História de Tereza de Benguela ganha novo projeto audiovisual
Filme sobre líder quilombola será produzido por equipe majoritariamente feminina e negra; projeto visa corrigir distorções históricas e destacar a importância da resistência contra a escravidão
A história de Tereza de Benguela, uma das mais importantes líderes quilombolas do Brasil, será recontada em um novo projeto audiovisual que já está em fase de produção. O filme, que tem como objetivo corrigir distorções históricas e resgatar a memória de Tereza, será rodado em Vila Bela da Santíssima Trindade e nas regiões adjacentes, no estado de Mato Grosso. A produção busca trazer à tona a importância da líder que, mesmo diante da opressão e da violência do período colonial, se destacou na resistência contra a escravidão.
O projeto, que foi concebido com o intuito de valorizar a terra onde Tereza viveu e lutou, tem uma proposta diferenciada: a equipe de produção é formada, em sua maioria, por mulheres negras que ocupam posições de liderança. À frente da direção está Eva Pereira, cineasta com mais de 20 anos de experiência, reconhecida por seu trabalho como roteirista e produtora na região Norte do Brasil. Pereira é vista como uma das principais vozes do cinema brasileiro contemporâneo, trazendo uma perspectiva única para a narrativa de Tereza de Benguela.
Um dos pontos altos da produção é a participação de Silviane Ramos, pesquisadora e produtora cultural afro, que atua como consultora em história e letramento racial no projeto. Descendente direta de Tereza de Benguela, Ramos contribui para garantir que o filme seja fiel às raízes e à história da líder quilombola. O filme, que foi aprovado pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE) e está sendo realizado pela Rondon Filmes, empresa de Rodrigo Piovezan, pretende trazer uma visão autêntica e potente da trajetória de Tereza.
Segundo o produtor Thiago Brianti, idealizador do projeto, o desenvolvimento do filme começou em 25 de julho de 2024, data em que se comemoram os 254 anos do falecimento de Tereza de Benguela, que coincide com o Dia da Mulher Negra no Brasil. A escolha dessa data não é por acaso: além de marcar um momento simbólico na história de Tereza, ela reforça o compromisso do projeto em valorizar as vozes e as histórias das mulheres negras.
As filmagens estão programadas para começar em 25 de julho de 2025, quando se completam 255 anos da morte de Tereza de Benguela. A produção, que contará com a expertise do empresário Pedro Jamil na captação das imagens, pretende ser um marco na cinematografia brasileira, destacando a resistência e a força das comunidades quilombolas no Brasil.
Tereza de Benguela
Icônica figura feminina na resistência à colonização, foi uma mulher negra que desafiou as amarras da escravidão no Brasil. Durante o século XVIII, Tereza liderou o Quilombo do Quariterê, que abrigava mais de 100 pessoas, localizado onde hoje é o estado do Mato Grosso, por cerca de duas décadas. Pouco se sabe sobre essa comunidade, a não ser o que foi registrado em dois manuscritos que descrevem sua destruição em 1770.
Ao ser descrita e comparada às rainhas africanas conhecidas na época, registros indicam que as autoridades coloniais que tentavam eliminar o quilombo viam Tereza como uma figura
imponente. Ela é lembrada na história como alguém que dedicou sua vida à luta contra a escravidão, sendo reconhecida como representante do Dia da Mulher Negra no Brasil.