Uso de cigarros eletrônicos causa impotência sexual e agrava cânceres
Inca aponta que pelo menos um em cada cinco jovens, com idades entre 18 a 24 anos, já usaram os vapes pelo menos uma vez
Nos últimos anos, os vapes e cigarros eletrônicos têm ganhado popularidade entre jovens e adultos como uma alternativa aparentemente mais segura ao tabagismo tradicional. Só que um dos principais problemas é a falta de regulamentação e controle sobre os ingredientes presentes nos líquidos utilizados nos vapes. Muitas vezes, esses líquidos contêm substâncias químicas nocivas, como nicotina, que é altamente viciante, além de produtos químicos utilizados na produção de sabores, alguns dos quais podem ser tóxicos quando inalados.
Um jovem estudante, de 22 anos, que prefere não ser identificada, contou procura restringir o hábito de fumar apenas aos finais de semana, mas que em momentos de extrema ansiedade acaba fazendo o uso dos cigarros eletrônicos durante a semana, após o horário de trabalho. “Quando estou com ansiedade por algum motivo sinto a necessidade de fumar para tentar me acalmar. Quando não tenho um novo acabo fumando vape queimado só para aliviar um pouco, claramente um sinal de dependência”, reconhece a jovem.
Mas ela não é um caso isolado do vício em cigarros eletrônicos. Com apenas 26 anos, um empresário do ramo do comércio de bebidas, que também prefere não ser identificado, conta que o uso dos dispositivos começou com a venda no estabelecimento. “Um produto novo, e automaticamente experimentei e gostei dos sabores. Naquele momento algo inofensivo, mas dois anos depois posso afirmar que minha respiração piorou, e as tosses são frequentes. Mas infelizmente não acredito que consiga parar. Vai um vape para cada 5 dias, com mais de 5 mil pufs”, exemplifica o homem.
O urologista com doutorado pela USP, Pedro Junqueira, destaca que a associação entre vaping e disfunção erétil está ligada à composição química dos líquidos consumidos durante o uso do equipamento. Essas substâncias, quando inaladas, podem ter efeitos negativos sobre o sistema vascular. “Fumar vapes introduz elementos químicos que afetam a elasticidade dos vasos, comprometendo o fluxo sanguíneo para o órgão genital masculino. Esse impacto vascular é a base que nos apresenta elevadas taxas de disfunção erétil entre os usuários”, explica.
Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) mostram que o brasileiro fuma, em média, 17 cigarros convencionais por dia. As informações também apontam que um em cada cinco, com idades entre 18 a 24 anos, já usaram os vapes pelo menos uma vez. “Não existe uma margem de segurança para o uso de cigarros eletrônicos. Nenhum fumante, seja ele de vapes ou de cigarros tradicionais, está livre dos efeitos colaterais”, enfatiza o urologista.
Além disso, há preocupações crescentes sobre os danos pulmonares causados pelo uso prolongado de vapes. Estudos têm mostrado uma ligação entre o uso desses dispositivos e doenças pulmonares graves, como a bronquiolite obliterante, também conhecida como “pulmão de popcorn”. Essa condição pode levar a sintomas debilitantes, como falta de ar e tosse crônica, e pode até mesmo exigir transplante de pulmão em casos extremos.
Os prejuízos do vaper são basicamente os mesmos do cigarro comum, uma vez que nós temos ali na aquela naquele cigarro muitas substâncias, as principais inclusive que causam câncer de pulmão, irritação nas vias aéreas, alterações dos vasos sanguíneos, inflamação, bronquite, essas substâncias estão presentes no vaper. “O jovem que antigamente via o cigarro comum ali como uma coisa que já estava ultrapassada e que felizmente já estava sendo abandonada, o fato de colocar eletrônico no nome chamou muita atenção dos jovens que fizeram disso uma moda. Inclusive com epidemias de doenças respiratórias”, aponta Junqueira.
Outro ponto de preocupação é o potencial dos vapes e cigarros eletrônicos em servirem como porta de entrada para o tabagismo entre os jovens. O marketing agressivo desses produtos, muitas vezes usando sabores atraentes como frutas e doces, pode atrair adolescentes e jovens adultos que de outra forma não teriam experimentado o tabaco. Isso pode levar a um aumento do consumo de tabaco e, consequentemente, a um aumento dos problemas de saúde associados ao tabagismo.
No entanto, é importante que os consumidores também estejam cientes dos riscos e tomem medidas para proteger sua saúde. Isso inclui evitar o uso de vapes e cigarros eletrônicos, especialmente para os jovens e não fumantes, e buscar ajuda para parar de fumar se já estiverem usando esses dispositivos. Ao mesmo tempo, é crucial continuar pesquisando e monitorando os efeitos desses produtos para garantir que medidas adequadas de saúde pública sejam implementadas.
A estudante citada no início da reportagem conta ainda que até o momento não teve nenhum problema de saúde associado ao uso dos cigarros eletrônicos, e que inclusive fez exames para ver o pulmão. “Por enquanto está tudo certo. Sei que minha dependência é mais questão psicológica”, diz. Consciente dos malefícios, a jovem fala ainda que “tudo faz mal, ainda mais em excesso, porém vai de cada um se quer ou não parar com os vícios”, destaca.
Consulta pública para comercialização de cigarros eletrônicos
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) abriu em dezembro uma consulta pública sobre a liberação da venda de cigarros eletrônicos no Brasil. Até sexta-feira (09), qualquer pessoa pode opinar sobre o assunto. No contexto atual, onde os prejuízos do consumo dos vapes são cada vez mais claros, Junqueira alerta para que a sociedade considere os estudos científicos antes de tomar qualquer decisão.
“Caso ocorra a liberação da venda desses dispositivos, o que deve acontecer é que cada vez mais veremos pacientes jovens tendo problemas respiratórios, mais câncer, inclusive câncer fora do pulmão, inclusive o câncer de bexiga, que tem uma correlação muito importante. Pacientes com alterações pulmonares, até falência pulmonar, precisando de transplante e, inclusive, com causa de óbito”, pontuou o especialista.
Por outro lado, alguns defensores dos cigarros eletrônicos destacam o potencial desses dispositivos como uma alternativa menos prejudicial ao tabagismo convencional. Argumentam que, se regulamentados adequadamente, os vapes podem ajudar fumantes a reduzir ou eliminar o consumo de cigarros tradicionais, potencialmente salvando vidas.
A indústria do tabaco também está acompanhando de perto o desenrolar da consulta pública, vendo nos cigarros eletrônicos uma oportunidade de expandir seus negócios em meio a um declínio gradual no consumo de cigarros convencionais. “A decisão final sobre a regulamentação dos cigarros eletrônicos caberá ao governo, que deverá considerar uma variedade de fatores, incluindo impactos na saúde pública, prevenção ao tabagismo entre os jovens e interesses da indústria do tabaco”, expõe.