Apenas 5 fazendas goianas possuem certificação livre de brucelose em vacas
Goiás conta com mais de 500 fazendas; De acordo com última pesquisa, que está defasada, houve registro de mais 1 milhão de animais infectados pela doença que atinge seres humanos
Durante a apresentação do novo plano de combate de bruceloses e tuberculose, um dado sobrepujou os outros, cerca de 1% das fazendas goianas são certificadas como livres das doenças mencionadas anteriormente. Uma pequena amostra de um desentendimento maior entre os produtores rurais, que 50% são de pequeno e médio porte, e autoridades da Agência Goiana de Defesa da Agropecuária (Agrodefesa). Esse desentendimento que, inclusive, gerou uma discussão entre os dois grupos.
O motivo disso tudo foi que os produtores temiam as perdas econômicas por notificarem a presença da doença em suas terras ao órgão responsável, “se eu sacrificar os meus animais eu quebro [financeiramente]”, pronunciou um deles para a Agrodefesa. Isso porque a doença ataca os músculos e pode prejudicar a locomoção do animal, que resulta em sacrifício de animais infectados.
Em casos mais graves pode danificar o tecido nervoso que causa paralisia e até a morte, dependendo da área afetada. Em fêmeas é comum que haja abortos por causa da doença, que pode se armazenar na placenta. “Essa doença tem uma questão econômica porque pode prejudicar um rebanho inteiro se não forem vacinados”, disse Rafael Vieira, Rafael Vieira, Gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa para a equipe de reportagem.
Entretanto, a bactéria não é exclusiva dos bovinos e pode infectar os humanos. Como divulgado nesta quinta-feira (14), ao longo de um período de um ano foram notificados 10 casos bruceloses em humanos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Porém, de acordo com novas informações apuradas, quatro destas ocorrências foram de pessoas que não tinham contato direto com os bovinos ou que o animal apresentou resultados negativos nos testes.
Rafael conta que isso pode significar uma transmissão indireta ocorrendo por parte da população que não tem contato com a fazenda. Segundo ele, a brucelose pode ser transmitida em produtos do animal como leite não pasteurizado e carne crua. Contudo, diz que trabalhadores rurais e de açougues podem enfrentar um maior risco de contaminação por se tratar de uma doença ocupacional pela saúde pública.
Por causa disso, Rafael, enfatizou a importância da redução de casos das doenças que estão prevalentes nas fazendas goianas. De acordo com ele, existe uma preocupação da entidade de que os números reais da doença sejam ainda maiores do que o resultado da última amostra colhida. “Iremos fazer uma nova pesquisa de prevalência em Goiás para atualizar os dados, mas a gente espera que encontre o mesmo padrão ou até pior”.
Outra preocupação da pasta possui são “entraves” que dificultam o acesso da vacina, o acompanhamento dos animais notificados e os infectados, como diz. A principal suspeita é que haja um falha na comunicação entre as autoridades e produtores rurais. “Nós possuímos um número muito baixo de animais testados, muito menor do que o rebanho que existe no estado de 25 milhões. Além disso, o número de casos notificados também é muito abaixo do esperado para um rebanho”, afirma o gerente.
Como exemplo dessa possível falha de comunicação, segundo dados da Agrodefesa, apenas 30 dos 246 municípios do estado notificaram a doença nos últimos cinco anos, entre 2018 e 2023. Além disso, 96 municípios fizeram testes em menos de 100 animais, cerca de 40% dos municípios. Outro dado aponta que 55 cidades não fizeram nenhuma testagem, cerca de 20% das administrações. Ou seja, apenas 40% do estado fez as devidas testagens nas criações de gados.
A explicação que repousa na mente dos administradores da pasta é de que ocorra uma subnotificação dos casos, ou que os casos confirmados por veterinários locais não estejam sendo encaminhados para o sistema da pasta. Em outras palavras, o risco que essa doença possa acometer no bolso dos produtores pode ser maior que o desejo que ela seja erradicada nas fazendas goianas.
Um novo plano de ação
Por causa disso, Augusto Amaral, diretor de Defesa Agropecuária, apresentou junto a sua equipe o Programa Estadual de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PECEBT). Junto ao programa, foi incluído um novo plano de ação que visa uma melhor comunicação entre o governo e os produtores rurais para apaziguar as relações e, porventura, ter uma parceria.
Ao jornal O Hoje, o diretor prevê que a agência possa desmistificar essa relação de inimizade entre ambos. A partir disso, revela que um novo programa de educação sanitária possa assistir o estado no controle e na erradicação da zoonose ao mesmo tempo de educar para a necessidade da vacinação. “Nosso objetivo é que entenda que os interesses deles e os nossos são os mesmos”, esclarece o gestor.
A campanha de educação, portanto, se baseia numa maior aproximação entre entidades acadêmicas e as suas respectivas escolas de medicina veterinária como a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). De acordo com Rafael, planeja que os formando dessa área tenham módulos específicos para o combate da doença. Além disso, planeja que haja eventos publicitários como em leilões de gado para a erradicação da bactéria.
Outra ação prevista do órgão é a implantação de um módulo no Sistema de Defesa Agropecuária de Goiás (Sidago) que possa armazenar informações individuais dos animais vacinados. Isso permitiria o acompanhamento em tempo real dos estados de saúde dos animais pela equipe de fiscalização.
Entretanto, tudo isso depende da cooperação entre os órgãos e os produtores rurais, que ainda deverão ser fiscalizados pela pasta como Augusto fala: “Nós, como órgão de Defesa Agropecuária, temos o objetivo de garantir a sanidade do rebanho de mais de 25 milhões de animais. E para cumprir essa nós temos de muitas vezes fiscalizar”, explica o gestor.