Na tarde desta terça-feira (6), a jornalista Natuza Nery, da GloboNews, entrevistou José Luiz Datena, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo e ex-apresentador do “Brasil Urgente”. O que deveria ser uma entrevista sobre propostas e projetos de campanha acabou se tornando um bate-boca ao vivo, com Natuza e Datena trocando farpas devido a frequentes interrupções.

Início da Tensão

A tensão começou quando Natuza fez uma pergunta sobre a Cracolândia, uma área central de São Paulo conhecida pelo consumo e tráfico de drogas. Durante a resposta de Datena, ele interrompeu a jornalista diversas vezes, dificultando a fluidez da entrevista. “Sei que é muito difícil sair do papel de apresentador e ir para o papel de entrevistado, [mas] o senhor precisa me deixar entrevistá-lo. Eu preciso conseguir fazer as perguntas. Só um minutinho, o senhor me deixa terminar”, insistiu Natuza.

Natuza tentou várias vezes concluir suas perguntas, mas Datena continuou a interrompê-la. “O senhor precisa ouvir as minhas perguntas, o senhor começa a falar antes de eu terminar”, observou a jornalista. Datena reagiu imediatamente: “Só um detalhe, eu preciso ter o direito de responder. Você disse que eu teria uma hora pra responder. Eu ouvi todas [as perguntas] e respondi todas”. Natuza não deixou por menos e retrucou: “Seis minutos e uma pergunta só, candidato.”

Discussão sobre “Manterrupting”

A tensão aumentou quando Datena tentou justificar a necessidade de respostas longas para questões complexas como a Cracolândia. “Mas um assunto como a Cracolândia… Natuza, eu não quero te contradizer, mas você não pode falar de problemas complexos em segundos”, afirmou. Natuza, então, introduziu o termo “manterrupting”, referindo-se ao ato de homens interromperem mulheres durante suas falas: “Candidato, não é esse o ponto. O senhor já ouviu falar numa expressão chamada ‘manterrupting’? É quando o homem não deixa a mulher falar”.

Pedido de Desculpas e Nova Interrupção

Datena pediu desculpas, afirmando que age da mesma maneira com todos os entrevistadores, independentemente de gênero. “Me desculpe, não é esse meu objetivo. Com qualquer entrevistador independente de gênero, a minha ação sempre foi essa. Eu tenho muito respeito pelas mulheres”, explicou. No entanto, ele interrompeu Natuza novamente, levando-a a apontar: “Mais uma vez o senhor não deixa eu falar”.

Propostas de Campanha

Apesar do clima tenso, Datena conseguiu abordar algumas de suas propostas de campanha. Ele afirmou que, se eleito, pretende auditar todos os contratos da gestão do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). “A prefeitura vai auditar todos os contratos dessa prefeitura atual, porque esse prefeito, ele não corre o risco só de não ser eleito. Ele tá desesperado atrás da reeleição porque dependendo de você auditar o que ele já fez até hoje, ele corre o risco de perder a cadeira e ir pra cadeia”, declarou Datena.

Combate ao Crime Organizado

Datena também se posicionou firmemente contra o crime organizado em São Paulo. Ele prometeu não permitir que organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), influenciem os serviços públicos de transporte. “Não tenho medo de PCC, não tenho medo de bandido e bandido não vai permitir que o povo de São Paulo continue pagando a passagem do seu transporte coletivo pra vagabundos do PCC ou quem quer que seja de crime organizado”, afirmou.

A entrevista terminou em um clima de tensão, com Natuza Nery visivelmente frustrada pelas constantes interrupções e a dificuldade em conduzir a entrevista. Datena, por sua vez, tentou justificar suas ações e se comprometeu com suas propostas de campanha. A troca de farpas entre a jornalista e o candidato destacou a dificuldade em manter um diálogo produtivo em meio a interrupções constantes, evidenciando a importância do respeito mútuo e da clareza na comunicação durante entrevistas políticas.

O bate-boca entre Natuza Nery e José Luiz Datena chamou a atenção para o desafio de equilibrar o tempo de fala entre entrevistador e entrevistado, especialmente em temas complexos e urgentes como a Cracolândia. A entrevista, originalmente destinada a esclarecer as propostas de Datena, acabou enfatizando as dificuldades de comunicação e o respeito necessário em debates públicos.