Juarez Barbosa está sem medicamentos para doença de Crohn
Portador da doença autoimune reclama do atraso de 10 dias e afirma que não pode ficar sem o medicamento
De um dia para o outro, o supervisor de pós-vendas Renato Ferreira descobriu, por acaso, que tinha uma das doenças gástricas mais caras do mundo. Cada injeção do medicamento Adalimumabe, que deve ser aplicado a cada 15 dias, custa no mercado em média US$ 3 mil, ou R$ 16 mil. Por sorte, ele mora em um país que arca com os custos de remédios de alto padrão de doenças para a população. Mas infelizmente, está há duas semanas com atraso na aplicação devido a problemas de logística com o Ministério da Saúde.
De acordo com ele, descobriu a doença há um ano após ser receitado um medicamento para emagrecer e percebeu um dos efeitos colaterais, mas na época ele não atrelou ao remédio que ingeria. “Tomava o orlistat e comecei a ter óleo nas fezes mas não sabia que isso era um dos efeitos colaterais e fui procurar ajuda. Quando fui fazer uma colonoscopia para averiguar, os médicos perceberam úlceras no meu intestino”.
Depois disso, foi receitado medicamentos para tomar por seis meses para fazer o tratamento das feridas. Porém, ao voltar para a consulta da gastro, percebeu que as feridas não tinham respondido. Dali se iniciou um longo e caro período de consultas médicas para ter um diagnóstico certeiro. Apesar da demora, diz que agradece todos os dias por ter descoberto a condição com antecedência.
Foi aí que Renato descobriu que era portador da doença de Crohn, uma doença autoimune que inflama o trato gástrico do paciente. Para o cirurgião do aparelho digestivo, Natã Pereira, essa constatação da doença via colonoscopia é algo comum para os pacientes e portadores. Contudo, devido ao motivo de ser autoimune, não existe uma cura para a condição. Os remédios prescritos aos pacientes são apenas para melhorar os sintomas da doença.
Estes sintomas podem variar desde dores abdominais, a dores na articulação e diarreia contínua sem motivo aparente. Na maioria dos casos, afirma que ataca o intestino do paciente, contudo, pode inflamar todo o trato gastrointestinal que percorre desde a boca até o reto. Por causa disso, recomenda um alerta dobrado para pessoas que possuem parentes próximos portadores da doença. “O principal fator que contribui para o desenvolvimento da doença é o genético. Se alguém tiver pais, mães, irmãs devem ficar atentos aos sintomas”, afirma.
Para o diagnóstico da doença, diz que há três principais formas de confirmação do problema de saúde. O histórico clínico do paciente, os exames de imagem (como endoscopia e colonoscopia) e exames laboratoriais. Uma vez com o diagnóstico que começa os tratamentos com remédios especializados.
Porém, o especialista afirma que é preciso paciência perante o tratamento da patologia. “O tratamento da doença de Crohn é muito individualizado. Cada paciente pode ter uma resposta diferente com o remédio e ter de trocar de receita”. Para Renato, por exemplo, não tem alternativa de medicamento que responda tão bem com ele.
Devido ao alto custo do medicamento, é necessário um pedido especializado para a Central Estadual de Medicamentos de Alto Custo Juarez Barbosa (Cemac – JB) pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nele, deve ser incluído: o Laudo de Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica – LME, prescrição médica para o tratamento, cópia do documento de identificação do paciente e do comprovante de residência e cópia dos exames e documentos dispostos no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).
Mesmo depois de entregue, nada disso adiantou para o Renato. Apesar de ainda não ter os sintomas da doença de Crohn, o atraso no cronograma dos medicamentos também alterou o tratamento e o acompanhamento com o médico, que terá de voltar com antecedência do planejado. “Tinha que ter tomado na quarta-feira passada (3) e tenho de aplicar de novo na quarta que vem (17)“, disse.
De acordo com a nota da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), o Ministério da Saúde tem tido dificuldade de adquirir o medicamento para a população. “O medicamento Adalimumabe, que integra o Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, é adquirido pelo Ministério da Saúde (MS), que tem buscado sua aquisição desde 2023, sem sucesso. Está agendado para o próximo dia 16 pregão com a finalidade de aquisição”, destaca a nota.
A pasta informa ainda que não há previsão de data para o fornecimento do medicamento. “Diante desse quadro, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás está elaborando nota informativa, direcionada a médicos, com recomendação de avaliar a possibilidade de substituição do Adalimumabe 40 mg por outro medicamento alternativo, conforme o perfil do paciente dentro do Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica”.