Dez anos de uma tragédia que marcou Goiânia: Chacina do Morro do Mendanha
Goiânia – 8 de março de 2014, Dia Internacional da Mulher, quatro mulheres são encontradas brutalmente assassinadas
Goiânia – 8 de março de 2014, Dia Internacional da Mulher, quatro mulheres com idades entre 15 e 19 anos são encontradas brutalmente assassinadas no Morro do Mendanha, que fica situado no Jardim Petrópolis, região noroeste da capital.
Conforme relata a Polícia Civil, as jovens foram executadas juntas, uma ao lado da outra, cada uma com um tiro na cabeça. O crime aconteceu na madrugada de um sábado, mas os corpos só foram encontrados pela manhã, após uma testemunha acionar a Polícia Militar.
Mais tarde naquele mesmo dia, as vítimas foram identificadas: Sinara Monteiro da Costa, de 16 anos, Rayane Kelrry Silva, de 15 anos, Mylleide Morgana Lagário de Lima e Ana Kelly Martins, ambas de 19 anos.
Assim, teve início a investigação para esclarecer o crime que ficaria conhecido como a Chacina do Morro Mendonça. O que teria desencadeado tanta violência?
Chacina do Morro do Mendanha
O Morro do Mendanha, que costumava ser o local para o qual muitos fieis de diversas regiões do estado buscavam como abrigo para manifestar sua fé e devoção, se tornou palco desta tragédia. Reconhecido como um santuário religioso, atrai multidões que sobem a colina para fazer suas preces, pedidos e demonstrar gratidão, até nos dias atuais. No entanto, a área se destaca por ocorrências trágicas, devido à difícil acessibilidade e à escassa iluminação, o que leva alguns a aproveitarem para cometer atos horrendos.
Conforme divulgado pela polícia, o crime foi resultado de um conflito entre facções de traficantes que se desentenderam, resultando no envolvimento das namoradas de dois membros e duas amigas delas. As quatro vítimas não tinham antecedentes criminais, embora algumas tivessem relação com drogas.
Inicialmente, os suspeitos da tragédia foram identificados como Paulo Henrique do Carmo Silva, conhecido como “Dioclim”, e dois adolescentes de 17 anos na época. Pouco depois, outro menor, também de 17 anos, foi apreendido pela polícia e confessou a autoria dos homicídios.
Antes do crime, os dois adolescentes foram abordados por policiais militares, que supostamente mencionaram que “umas meninas tinham dedurado eles”. Rayane e Simaria eram namoradas dos jovens e frequentavam a casa dos acusados, despertando desconfianças neles.
Durante uma visita de Rayane e Sinara à casa dos namorados, que era compartilhada com Paulo Henrique, o namorado de Rayane pegou o celular dela para colocar música e, ao mexer, encontrou uma mensagem que parecia ser enviada a um policial, denunciando-os. O texto dizia: “Estou em local impróprio com pessoas impróprias e não posso te atender”.
No dia seguinte, Paulo Henrique e os adolescentes ligaram para o número da mensagem, confirmando que era um policial local. Essa ligação fez com que o namorado traficante decidisse planejar as mortes das jovens com membros do grupo, acreditando que Rayane e Sinara os tinham denunciado.
Durante a noite do crime, depois de planejar meticulosamente, os três indivíduos foram até uma casa noturna no Conjunto Vera Cruz 1 para convidar as vítimas a continuarem a diversão em outro local. Entretanto, os traficantes mudaram o percurso, levando as vítimas até o Morro do Mendanha. Além das amigas, Morgana e Ana estavam presentes no grupo. Ao chegarem ao local, Paulo Henrique e os dois menores ordenaram que as quatro se deitassem no chão, alegando que seriam executadas por terem sido entregues por Sinara e Rayane.
Rayane tentou se explicar, mas foi atingida por dois disparos feitos pelo menor. Em seguida, cada uma das vítimas foi friamente executada com um tiro na cabeça pelo mesmo autor, o menor de 17 anos que assumiu a autoria do crime. O corpo das jovens foram deixados em uma fileira. Logo em seguida, os criminosos fugiram.
Prisão dos envolvidos
Paulo Henrique Carmo, que na época tinha 21 anos, e os menores de idade fugiram, porém foram monitorados por 13 dias antes de serem capturados em 20 de março de 2014, após serem encontrados escondidos nas proximidades do Distrito Federal. Com o grupo, foram apreendidas duas pistolas calibre 380 e ponto 40.
Após a análise balística, a polícia confirmou que os tiros que resultaram em duas vítimas da chacina no Morro do Mendanha foram disparados por uma das pistolas calibre 38 que estavam em posse dos acusados.
Naquela época, os réus já possuíam extensa ficha criminal, tendo se envolvido em um total de 16 crimes, pelos quais foram registrados e/ou detidos, mas posteriormente liberados. Isso sem contar a chacina, o que elevaria para pelo menos 19 o número de ocorrências, incluindo três relacionadas a homicídios.
Naquela época, os acusados já possuíam uma longa ficha criminal, totalizando 16 crimes pelos quais foram registrados e/ou detidos, embora posteriormente tenham sido liberados. Sem mencionar o massacre, o que elevaria o número para no mínimo 19 incidentes, incluindo três por homicídio.
Em 10 de dezembro de 2014, as autoridades policiais detiveram um jovem de 17 anos que admitiu sua participação no crime, confessando ser o responsável pelos tiros fatais contra as jovens. Ele justificou sua ação ao descobrir que elas o denunciaram à polícia por envolvimento com tráfico, negando qualquer ligação com os outros três suspeitos mencionados pelas autoridades.
No entanto, as investigações concluíram que todos os envolvidos estavam ligados ao crime. “Ficou evidenciado durante as investigações, que os quatro suspeitos tiveram envolvimento com o crime. Se arrastou, se levou, se atirou, não importa, pois todos participaram. Se ele estivesse sozinho, não ia conseguir”, declarou o delegado Kleyton Manoel Dias, titular da Delegacia de Apuração de Ato Infracional de Trindade, na época.
O nome dos adolescentes não foram divulgados na época, por se tratar de menores de idade. Porém, sabe-se que no dia 24 de Novembro de 2019, dois dos quatro envolvidos na chacina morreram em um confronto com a polícia em Trindade.