Homem supera desafios após diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço
A doença que afeta a via aérea superior é considerada o sexto tipo mais comum em todo o mundo
No início de 2016, Fernando Cascão, hoje com 59 anos, viu sua vida mudar drasticamente ao ser diagnosticado com carcinoma escamoso de grau 1 na corda vocal esquerda. Autônomo e aposentado de sua profissão como paisagista, Fernando notou os primeiros sintomas através de uma rouquidão persistente, o que o levou a buscar ajuda médica imediatamente.
Após uma videolaparoscopia diagnóstica, seguida por uma cirurgia para a retirada do câncer, Fernando enfrentou um longo e desafiador tratamento que incluiu sessões intensivas de radioterapia ao longo de 2017. Para sua alegria e alívio, o período subsequente foi de recuperação e esperança, até que, em 2019, durante uma nova videolaparoscopia de rotina, foi detectada uma reincidência do câncer.
Determinado a vencer mais uma vez, Fernando não hesitou em passar por uma cirurgia radical de retirada total da laringe. As causas do câncer foram atribuídas ao refluxo gastroesofágico, e Fernando, que nunca fumou, teve a sorte de preservar seus pulmões durante todo o processo.
“Estou curado da doença e, seguindo as orientações médicas, levo uma vida normal e desfruto de uma dieta sem restrições”, afirma Fernando, demonstrando otimismo em relação ao seu futuro após tantos desafios. Atualmente, Fernando Cascão vive com uma prótese vocal, resultado da ressecção da laringe, que lhe permite se comunicar e expressar suas ideias com clareza.
Os tumores de cabeça e pescoço são uma preocupação crescente na saúde pública, afetando a via aérea superior e apresentando sintomas que frequentemente são negligenciados, o que leva a diagnósticos tardios e impactos severos na qualidade de vida dos pacientes. Teylor Pedro Gerhardt, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Araújo Jorge e Hospital das Clínicas destaca os aspectos críticos dessa condição e enfatiza a importância da conscientização e da detecção precoce.
O médico explica que os sintomas iniciais do câncer de cabeça e pescoço são frequentemente sutis e podem incluir rouquidão persistente, dificuldade para engolir (disfagia), presença de nódulos no pescoço, aftas ou lesões na boca que não cicatrizam, além de mudanças na voz. “Estes sinais, embora específicos, são muitas vezes ignorados pelos pacientes, especialmente aqueles que possuem fatores de risco como tabagismo crônico, consumo excessivo de álcool e infecção pelo HPV”, comenta.
Antônio Paulo Machado, oncologista e mestre em genética, acrescenta que o pescoço é uma região anatomicamente complexa, suscetível ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, que podem afetar desde a pele até estruturas internas como a faringe e glândulas salivares. Segundo o médico, essa diversidade de localizações torna crucial a vigilância constante por parte dos pacientes e profissionais de saúde, visando identificar precocemente possíveis sinais da doença.
Cânceres como os de pele, boca, tireoide, faringe (incluindo cordas vocais), glândulas salivares (especialmente as parótidas), nariz, seios paranasais, olhos e ouvidos podem surgir nesta região. Além disso, o pescoço também pode ser alvo de metástases de tumores originados em outras partes do corpo, ampliando a complexidade diagnóstica e terapêutica.
“É fundamental que cada localização seja abordada com atenção específica”, alerta o cirurgião. “Os pacientes devem estar atentos a qualquer alteração no formato normal da região ou sintomas como dor persistente e rouquidão, que podem indicar a presença de um câncer”, acrescenta.
As principais causas associadas ao câncer de cabeça e pescoço são o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, que aumentam significativamente o risco de desenvolver tumores na boca, laringe, esôfago e hipofaringe. Recentemente, a infecção pelo HPV também tem sido identificada como um fator de risco crescente, especialmente em casos de câncer de orofaringe. A combinação desses fatores de risco pode predispor indivíduos ao desenvolvimento dessas condições malignas.
Chave para vencer o câncer está na detecção precoce
Os especialistas explicam que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Geralmente, é realizado através de uma história clínica detalhada, exame físico minucioso e exames complementares como ultrassonografia, tomografia computadorizada e biópsia. Quando diagnosticado em estágios iniciais, as taxas de cura podem ser superiores a 90%. No entanto, a maioria dos casos é diagnosticada tardiamente, o que reduz drasticamente as chances de cura para cerca de 40%.
Os tratamentos variam de acordo com o estágio e a localização do tumor. Em estágios iniciais, a cirurgia pode ser suficiente para a remoção completa do câncer. Em estágios mais avançados, pode ser necessário combinar cirurgia com radioterapia e quimioterapia para melhorar os resultados. Infelizmente, tratamentos agressivos podem resultar em complicações significativas, incluindo comprometimento da fala, deglutição e respiração. Muitos pacientes com doença avançada podem precisar de intervenções como traqueostomia para garantir a respiração adequada e de sondas para alimentação.
A prevenção do câncer de cabeça e pescoço inclui a adoção de hábitos de vida saudáveis, como evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, além da vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV).
Gerhardt lembra que as campanhas de conscientização são essenciais para educar o público sobre os sintomas precoces e a importância dos exames de rotina. Indivíduos com fatores de risco devem ser incentivados a realizar consultas médicas regulares e exames preventivos para detectar qualquer anormalidade o mais cedo possível.
Todos os anos neste mês de julho, o Hospital Araújo Jorge faz campanhas de prevenção e conscientização contra tumores de cabeça e pescoço. O dia 27 de julho é o Dia Mundial do Câncer de Cabeça e Pescoço segundo declaração da Federação Internacional de Sociedades de Oncologia de Cabeça e Pescoço. O objetivo é chamar a atenção sobre cuidados e controle efetivos desse tipo de câncer, considerado o sexto tipo mais comum em todo o mundo, mas que recebe menos de 2% de financiamento para pesquisa.