Mais de 2,5 mil pessoas vivem em situação de rua em Goiânia
Atualmente, há cerca de 2,5 mil pessoas em situação de rua em Goiânia, segundo um levantamento solicitado pela 88ª Promotoria de Justiça e realizado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), apresentado durante o VII Seminário Povos de Rua, realizado no auditório da instituição. Os dados fazem parte de um diagnóstico feito pela analista em serviço […]
Atualmente, há cerca de 2,5 mil pessoas em situação de rua em Goiânia, segundo um levantamento solicitado pela 88ª Promotoria de Justiça e realizado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), apresentado durante o VII Seminário Povos de Rua, realizado no auditório da instituição.
Os dados fazem parte de um diagnóstico feito pela analista em serviço social da Coordenação de Apoio Técnico-Pericial do MP (Catep) Amanda de Azevedo Coutinho, sobre os equipamentos que oferecem atendimento à população em situação de rua na capital, como o Centro Pop, as duas Casas da Acolhida em funcionamento e o Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas).
Esse número é o dobro de pessoas em situação de rua em Goiânia se comparado aos anos antes da pandemia de Covid-19, segundo o coordenador do Movimento Nacional Povos de Rua de Goiás MNPR-GO, Eduardo de Matos.
Nesta sexta-feira, 04, o Ministério Público de Goiás (MPGO) apresentou uma proposta inovadora de atuação institucional com o objetivo de fomentar a efetivação de políticas públicas voltadas para a população em situação de rua no Estado.
A apresentação foi conduzida pelo coordenador da Área de Políticas Públicas e Direitos Humanos do MP, Marcelo Machado de Carvalho Miranda. A proposta apresentada pelo MPGO visa criar um marco regulatório e operativo para melhorar as condições de vida das pessoas em situação de rua.
Entre as principais medidas estão: implementação de políticas de moradia para facilitar o acesso a habitações dignas, incluindo parcerias com órgãos governamentais e organizações não governamentais (ONGs); e melhoria dos serviços públicos.
Além disso, o seminário trouxe para debate importantes questões relacionadas aos direitos da população em situação de rua, com enfoque especial para o acesso à moradia. Na ocasião, especialistas de diversas áreas compartilharam suas perspectivas sobre como enfrentar os desafios enfrentados por essa população.
Acesso à moradia
O seminário reuniu integrantes do MP, moradores em situação de rua, a comunidade jurídica e acadêmica, além de voluntários com atuação nesta área. O ponto de destaque do evento foi um trecho de um poema de Carlos Eduardo Ramos, o Cadú, morador de rua de Salvador que diz: “Não somos lixo. Não somos lixo nem bicho. Somos humanos. Se na rua estamos é porque nos desencontramos”.
O procurador-geral de Justiça, Cyro Terra Peres, destacou o papel do Ministério Público na promoção da Justiça e na luta para que “não existam pessoas invisíveis”, como é a população em situação de rua para muitos.
Ele afirmou que todos os cidadãos são importantes e que não podem existir pessoas invisíveis. “Queremos ajudar a transformar essa situação. Estamos aqui para servir, sempre juntos com os demais parceiros. Todos que lutam por uma sociedade mais justa são amigos do MP”, afirma o procurador-geral.
O doutor em arquitetura e urbanismo e assessor da Pastoral Nacional do Povo da Rua Luiz Tokuzi Kohara, destacou a necessidade de respeito às pessoas que estão em situação de rua, que atualmente já ultrapassam 300 mil em todo o país. Kohara defendeu ainda a ideia de que só moradia não é suficiente, sendo necessário também oferecer saúde, educação e cultura.
Ao concordar com a fala do urbanista, Anderson Lopes Miranda, coordenador do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em Situação de Rua (Ciamp), fez críticas à política brasileira ao afirmar que “a política é como feijão, só cozinha se estiver sob pressão”.
O coordenador destacou também as dificuldades que a falta de uma moradia produz na vida de uma pessoa. “Quando a pessoa vai buscar um emprego, uma das primeiras coisas que o setor de RH pede é o comprovante de endereço. Sem ele, um processo de contratação não se consolida”, comenta.
Os microfones do MP também foram abertos para os personagens principais dessa história: os moradores em situação de rua, que na ocasião, contaram suas histórias, dividindo com aquelas que ouviam a realidade de exclusão vivida no dia a dia.
Hugo Monteiro comoveu a todos ao relatar um episódio de busca por emprego no qual conseguiu a vaga, mas não pôde ser efetivado por não ter como comprovar o endereço. “Perdi minha essência”, ele diz.
Kleber, que há 16 anos vive na rua e é usuário de drogas. Em meio a um pedido de ajuda para se livrar do problema, ele falou da alegria de estar integrando hoje o Movimento Povos de Rua: “Hoje, estou muito feliz de poder estar vivendo tudo isso aqui, vendo que é possível”, compartilha.
Como a proposta de atuação do MP será desenvolvida
A apresentação da proposta de atuação da Área de Políticas Públicas e Direitos Humanos denominada “Vozes da Rua”, foi feita pelo promotor Marcelo Miranda. Ele detalha que a iniciativa é baseada na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 976, do Supremo Tribunal Federal (STF), dispositivo que determina que os Estados, o Distrito Federal e os municípios adotem providências para atendimento à população em situação de rua. O projeto ainda está em fase final de elaboração e aprovação e deverá ser desenvolvido em quatro etapas.
A primeira é a formação de base, voltada a esclarecimentos e empoderamento da população em situação de rua. Em seguida, vem o levantamento de dados que será feito por meio do mapeamento da população em situação de rua, com a realização de um censo. A terceira etapa é o diagnóstico, ou seja, o levantamento dos serviços de atendimento da população em situação de rua. Por último, vem o apoio na negociação ou judicialização.
O evento faz parte da iniciativa da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Institucionais, da Área de Políticas Públicas e Direitos Humanos e da Escola Superior do MPGO.
Mas para acontecer, contou com o apoio do Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Goiás (MNPR-GO), Coletivo Liberdade, Pastoral do Povo da Rua, Universidade Federal Goiás (UFG), Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) e Instituto de Desenvolvimento Humano e Tecnológico (IDTECH).
Por Ronilma Pinheiro