Dia Mundial de Conscientização do Autismo
Projeto oferece tratamento e educação para autistas com apoio da Lei Rouanet, e promove o desenvolvimento de capacidades mentais, afetivas, sociais, culturais, psicomotoras e neurológicas
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, se celebra nesta terça-feira (2/4), a data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007, com objetivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentar o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Conhecido por ser um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Segundo a psicóloga e especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA, Nathanne Ciriaco Pereira, o diagnóstico é realizado através de uma investigação sobre a vida do indivíduo, por meio de entrevistas com os pais, observação clínica do paciente e aplicação de testes, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento da criança, seu comportamento social e questões relativas à comunicação e comportamentos repetitivos.
“Cada criança exige um tratamento específico baseado nas suas necessidades e demandas, desse modo, é importante avaliar cada caso de forma individual, de modo a definir quais profissionais e terapias esse indivíduo necessita. Contudo, de maneira geral, é indicado para a maioria dos casos terapia ABA (Applied Behavior Analysis) e acompanhamento médico”, destaca a psicóloga.
Os primeiros sinais de alertas no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos dois a três anos de idade. “Sinais de atrasos no desenvolvimento, na fala e dificuldades na interação social, são alguns dos indícios de que essa criança precisa ser avaliada”.
A identificação de atrasos no desenvolvimento, o diagnóstico oportuno de TEA e encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio educacional na idade mais precoce possível, pode levar a melhores resultados a longo prazo, considerando a neuroplasticidade cerebral. A profissional explica que o primeiro passo é dar início, de imediato, ao tratamento que foi indicado para aquela criança, além de buscar informações e fazer um estudo aprofundado sobre o TEA.
Tratamento e educação para autistas com apoio da Lei Rouanet
Através da Lei Rouanet, a Associação de Amigos do Autista (AMA), localizada em Araçatuba, interior de São Paulo, proporciona educação musical para todos os alunos, promovendo o desenvolvimento de capacidades mentais, afetivas, sociais, culturais, psicomotoras e neurológicas. O projeto ‘A Musicalização e o Corpo’, em atividade há dois anos, não apenas traz programas culturais para pessoas com TEA, mas também incentiva e fortalece a cultura brasileira.
Além disso, o projeto facilita a integração, permitindo que os participantes expressem sensações, sentimentos e pensamentos, levando em consideração diferentes interesses e estilos de aprendizado. Isso contribui para o desenvolvimento de habilidades individuais e enriquece o conhecimento musical e corporal dos alunos
“Elaborar um projeto específico para autistas despertou minha curiosidade pelo tema e abriu minha mente para as mais variadas possibilidades de trabalho que pudessem proporcionar experiências artísticas às pessoas com TEA”, explica Josy Martins, idealizadora do projeto. “Os resultados alcançados têm superado minhas expectativas. Por exemplo, pessoas que não eram verbais agora cantam e balbuciam as melodias das músicas tocadas e cantadas em aula. Também é possível notar uma melhora na cognição e coordenação motora dos alunos. A cada dia, sinto-me renovada, e todos os dias temos uma nova conquista”.
Com cerca de 150 alunos, a instituição criada em 1999 tem como um dos fundadores, Denilton Carlos de Carvalho, pai de um autista, que está desde então à frente da gestão.
“As pessoas com deficiência não têm boa visibilidade em nosso país”, reflete Denilton. “Há muitas pessoas com deficiência trancadas em casa, vivendo apenas de benefícios do governo, sem recursos para tratamentos adequados. As empresas precisam se abrir para projetos que auxiliam essas pessoas. Outro ponto importante seria uma participação maior do governo com campanhas de incentivo para projetos culturais e de educação para pessoas com deficiência. Existe uma falta de conhecimento sobre as leis de incentivo à cultura, principalmente por parte de inúmeras empresas. Notícias falsas e a visão distorcida do governo anterior sobre o tema pioraram a forma como muitos empresários pensam sobre o funcionamento de uma lei como a Rouanet, por exemplo”.
Segundo Fabiano Moreira, gestor da Acriart (Associação Cristã de Artistas) e do projeto Oficinas Itinerantes, do qual a ‘Musicalização e o Corpo’ faz parte, a inserção de projetos de arte-educação em instituições sociais é uma iniciativa poderosa que promove a transformação social e o desenvolvimento integral de indivíduos em situação de vulnerabilidade. Para ele, através da arte, é possível construir um futuro mais justo, inclusivo e cheio de oportunidades para todos
“Pensando na gestão dos projetos, é importante que instituições como a AMA se organizem em observância aos ‘pilares’ importantes para gerir os projetos”, explica. “É importante ter um bom relacionamento com as empresas (potenciais patrocinadoras), uma equipe de comunicação para planejar a divulgação dos projetos, que precisam ser aprovados junto aos órgãos públicos e às empresas patrocinadoras, e também profissionais qualificados para conduzir administrativamente os projetos aprovados até a sua prestação de contas”.
Com 64 profissionais capacitados atualmente, a AMA conta com um amplo núcleo socioeducativo (horta pedagógica, musicoterapia, brinquedoteca, informática, educação física, natação, xadrez, jardim sensorial, cozinha pedagógica, casa de boneca pedagógica e projeto alimentação). Todas as atividades são executadas por educadoras, auxiliares de sala e monitoras de atividades. Os atendimentos terapêuticos são executados por uma equipe multidisciplinar que conta com psicólogas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, assistente social, enfermeira, técnica de enfermagem e médicos (neurologista e psiquiatra).