Bolsonaro ainda estaria ressentido com Caiado e pode não apoiá-lo em 2026
Ex-presidente teria vetado possibilidade de governador ir para o PL, segundo colunista
Francisco Costa e Wilson Silvestre
Publicamente, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstra apreço pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O goiano faz o mesmo e, em contrapartida, busca o apoio do ex-chefe do Executivo federal para disputar a presidência da República. Porém, existe ressentimento por parte do ex-mandatário do País, que pode impedir essa parceria em 2026.
Pelo menos é o que diz a colunista Bela Megale, em O Globo. O ex-presidente já disse a aliados que Caiado é um “traidor”. O motivo seria a postura não negacionista do governador de Goiás na pandemia da Covid-19. À época, o chefe do Executivo goiano defendeu a vacinação e o isolamento social.
“Não concordo com sua política [do presidente Jair Bolsonaro] de contestar o isolamento social e utilização de vacinas”, reforçou Caiado, frisando que o número de mortos, em razão do novo Coronavírus, teria sido menor se “o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, tivesse continuado no cargo”, lamenta. A fala foi dada ainda em 2021.
Ainda naquele ano, Bolsonaro, ainda magoado, aproveitou para criticar o governador Ronaldo Caiado pelo preço dos combustíveis. Ele chamou o goiano de “mentiroso” e disse que a forma de tributação era “um crime”.
“Nesses três anos, o ICMS mais que dobrou o valor na ponta da linha. Tem um governador de Goiás que falou que eu estava mentindo porque o percentual não tinha variado. Mentiroso é ele, porque o percentual realmente não variou. Além de cobrar em cima do preço final da bomba, é bitributado. Já está incluso o PIS/Cofins. Cobra em cima do imposto federal, em cima dos tanqueiros e em cima dos postos”, declarou o então presidente em dezembro daquele ano.
Desde então, o ex-presidente estaria magoado com Caiado, mesmo o governador tendo apoiado a reeleição dele em segundo turno, em 2022. Jair teria, inclusive, vetado a entrada do governador no PL. A informação também é de Bela Megale.
Conforme a coluna, o gestor teve conversas com a direção da legenda sobre a possibilidade e até tem a simpatia do presidente, Valdemar Costa Neto. Contudo, Bolsonaro resiste. Caiado é pré-candidato à presidente. Contudo, hoje o União Brasil integra o governo Lula (PT). Ele esperava contar com o apoio do ex-presidente.
Rompimento
O rompimento aconteceu em março de 2020, após pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional. “As decisões do presidente da República no que diz respeito à área de saúde e ao coronavírus não alcançam o estado de Goiás”, disse Caiado em coletiva, à época. “As decisões de Goiás serão tomadas por mim e por decisões lavradas pela Organização Mundial da Saúde e pelo povo técnico do Ministério da Saúde.”
À época, o governador de Goiás chamou os ataques de Bolsonaro aos governadores que combatiam a Covid de “discurso totalmente irresponsável”. “Não posso admitir que venha agora o presidente da República lavar as mãos e responsabilizar outras pessoas por um colapso econômico. Não faz parte da postura de um governante. Um estadista tem que ter coragem de assumir as dificuldades. Se existem falhas na economia, não tente responsabilizar outras pessoas, assuma sua parcela.”
“Se decisões eu tiver que tomar junto ao governo federal, eu as tomarei junto ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. A autonomia que estou aqui conclamando como governador é conferida pela Constituição”, continuou. “Ora, o que é isso? É exatamente querer, nessa hora, colocar na balança o que é mais importante, a vida ou a sobrevivência da economia. Não, nós podemos fazer as duas coisas.”
À época, o governador, que é médico, também criticou as medidas propostas por Bolsonaro, como “isolamento vertical” e uso de “cloroquina”. “Estamos tratando de um assunto sério. A população tem que ter norte, tem que ter rumo, os líderes têm que saber se pronunciar nesse momento.” Ao citar o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, ele também pontuou que “na política e na vida a ignorância não é uma virtude”.
A reaproximação só ocorreria em 2022, em razão das eleições. No primeiro turno, todavia, eles seguiram separados. Inclusive, o Major Vitor Hugo (PL) foi o candidato do bolsonarismo ao governo de Goiás.
Ainda é possível
Analistas, contudo, apostam que Caiado ainda pode se viabilizar como representante da direita moderada. Segundo fontes ouvidas pelo Jornal O Hoje, o bolsonarismo seria uma parcela minoritária dentro do espectro político. Com isso, o governador de Goiás conseguiria atingir esses grupos. Ele, inclusive, articula escritório político em São Paulo, para ter interlocução com o empresariado, além de outros em Brasília e Alagoas. No agronegócio, ele já teria um bom trânsito, apesar de “ruídos” por conta da taxa do agro.
O que ele quer?
O professor e cientista político, Marcos Marinho, diz que é preciso entender a real expectativa de Bolsonaro. Para ele, vetar a entrada de Caiado em um momento de exposição positiva do governador só faria sentido para evitar um concorrente direto, mas o ex-presidente está inelegível.
“Então, ou ele acredita de fato que há a possibilidade de reversão – o que é pouco provável -, ou ele quer deixar o vácuo, acreditando este permanecerá e, um dia, ele reagir”, analisa. Segundo Marinho, o “bolsonarismo” vai além de Bolsonaro e os atores políticos têm interesse em manter um movimento de polarização da direita com a esquerda.
Nesse sentido, o professor pensa que Bolsonaro poderá rever. “Vai acabar tendo que se dobrar ao próprio sistema, porque, senão, ele vai ficar fora de vez do sistema”, avalia.