A estiagem prolongada, que teve início em maio e deve persistir até meados de setembro, elevou a preocupação com os incêndios em Senador Canedo. Com o clima árido, o número de ocorrências envolvendo o fogo cresceu significativamente. Segundo o 14º Batalhão Bombeiro Militar, que atua no município, já foram registradas 168 ocorrências de incêndio em vegetação, representando um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado.

Além dos danos ao meio ambiente, a fumaça resultante dos incêndios tem causado sérios problemas de saúde na população. Os prontos-socorros da cidade registraram um aumento na demanda por atendimento médico, com 810 casos relacionados a problemas respiratórios, afetando principalmente crianças. Um exemplo é o caso dos gêmeos Jander Felipe e Enzo Gabriel, de 10 anos, que sofrem de asma e enfrentam crises frequentes devido à fumaça dos incêndios.

“A saúde respiratória deles e de todos na casa não está boa porque a vizinha está queimando lixo e mato. Sempre tenho que manter portas e janelas fechadas para evitar a fumaça intensa. Na semana passada, eles tiveram uma crise forte e precisaram ir à UPA para tratamento”, relata a mãe, Jéssica Soares.

A saúde é afetada pelos incêndios devido aos elementos tóxicos presentes na fumaça. As partículas nela contidas se depositam nas vias respiratórias e pulmões, causando irritação e prejuízo na circulação sanguínea, o que pode gerar sintomas como tosse, espirros, dor de garganta, irritação ocular e até falta de ar. “No geral, a fumaça afeta principalmente as vias respiratórias, agravando condições pré-existentes como rinite, asma, bronquite, sinusites e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Crianças e idosos, por serem mais sensíveis, são os mais afetados”, ressalta o médico Dr. Luiz Elias, que atua nas unidades de saúde da cidade.

A situação não é exclusiva de Senador Canedo. Em todo o estado de Goiás, o número de incêndios aumentou. Foram registrados 56 incêndios florestais e 1.587 incêndios urbanos, uma média de um a cada duas horas, representando um aumento de 86,6% e 23%, respectivamente, em comparação ao ano passado.

No dia 5 de julho, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) emitiu um alerta sobre o risco à saúde no estado, informando sobre a umidade relativa do ar extremamente baixa, variando entre 12% e 20%, e o elevado risco de incêndios florestais e problemas de saúde associados.

Medidas de Prevenção e Combate

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás realiza anualmente a Operação Cerrado Vivo, que visa prevenir e combater incêndios em vegetação ao longo do estado. A operação é composta por duas fases: a primeira, de prevenção e preparação, ocorre de janeiro a junho; a segunda, de julho a dezembro, é a fase de resposta, quando há reforço operacional para o combate aos focos de incêndio.

Para combater e prevenir a propagação dos incêndios, são utilizadas diversas técnicas, incluindo o uso de caminhões, produtos específicos, ferramentas e milhares de litros de água. Após o controle inicial, as operações de rescaldo podem durar horas ou até dias, dependendo da magnitude do incêndio.

O tenente-coronel Charles Xavier de Barros, do Corpo de Bombeiros, destaca a importância das medidas preventivas: “Alertamos para o alto índice de incêndios em vegetação em nosso município, que são, em sua maioria, iniciados por ação humana. Com a estiagem, altas temperaturas, ventos fortes e baixa umidade relativa do ar, a probabilidade de incêndios é muito alta. Pedimos à população que limpe as áreas ao redor de suas propriedades para reduzir o risco e facilitar o controle do fogo.”

A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) também desenvolve várias ações na cidade, incluindo campanhas educativas nas redes sociais e em eventos comunitários para aumentar a conscientização sobre os impactos dos incêndios. Além disso, oferece treinamento para agricultores, ensinando técnicas de agricultura sustentável e controle de incêndios, como o uso de roçadas em vez de queimadas. A promoção de alternativas sustentáveis, como compostagem e técnicas de agricultura de baixo impacto, e palestras em escolas também fazem parte dessas iniciativas.