Bloqueio de bens e quebra de sigilo dificultam escolha de Caiado por Darrot
Desdobramentos da operação que investiga contratos firmados em 2013 trazem ainda mais dificuldades à desafiadora situação do governador em ungir um nome
Felipe Cardoso e Francisco Costa
Nos bastidores da política goiana, o comentário é que os recentes acontecimentos têm, cada vez mais, dificultado um eventual apoio do governador Ronaldo Caiado (UB) ao nome de Jânio Darrot (MDB) à prefeitura de Goiânia. No início do mês, vale lembrar, a Polícia Civil de Goiás (PCGO) cumpriu uma operação em endereços ligados ao ex-prefeito de Trindade, bem como na prefeitura. Agora, porém, a situação, na interpretação de fontes palacianas, “piorou”. Isso porque além dos mandados de busca e apreensão, a justiça autorizou o bloqueio de bens do político e quebra dos sigilos fiscais.
As investigações buscam aprofundar informações acerca de licitações e contratos de exercício do ano de 2013, época em que Jânio cumpria seu primeiro mandato à frente da cidade. Um contrato firmado entre o poder público e uma empresa que era da família de Jânio e foi cedida a um funcionário dele é o centro da investigação.
No dia 8 de fevereiro, dia em que a operação foi cumprida na cidade, a Prefeitura de Trindade afirmou, por meio de nota, que forneceu todos os documentos que se encontravam no arquivo da Prefeitura. A gestão municipal ainda informou que reforça “o compromisso desta administração com a transparência, responsabilidade e compromisso social, colocando-nos à disposição para continuar colaborando com as solicitações da justiça”.
De volta, porém, ao contexto político, como já mostrado pelo O HOJE, a reportagem mostrou ainda no início de dezembro do ano passado que o nome de Jânio representava um projeto desafiador para 2024. À época já se dizia que apesar da firmeza com que o MDB mantinha a aposta, nos bastidores a leitura já era de que a candidatura de Jânio seria carregada de desafios.
O fator desconhecimento é um deles. O ex-prefeito de Trindade, por melhor que tenha sido sua gestão no município, ainda é figura estranha aos olhos dos goianienses. Um ambiente de pressão foi criado, inclusive, à época em que Ana Paula ainda refletia sobre sua entrada na disputa. Acontece que os emedebistas, preocupados em torná-la conhecida na cidade, queriam saber, o quanto antes, se ela iria ou não para a briga. Agora, o cenário se repete pois Darrot também é desconhecido.
Para além dessa situação, Jânio amarga quatro anos longe do poder. Enquanto prefeito de Trindade, o político foi amplamente notado diante das inúmeras ações que encabeçou no município. Depois que deixou a cadeira, foi se tornando, com o passar do tempo, cada vez mais distante do protagonismo político. Hoje, apesar de reconhecido pelos feitos, conta com um distanciamento do eleitor de sua própria cidade, quem dirá, então, em Goiânia.
A mesma reportagem mostrou, em dezembro, que um outro fator que pesa, segundo fontes consultadas pela reportagem, tem relação com a debandada do político. Em um passado não muito distante, Darrot compunha o alto escalão do PSDB goiano, orquestrado pelo ex-governador e principal adversário caiadista, Marconi Perillo. Darrot foi presidente do partido na cidade e atuou na maior parte do tempo ao lado de Perillo. Depois, em nome da sobrevivência política, se converteu, por meio de sua nova casa, o MDB, ao caiadismo.
Como se não bastassem todos esses fatores, a operação em questão trouxe um peso a mais à dificuldade do governador Ronaldo Caiado em bater o martelo acerca de um nome. O governador, como também já foi mostrado, tem um obstáculo difícil pela frente. No leque de possibilidades, Ana Paula Rezende, filha do ex-governador Iris Rezende, já anunciou estar fora do páreo. Tal qual fez o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Bruno Peixoto (UB) que recentemente anunciou sua desistência e foco na construção de um projeto voltado à 2026.
Para além dos recuos de Ana Paula, Bruno e a situação delicada de Darrot, uma outra aposta da base seria o ex-prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha. Acontece que o político, por ter sido reeleito em 2020, está impedido de concorrer este ano. Ele tenta judicialmente se desprender dessa amarra. A leitura, porém, é de que as chances são mínimas, tanto que há duas semanas Mendanha anunciou publicamente seu apoio ao nome de Darrot.
Apesar de todo o ocorrido dos últimos dias e os desafios que o nome representa, uma fonte palaciana, na contramão da maioria, ainda vê em Jânio uma alternativa viável. “O Darrot como vários outros nomes, são pré-candidatos da base e como tal precisam se viabilizar eleitoralmente, cair no gosto do povo, aparecer bem em pesquisas e convencer quem decide: Caiado, Daniel e presidentes de partidos da base. Darrot, não tem condenação, tem direito ao contraditório e ampla defesa. O candidato sai apenas na convenção em agosto”, cravou um interlocutor.