O fim do El Niño pode trazer uma piora na estiagem
Governo estadual afirma que regiões de Goiás tiveram menores quantidades de chuvas em até 40% se comparado ao mesmo período do ano passado
Desde agosto do ano de 2023 a situação climática em Goiás, e no País inteiro, podia ser resumida em uma frase: 8 ou 80. Isto porque a chegada do El Niño naquele mês agravou os quadros meteorológicos, de um lado era possível presenciar uma tempestade torrencial como no sul, e do outro uma seca sem precedentes no norte. Por causa disso, muitos goianos estavam ansiosos para o tão aguardado fim deste evento climático para uma “normalização meteorológica”, por se assim dizer.
Contudo, um alerta da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) feito em virtude dos reveses das mudanças climáticas pode enfim trazer uma cautela a este anseio. Em uma reunião com os líderes da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) feita nesta terça-feira passada (06), informações sobre uma possível piora na situação hídrica do ano de 2024 foram apresentadas aos produtores rurais para um preparo desta circunstância. Isto pois a estiagem prevista para este ano pode ser mais crítica se comparado aos anos passados.
Com o fim do aquecimento do oceano pacífico, o El Niño, irá se iniciar entre o fim de fevereiro e maio um período de equalização da temperatura dos oceanos para um resfriamento na temperatura prevista para ocorrer entre julho e agosto, a La Niña, que trará chuvas mais recorrentes e estáveis ao estado. Entretanto, a lacuna neste período do ano será palco para uma estiagem que ocorre todos os anos mas que a infraestrutura agrícola do estado não está preparada por causa das chuvas instáveis e irregulares do El Niño.
De acordo com André Amorim, gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) para a equipe de reportagem, a junção desses dois fatores pode fazer com que o período de estiagem deste ano seja mais crítico, comparado com os outros anos. “As bacias e mananciais de Goiás como o Araguaia estão com uma vazão menor que o esperado para a chegada da estiagem pelo ciclo irregular de chuvas com ondas de calor”, afirmou o especialista.
Com isso, o setor econômico agropecuário será o mais afetado pela previsão climática com um risco e uma cautela maior nas plantações, como exemplo, André comenta da diminuição no solo de pastagem em Goiás pela má infiltração do solo observada em janeiro e fevereiro que pode não ser o suficiente para durar até o fim da estiagem. Para se ter uma noção, algumas regiões do estado tiveram chuvas abaixo de até 40% da média, segundo a Semad.
Para isso, tanto a Semad como a Faeg comentam da necessidade de um planejamento de uso da água para que não ocorra problemas na distribuição de água urbana. “O produtor tem que entender que terá de aproveitar as chuvas de agora que ainda temos nesses próximos dois meses“, diz o gerente da Cimehgo.
Vale lembrar também que outros estados estão enfrentando problemas com a situação hídrica, como ocorre atualmente com a colheita de soja em Mato Grosso que chegou a quebrar no estado pela falta de chuva. Outro dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a safra de 2024 no Brasil poderá ser até 3% menor do que comparado com a de 2023. Por causa dessas preocupações, o Governo Federal teve de dobrar o fundo do Seguro Rural para até R$ 9,4 bilhões em razão do aumento do custo devido a fatores climáticos.
Contudo, não será apenas o setor da agropecuária que poderá sofrer com a diminuição das chuvas e o começo da estiagem. Junto a estiagem permanecerá nos próximos meses dias mais ensolarados com baixa umidade no ar, porém, diz que é muito cedo para diagnosticar uma possível crise hídrica quando foi questionado sobre o abastecimento de água em Goiás. Além disso, ainda não há previsões de como isso poderá afetar o mercado alimentício e se terá um efeito no bolso do consumidor.