte com 4,5% de participação.
Já em Goiânia, o ano de 2023 terminou com 1.754 venda dos automotivos, ficando também em 8º lugar no ranking por município e atrás apenas de outra cidade do Estado, Anápolis com 1.763 vendidos.
Entretanto, outras opções de condução de transportes elétricos não foram consideradas nessa pesquisa, sobretudo aqueles que não necessitam de habilitação de condução como os ciclomotores e patinetes elétricos que podem ser encontrados à venda por preços mais acessíveis. Estes grupos têm uma participação de parcela da população que reside na região central, ou seja, relativamente perto de serviços e outros estabelecimentos mas que não queiram dirigir um carro ou ir de ônibus.
Durante muitos anos os veículos elétricos ficaram relegados a uma pequena parte da população pelos altos custos e a baixa infraestrutura de energia, como pontos de carregamento. Porém, isso mudou, como diz Ronny de Lima, proprietário de uma loja de veículos elétricos na T-7 no Setor Oeste, de acordo com ele, “o futuro chegou” e com isso a acessibilidade para a classe trabalhadora.
Com isso, há novas alternativas no mercado com diferentes configurações e preços que podem oferecer um grau de autonomia comparável ao de Nicolina. “Hoje está bem mais acessível do que comparável a alguns anos, temos ciclomotores que ficam pouco mais de R$ 5000. Hoje a opção de moto elétrica é muito boa para os trabalhadores que querem fugir do ônibus, por exemplo, além do custo ser baixo em outras áreas e não fazer muita diferença na conta da luz”.
Além disso, o proprietário disse que estes ciclomotores mais simples têm muita aderência entre as crianças na sua loja, como é o caso dos patinetes e hoverboards (skates elétricos). Em específico em bairros mais calmos como os condomínios fechados, dando uma oportunidade desses jovens se deslocarem no interior deles.
Contudo, o consumidor que queira comprar uma delas com o intuito de andar pouco deve ficar atento a novas medidas de lei para emplacar e equiparar esses meios de transportes aos tradicionais, segundo ele. “Abaixo de 1000 watts é considerado ciclomotor então não é necessário habilitação, temos um caso de um dentista, por exemplo, que comprou uma bicicleta elétrica para levar o filho dele na escola”, diz o empreendedor.
A recomendação portanto de Ronny é que o consumidor fique atento à loja na hora comprar, segundo ele, existem elementos essenciais para não gastar além do necessário apesar da pouca manutenção. “A minha dica é que vá em uma loja que tenha uma oficina dentro porque querendo ou não é veículo no final das contas e pode necessitar de trocar ou arrumar algo. Mas, a manutenção também é bem mais simples, a pessoa só precisa ficar atenta na hora de trocar a bateria que tem um tempo de vida comparado a de um carro”, diz ele.