Doença que provoca aborto em vacas já infectou 10 humanos em Goiás
Goiás ocupa a segunda posição de risco da bactéria com incidência acima de 10% nas propriedades rurais
A brucelose é uma doença conhecida no meio rural, principalmente por produtores que possuem numerosos rebanhos de gado. Isso porque uma vaca, ou boi, que é contaminado pela bactéria pode colocar em risco todos os outros bovinos se não for vacinado, e inclusive, os humanos da propriedade como os peões e proprietários rurais. “É uma doença séria que deve ser controlada”, alerta Rafael Vieira, gerente de Sanidade Animal da Agência Goiânia de Defesa da Agropecuária (Agrodefesa) para o jornal O Hoje.
A bactéria é transmitida principalmente pelo contato com a área contaminada do animal como uma ferida aberta ou com a ingestão de leite cru infectado. Depois do contágio, se espalha pelo corpo do animal e pode infectar diferentes áreas como a pele, os músculos, os nervos e na placenta, como ocorre de costume nas fêmeas. Por causa disso, pode provocar desde quadros febris graves a problemas musculares crônicos, contudo, o mais sério é a chance elevada de aborto dos bezerros.
Com isso, é de se esperar que haja alto índice de animais vacinados pela doença, muito pelo motivo dos possíveis danos econômicos que podem levar ao produtor rural. Contudo, esta não é a realidade em muitas fazendas goianas com cobertura vacinal apenas metade do ideal. De acordo com dados da Agrodefesa, apenas 41% dos bovinos goianos estão vacinados pelo donos, a taxa considerada referência como uma boa cobertura é de 80%, além disso, é esperado que toda fêmea de três anos ou mais seja imunizadas.
Segundo informações da Agrodefesa, houve um aumento de casos notificados em Goiás desde o último estudo em 2016. A pesquisa anterior feita em 2002 apontava uma incidência de 17,54% nas propriedades rurais. “O nosso último inquérito da doença feito em 2016 comprovou que há ainda uma prevalência da doença de 18,73% de brucelose em Goiás, um aumento pequeno de 1% se comparado com o último feito em 2002”, afirma o gerente da área.
Por causa da alta incidência, Goiás permanece na segunda posição de risco de cinco etapas. “Hoje, em relação à brucelose, o Estado ocupa a categoria D, numa escala de nível de risco que vai de A a E, sendo E o nível mais crítico. Temos uma prevalência de mais de 10% de propriedades com foco de brucelose, o que é preocupante”
Apesar do aumento ser pequeno, Rafael denota que isso pode demonstrar uma não adesão do imunizante, ou até a introdução de animais infectados dentro de um rebanho saudável. Independente do que for, ele cita a importância da ação conjunta em prevenir um avanço da doença ainda maior nas cabeças de gado e, possivelmente, nos cidadãos goianos.
Indícios disso estar acontecendo já estão presentes na saúde pública, de acordo com a apuração da equipe de reportagem do jornal O Hoje, foram 10 casos confirmados de brucelose em Goiás no ano de 2023. Apesar do número também ser pequeno, é considerada uma doença negligenciada pela saúde pública por seu tratamento ser confundido com o de outras doenças bacterianas. Ou seja, diz que podem haver mais casos que não foram identificados.
Rafael ainda diz que a preocupação da contaminação humana está no potencial sequelas crônicas que podem acontecer caso a doença não seja devidamente tratada. Ele alerta da chance de atacar os nervos nos membros, que pode levar a paralisia em partes do corpo. Pode também oferecer um risco de morte em quadros mais graves por levar à falência múltipla de órgãos. Devido ao alto risco, produtores que não possuem a regularização vacinal dos animais podem sofrer represálias na venda e fornecimento de produtos bovinos como leite e carne.