Goianienses adotam cobras como pets e provocam curiosidade, medo e amor
Jornal O Hoje conheceu duas cobras ainda bebês da espécie Jiboia arco-íris de dois tutores da capital
Mike e Lara não se conhecem. Por onde passam, chamam a atenção em Goiânia. Não têm nem um ano de idade mas, na família onde cada uma vive, se tornaram a sensação: de curiosidade, medo e amor. Tratam-se de duas espécies de cobras Jiboia arco-íris da caatinga.
Mike é um macho de três meses – Lara tem seis. As serpentes, que são filhotes, tem em média 40 cm, mas, não deve demorar, vão chegar a um metro e meio.
As cobras são pets de dois goianos que, ao contrário da maioria da população, que quer se ver longe de qualquer um desses serzinhos que rastejam, desembolsaram R$3 mil para ter um desses répteis para conviver com outros animais e a família.
É o caso do médico veterinário Thiago Lourenço. Mesmo durante o curso de Veterinária ele tinha certo medo de cobras. Foi por isso que, ao abrir a caixa em que a sua cobra Lara estava pela primeira vez, pensou: “o que estou fazendo?”.
Naquela época, a Lara ainda não tinha nem mesmo 30 centímetros e pesava menos do que uma laranja madura, mesmo assim, a sua presença já impactava Thiago. Mas, ainda tinha uma missão a cumprir, que era enfrentar o medo. Especialista em animais silvestres, trabalha em um hospital veterinário que frequentemente recebe animais com todo tipo de fratura. Agora, que tem contato com uma cobra diariamente, pode até pensar em fazer cirurgia em alguma serpente.
Além disso, o filho pequeno João Francisco de apenas 8 anos também fazia questão de ter uma serpente como pet, resultado da convivência que tinha com os animais. “Papai quero muito ter uma cobra”, pedia o menino ao pai.
Thiago tem, em casa, um cachorro, um gato, além de galinhas e um aquário com peixes. Para evitar qualquer imprevisto, sobretudo quando a Lara estiver mais velha e, por isso, maior, ela tem uma casa só para ela, onde é condicionada diariamente.
Além do espaço reservado como um terrário, Thiago alerta que todo o ambiente deve ser assegurado para que não fuja do recinto por um bueiro, rachadura, janela, ou até por uma porta aberta, como ocorreu com a jiboia Chanel de dois metros e meio em Rio Verde no início de 2024.
Por isso, o veterinário conta que é preciso lembrar à família sobre a cobra todos os dias. O animal até passeia pela sala, cozinha, sendo segurada pelo filho ou rastejando tranquilamente pelo chão, mas sempre supervisionada pelo veterinário para evitar qualquer problema, como queda ou fuga.
Thiago lembra quando Lara chegou em sua casa. Por estar estressada por conta da viagem que fez de avião, dentro de uma caixa, ela deu um pequeno bote no seu filho que a segurava. “É preciso ter muito cuidado ao manipular o animal e respeitar o espaço deles. Também porque um réptil não demonstra afeto por você. Ele te conhece, mas se você assustá-la ela pode te dar um bote”.
Mike
Já Hemily Augusta, que é tutora do macho Mike, não teve medo ou receio ao se deparar dona de uma jiboia. Ao contrário, foi amor à primeira vista, pois ela, amante dos animais exóticos, sonhava em ser dona de uma serpente.
Assim como Thiago, é maravilhada pela sua cobra e pela simplicidade dos cuidados: “O custo de manutenção é bem pequeno mas podem ser exigentes na alimentação. Cada cobra deve comer uma presa de pelo menos 15% a 20% do peso, para o Mike, dou um rato recém-nascido toda semana”.
Além disso, Hemily detalha os cuidados pós-alimentação que devem ser seguidos à risca para o bem estar do animal, que, pelo fato de ser um animal instintivo, pode regurgitar a comida em resposta a uma suposta ameaça. “Uma serpente fica de repouso por um longo período de digestão após a alimentação e nesse período ela não deve ser manipulada com o risco dela vomitar. Ela inclusive pode morrer se isso acontecer muitas vezes num curto período de tempo ”, alerta ela, que cursou alguns semestres de Veterinária.
Especialista em répteis, o pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), que também compõe o Instituto Boitatá Ygor Ribeiro, não esconde a vontade de ter uma cobra, entretanto, afirma que como um conservador, a melhor opção é mantê-los na natureza. Porém, respeita e parabeniza o esforço que levar esses bichos ao urbano possam contribuir para a desmistificação deles, muito pelo motivo de pessoas ainda matarem ao encontrá-los nas matas e estradas em Goiás.
O mestrando é acostumado a resgatar serpentes inclusive nas proximidades do Campus da UFG do Samambaia, na Vila Itatiaia, em Goiânia. “Tem muito preconceito acerca das serpentes por falta de conhecimento”, diz ele que, inclusive, afirma que é preciso desmistificar a figura da cobra para evitar, entre outras maldades, que elas sejam atropeladas de propósito. “Prefiro que elas fiquem na natureza, em seu habitat”.