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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Conscientização

A realidade dos povos indígenas e imigrantes no Brasil

Estudo revela baixa compreensão sobre a situação dos povos indígenas e desafios enfrentados por imigrantes, destacando a necessidade de políticas públicas e educação para promover a inclusão social

Postado em 10 de agosto de 2024 por Luana Avelar
A realidade dos povos indígenas e imigrantes no Brasil
A pesquisa aponta que 38% dos brasileiros sabem pouco sobre os povos indígenas e 40% desconhecem a situação de imigrantes e refugiados no Brasil | Foto: Divulgação

Na última sexta-feira (9), o mundo comemorou o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data instituída para promover a conscientização sobre os direitos e a situação dos povos originários ao redor do mundo. No Brasil, a data carrega um peso histórico significativo, dada a dívida ancestral que o país tem com essas comunidades, que foram violentamente impactadas desde a colonização. No entanto, um estudo recente revela que a maioria dos brasileiros ainda não compreende a gravidade da situação enfrentada por esses povos.

O levantamento, denominado Oldiversity, foi conduzido pela Croma Consultoria e aponta que apenas 1/3 dos brasileiros afirma ter um conhecimento razoável sobre as questões indígenas. A pesquisa, realizada com 2 mil pessoas e com margem de erro de 2 pontos percentuais, destaca ainda que 38% dos entrevistados sabem pouco sobre os povos indígenas, e 40% desconhecem amplamente a situação de imigrantes e refugiados que vivem no Brasil. Esses dados mostram uma realidade preocupante: a falta de interesse e conhecimento sobre grupos que compõem uma parte fundamental da história e da sociedade brasileira.

Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e responsável pelo estudo, lamenta o cenário. “Vivemos em um país que tem uma história profundamente marcada pela opressão aos povos indígenas, e, ainda assim, a maioria da população ignora as realidades que essas comunidades enfrentam atualmente. O aumento das invasões de terras indígenas nos últimos anos deveria ser um sinal de alerta para todos. Essas invasões representam uma continuação da violência histórica que começou com a chegada dos colonizadores e que segue até hoje, agora alimentada por interesses econômicos e políticos”, afirma.

O Brasil, antes da chegada dos colonizadores europeus, abrigava mais de mil etnias indígenas e cerca de 1300 línguas, um mosaico cultural que foi em grande parte destruído pela colonização. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas reconhece que os conhecimentos tradicionais desses povos são essenciais para o desenvolvimento sustentável e para a preservação ambiental. No entanto, a falta de políticas públicas eficazes e a crescente violência nas regiões amazônicas e no Cerrado têm ameaçado a sobrevivência dessas culturas e modos de vida.

O estudo também revela que 71% dos entrevistados acreditam que as invasões a terras indígenas aumentaram na última década. Este dado é especialmente relevante no contexto atual, onde o avanço do garimpo ilegal, das queimadas e da destruição ambiental atingem diretamente as comunidades indígenas, principalmente na Amazônia. Nos últimos cinco anos, esses problemas se intensificaram, levando à devastação de áreas ocupadas tradicionalmente por povos indígenas. A recente mudança de governo, porém, trouxe esperança para muitos, com o restabelecimento de políticas que buscam coibir essas práticas ilegais e proteger as comunidades afetadas.

Além das questões indígenas, o estudo aponta um desconhecimento em relação aos imigrantes e refugiados no Brasil. Em 2020, o país recebeu mais de um milhão de pessoas provenientes de países como Haiti, Venezuela, Bolívia, e Senegal, que buscam refúgio de crises econômicas, políticas e humanitárias. No entanto, 31% dos entrevistados acreditam que “os imigrantes e refugiados estão ocupando o espaço dos brasileiros no mercado de trabalho”, refletindo um traço de xenofobia que pode ser exacerbado pela falta de políticas públicas voltadas para a integração desses grupos.

Segundo Bulla, o sentimento de ameaça gerado pela presença de imigrantes no mercado de trabalho é um reflexo das crises econômicas que o Brasil e o mundo enfrentam. “Historicamente, os imigrantes ocupam setores do mercado de trabalho que não eram valorizados pelos brasileiros. No entanto, com o aumento do desemprego, eles passaram a ser vistos como concorrentes. Esse tipo de percepção é extremamente perigoso, pois alimenta o preconceito e a discriminação, em vez de promover a empatia e a solidariedade”, observa.

Ainda segundo o estudo, apenas metade da população acredita que o país deve combater o preconceito contra imigrantes e refugiados, enquanto 54% defendem a melhoria das condições para as comunidades indígenas. Esses números mostram que, embora haja uma parcela da população que reconhece a importância de respeitar e integrar esses grupos, ainda há muito a ser feito para transformar o Brasil em uma nação verdadeiramente inclusiva.

O Brasil é internacionalmente conhecido por ser um país acolhedor, com uma população que historicamente tem demonstrado solidariedade e empatia. Contudo, os dados da pesquisa revelam que este acolhimento pode estar ameaçado por preconceitos e desinformação. “49% dos brasileiros dizem saber conviver com os costumes e tradições de imigrantes e refugiados, mas esse número poderia ser muito maior se houvesse mais educação e sensibilização sobre a importância de aceitar as diferenças e construir uma sociedade plural”, comenta Bulla.

No entanto, o desconhecimento generalizado sobre as questões indígenas e de imigração não é apenas uma falha da sociedade civil, mas também uma responsabilidade do Estado. A falta de políticas públicas robustas que protejam e promovam a inclusão social desses grupos é um fator determinante para a perpetuação da marginalização e do preconceito. 

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