Como as corridas de Endurance impulsionam a introdução de novas tecnologias automotivas
Desde seus primórdios, as corridas de longa duração serviram à indústria automobilística como o melhor laboratório para diversas inovações tecnológicas de uso urbano e rodoviário
A história do automóvel se cruza com a história das corridas de longa duração, especialmente com as 24 Horas de Le Mans. Muito do desenvolvimento dos carros de rua se deve à lendária corrida. E este histórico de evolução segue até hoje com tecnologias de vanguarda aplicadas no FIA WEC, o Campeonato Mundial de Endurance, que tem etapa neste domingo (14) no Brasil, com a Rolex 6 Horas de São Paulo no Autódromo de Interlagos.
As tecnologias de motorização híbrida presentes nos Hypercars que disputarão a corrida de seis horas de duração em Interlagos no final de semana foram algumas das molas propulsoras da popularidade do FIA WEC entre as fabricantes e os fãs de automobilismo. Não à toa, são 14 as montadoras inscritas no Mundial, prova de seu sucesso técnico e de público, e vanguarda tecnológica.
As 24 Horas de Le Mans, corrida lendária que existe há mais de um século e desde 2012 faz parte da temporada do FIA WEC, foi o ponto de partida de diversas tecnologias automotivas implementadas posteriormente no uso urbano e comercial.
Os pneus radiais, por exemplo, tiveram seu primeiro grande teste nas 24 Horas de Le Mans de 1951, quando a Michelin experimentou a novidade em um Lancia Aurelia B20 GT com sucesso, e a tecnologia foi patenteada cinco anos mais tarde.
Em 1952, a Mercedes introduziu um sistema – originalmente desenvolvido pela Bosch para aeronaves – capaz de melhorar a eficiência dos motores a combustão. A gasolina era injetada diretamente na câmara de combustão. O famoso 300 SL com portas ‘asa de gaivota’ foi equipado com essa tecnologia quando venceu em 1952. Foi o primeiro motor de injeção direta de combustível.
Outro item presente em praticamente todos os carros de rua hoje em dia foi utilizado em um automóvel pela primeira vez nas 24 Horas de Le Mans. Em 1953, buscando melhorar a eficiência, segurança e durabilidade dos freios, a Jaguar equipou seus modelos C-Type com uma peça de tecnologia revolucionária à época: freios a disco – uma solução originalmente desenvolvida pela Lockheed para aeronaves de combate que pousavam em porta-aviões. Funcionou tão bem que marca inglesa terminou em primeiro e segundo lugar na corrida de 1953, e o que era novidade é um item obrigatório de uso comum em todos os carros de rua hoje em dia.
Dos motores turboalimentados – que venceram pela primeira vez em 1976 impulsionando o Porsche 936 de Jacky Ickx e Gijs van Lennep -, às tecnologias híbridas presentes hoje em dia no FIA WEC e também em vários modelos de rua, o Campeonato Mundial de Endurance tem o avanço tecnológico como uma de suas premissas.
Sempre à frente
A primeira vez que um carro correu em La Sarthe usando motorização híbrida – motor a combustão combinado com propulsor elétrico – foi em 1998. E na primeira fase do FIA WEC, em 2012, a tecnologia híbrida já se fazia presente nos carros mais potentes – foi o ano da primeira vitória de um carro de motor híbrido na história das 24 Horas de Le Mans.
Além dos avanços mecânicos, a segurança dos pilotos e espectadores também foi uma prioridade nas 24 Horas de Le Mans e segue sendo até hoje no FIA WEC e na Rolex 6 Horas de São Paulo. A introdução de cintos de segurança e de células de sobrevivência nos carros de corrida ajudou a salvar vidas em acidentes de alta velocidade. Essas tecnologias foram rapidamente adotadas pela indústria automotiva para melhorar a segurança dos passageiros nos veículos de uso diário.
As lâmpadas de halogênio foram introduzidas na edição de 1962 pela Ferrari, melhorando a visão dos pilotos na parte noturna da prova. Mais de 50 anos depois, o FIA WEC foi palco para outra inovação tecnológica, quando a Audi usou faróis a laser guiados por GPS, direcionando a luz para dentro das curvas.
Por fim, a introdução de sistemas eletrônicos avançados de controle e gerenciamento de motor nas corridas de Le Mans foi crucial para o desenvolvimento de tecnologias como controle de estabilidade e sistemas de assistência ao motorista nos carros de rua modernos. O refinamento desses sistemas nas pistas de corrida não só melhorou o desempenho dos carros de competição, mas também elevou os padrões de segurança e conforto nos veículos comerciais.
Em resumo, as 24 Horas de Le Mans não são apenas um teste de resistência para pilotos e carros, mas também um caldeirão de inovações tecnológicas que moldaram a indústria automotiva ao longo do século XX e continuam a influenciar o design e a engenharia dos veículos de hoje.