1° lugar no Ideb: professor destaca avanços e pendências na educação
Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica mostram Goiás na primeira posição do ranking com uma nota de 4,8 | Foto: Divulgação/ Secom
Goiás foi destaque no levantamento de 2023 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ficando na primeira posição do ranking com uma nota de 4,8. Em segundo lugar aparece o Estado do Espírito Santo e Paraná, com 4,7. Em todo o país, a nota geral das unidades federativas foi de 4,1.
Além disso, duas cidades goianas aparecem entre as 50 com maiores notas dos estudantes que estão no 9° ano do ensino fundamental, de acordo com o índice que mede a qualidade da educação no Brasil, divulgado pelo Ministério da Educação nesta quarta-feira (14). Os respectivos municípios são: Estrela do Norte com uma média de 6,4 e Rio Verde com 6,4.
O Ideb é calculado a cada dois anos e varia numa escala de 0 a 10. O Índice utiliza as notas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a quantidade de alunos aprovados, sendo o principal indicador de qualidade na educação do país.
O resultado empolgou o Governador Ronaldo Caiado (UB) que expressou seu contentamento durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (14). Caiado destacou que os avanços na educação para a geração futura, será o “melhor legado que Goiás vai entregar”.
Mas apesar de Goiás ter chamado a atenção nacional pelo avanço significativo no Ideb, o professor do Ensino Básico e Superior, Augusto Narikawa, destaca que o panorama educacional do estado ainda enfrenta desafios complexos e profundos.
Ao oferecer uma visão detalhada sobre o cenário atual da educação em Goiás, o professor destacou tanto os progressos realizados quanto as questões que permanecem pendentes. Augusto Narikawa, afirma que os profissionais da educação recebem a notícia com bons olhos, mas tece uma análise precisa sobre os dados e destaca alguns pontos que julga importantes para a melhoria da educação no Estado.
“Nós ficamos muito felizes em saber que Goiás tem a maior nota do país no ensino médio”, comemora o professor, que ao mesmo tempo chama atenção para as variantes que interpretam as notas.
Um dos fatores que acende a preocupação do profissional da educação é a pressão para aprovação de estudantes existente no sistema de ensino público brasileiro, o que coloca em xeque a qualidade da aprendizagem.
Narikawa destaca que é comum casos em que alunos do ensino médio, principalmente do terceiro ano, têm dificuldade em interpretar textos, fazer uma análise mais profunda de humor ou ironia. “Então, se por um lado a gente fica muito feliz com o resultado do Ideb, por outro lado, nós ainda continuamos batendo na mesma tecla que a educação precisa melhorar”, reflete.
“Enquanto professor universitário, recebo vários alunos de escola pública e vejo a dificuldade que eles têm, principalmente em português e matemática básica. Isso me preocupa”, comenta Narikawa .
O professor Narikawa elogia os investimentos recentes em escolas de tempo integral e a melhoria na infraestrutura das instituições de ensino em Goiás. Estes esforços são considerados passos positivos para fortalecer a educação básica. “Goiás tem investido consideravelmente em escolas de tempo integral, o que é uma iniciativa louvável”, afirma Narikawa.
“Além disso, a modernização das estruturas escolares é um avanço importante.” No entanto, ele aponta que, apesar dessas melhorias, a realidade de muitas escolas ainda é preocupante.
O professor salienta que muito se fala em projetos voltados para educação no Estado como a valorização dos docentes e aqueles voltados para o social. Mas afirma que ainda não consegue “enxergar a educação como uma prioridade do Estado”, o que, segundo ele, é algo a ser pensado.
Por outro lado, segundo Narikawa, um dos principais problemas que ainda afeta a qualidade da educação é a desigualdade na infraestrutura das escolas. Embora algumas instituições estejam bem equipadas, muitas outras continuam com estruturas precárias. Esse desequilíbrio impacta diretamente o ambiente de aprendizagem e o desempenho dos alunos.
Outro aspecto crucial abordado pelo professor é a qualificação dos docentes. Ele enfatiza que, para que a infraestrutura moderna seja realmente eficaz, é essencial que os professores recebam a capacitação adequada. “Não adianta ter uma boa estrutura se os professores não têm as condições e qualificações necessárias para acompanhar as mudanças e inovações educacionais, especialmente no contexto pós-pandêmico”, explica Narikawa. Ele ressalta a importância de utilizar metodologias ativas para engajar os alunos e melhorar a qualidade do ensino, mas também reconhece que isso só será eficaz se os professores forem devidamente treinados e apoiados.
Mesmo com avanços, modelo ainda tem problemas, aponta professor
Ao criticar a abordagem atual do planejamento estratégico educacional em Goiás, Narikawa diz que a simples melhoria dos índices de desempenho não resolve os problemas estruturais subjacentes da educação. “O aumento de indicadores pode ser celebrado, mas não resolve as questões profundas que afetam a qualidade da educação nas salas de aula”, observa.
Ele sugere que é necessário uma revisão crítica das políticas educacionais e uma abordagem mais profunda para enfrentar os desafios persistentes. “No ensino fundamental, é vital que os alunos desenvolvam habilidades básicas de leitura e compreensão. Atualmente, muitos alunos têm dificuldade em interpretar comandos de provas e compreender textos, o que indica uma falha na base do ensino”, reitera.
Na perspectiva do profissional, o Estado deve priorizar a melhoria dessas habilidades fundamentais para garantir que os alunos estejam bem preparados para o futuro.
A necessidade de valorização dos professores é outro ponto destacado pelo professor. Ele argumenta que, enquanto o estado celebra suas conquistas, os educadores que estão na linha de frente enfrentam desafios diários e não recebem o reconhecimento adequado.
“Os professores estão lutando para garantir que os índices de desempenho sejam alcançados, mas muitas vezes o estado não reconhece as dificuldades reais enfrentadas nas salas de aula”, afirma. Ele acredita que a valorização dos docentes e o reconhecimento de seu trabalho são fundamentais para a melhoria contínua da educação.
Apesar de reconhecer os avanços representados pelo ranking e os investimentos realizados, Narikawa conclui que há uma necessidade urgente de continuar trabalhando em questões crônicas e na revisão das políticas educacionais.
“É crucial que, além de celebrar os progressos, mantenhamos o foco na resolução dos problemas persistentes e na valorização dos professores. A educação pública precisa ser constantemente revista e aprimorada para que possamos realmente construir um futuro mais promissor para nossos alunos e para o país”, ressalta.