Volume de investimentos estrangeiros no Brasil cai 16,8% em 2023
Para analistas de mercado, a queda dos investimentos é explicada pela redução nos preços das commodities e também por fatores como o risco fiscal
No último ano, o volume de Investimentos Diretos no País (IDP) caíram 16,8% na comparação com 2022. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, de janeiro a dezembro de 2023 foram investidos um total de US$ 62 bilhões, no ano anterior, o quantitativo total havia chegado a US$ 74,6 bilhões. Os dados apontam para um cenário de incerteza dos investidores internacionais para com a economia brasileira.
Em proporção do Produto Interno Bruto, o tipo de investimento fechou 2023 em 2,85% do PIB. Em 2022, era de 3,82% do PIB. Somente no mês de dezembro, foi registrada uma saída líquida (superiores às entradas) de US$ 389 milhões.
No cálculo é considerado o volume de participação no capital, com a entrada de recursos para a aquisição ou aumento do capital social de empresas residentes, as chamadas operações intercompanhia, como a concessão de créditos pelas subsidiárias ou filiais no exterior a suas matrizes no Brasil, entre outras formas de entrada.
Para analistas de mercado, a queda do Investimento Direto no País é explicada pela redução nos preços das commodities — cotadas em dólar — e também por fatores como o risco fiscal que impactam na atratividade do país.
Além dos investimentos, o Banco Central também identificou no último ano um menor volume de transações correntes do Brasil, com menos entrada e saída de dólares. No quesito, houve saldo negativo de US$ 28,6 bilhões ou 1,32% do PIB. Em 2022, o déficit chegou a US$ 48,3 bilhões (2,47% do PIB). A queda das importações e o aumento das exportações explicam esse resultado.
Grau de investimentos no País
Entre os elementos que podem afetar a confiança de investidores internacionais está a classificação de risco de um País por agências estrangeiras. A classificação representa uma medida de confiança dos investidores internacionais na economia de determinada nação. As notas servem como referência para os juros dos títulos públicos, que representam o custo para o governo pegar dinheiro emprestado dos investidores. As agências também atribuem notas aos títulos que empresas emitem no mercado financeiro, avaliando a capacidade de as companhias honrarem os compromissos.
O grau de investimento funciona como um atestado de que os países não correm risco de dar calote na dívida pública. Abaixo dessa categoria, está o grau especulativo, cuja probabilidade de deixar de pagar a dívida pública sobe à medida que a nota diminui.
As agências mais conceituadas pelo mercado são a Fitch, a Moody’s e a Standard & Poor’s (S&P), que periodicamente enviam técnicos aos países avaliados para analisar as condições da economia. Uma avaliação positiva faz um país e suas empresas levantarem recursos no mercado internacional com custos menores e melhores condições de pagamento.
Da mesma forma, uma boa classificação atrai investimentos estrangeiros ao país. Fundos de pensão estrangeiros investem apenas em países com grau de investimento concedido por pelo menos duas agências de classificação de risco. Caso contrário, o país passa a ser considerado de grau especulativo.
Em 2008, o Brasil tinha sido elevado à categoria de grau de investimento. A primeira agência a incluir o país nesse patamar foi a S&P, em abril daquele ano. A decisão foi seguida pela Fitch, em maio do mesmo ano, e pela Moody’s, em setembro de 2009.
Já em setembro de 2015, a S&P retirou o grau de investimento do Brasil e concedeu perspectiva negativa, abrindo caminho para que a nota fosse reduzida novamente em fevereiro de 2016. A redução da nota também foi seguida pela Fitch em dezembro de 2015, e pela Moody’s em fevereiro de 2016.
Passados oito anos, em dezembro de 2023, a S&P elevou a nota de crédito do Brasil de ‘BB-’ para ‘BB’, com perspectiva estável, logo após a aprovação da reforma tributária. Segundo a agência, a estrutura institucional do Brasil pode sustentar a elaboração de políticas estáveis e pragmáticas, baseadas em ‘controles e equilíbrios’ em todos os Poderes. A decisão foi acompanhada pelas outras agências. Atualmente o Brasil está dois níveis abaixo do grau de investimento nas três agências.