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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
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Reflexão

Conflito no ‘Lar dos Animais’: Negligência ou falta de recursos?

Denúncias de condições precárias e um incidente envolvendo a responsável e uma equipe de reportagem geram polêmica e exige intervenção judicial

Postado em 19 de agosto de 2024 por Luana Avelar
Mônica defendeu o abrigo alegando que a falta de recursos e a superlotação são os principais problemas, não negligência | Foto: Arquivo Pessoal

O abrigo ‘Lar dos Animais’, localizado no Setor Goiás Parque, em Goiânia, está no centro de uma polêmica após denúncias de maus-tratos. A situação se agravou quando a responsável pelo abrigo, Mônica Raquel, teve um confronto com uma equipe da TV Serra Dourada, que investigava as acusações. A controvérsia ganhou visibilidade após o incidente, envolvendo tanto a justiça quanto a sociedade civil.

As denúncias contra o abrigo começaram a surgir através de vizinhos e defensores dos animais, que relataram que os animais estariam sendo mantidos em condições precárias, sem alimentação adequada e sem cuidados veterinários. Diante dessas alegações, a equipe da TV Serra Dourada foi ao local para averiguar a veracidade dos relatos. Ao chegar ao abrigo, os jornalistas encontraram indícios que corroboravam as denúncias.

A juíza Raquel Rocha Lemos, em uma decisão judicial recente, determinou que a Prefeitura de Goiânia tomasse medidas emergenciais para melhorar a situação dos abrigos de animais na cidade, incluindo o ‘Lar dos Animais’. A juíza destacou que as condições observadas no local justificavam a necessidade de uma intervenção por parte do poder público. “As condições dos abrigos de animais em Goiânia são insustentáveis, e a prefeitura precisa assumir a responsabilidade de garantir que os animais recebam os cuidados necessários”, afirmou a juíza em sua decisão.

Incidente com a equipe de reportagem

O que mais chamou a atenção, porém, foi a reação de Mônica Raquel à presença da equipe de reportagem. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra o momento em que Mônica confronta os jornalistas. Esthéfany Araújo, a repórter da TV Serra Dourada, que está grávida, relatou que Mônica jogou o carro contra a equipe. “A dona do abrigo totalmente desequilibrada veio com o carro e jogou em cima da gente. Nessa hora estávamos de costas. O Maico (cinegrafista) percebeu o movimento do carro. Ela me atingiu de lado, bateu na minha perna e um pouco nas minhas costas”, contou Esthéfany.

Em resposta às acusações, Mônica publicou um vídeo nas redes sociais afirmando que pretende processar a emissora por invadir sua propriedade sem autorização. Ela alega que a equipe de reportagem entrou na chácara sem aviso prévio, filmando a área sem seu consentimento. “Quando saí para verificar, encontrei os jornalistas já filmando na rampa da minha propriedade, o que considero uma falta de respeito”, disse Mônica. Ela também negou ter jogado o carro sobre a equipe e desafiou a repórter a apresentar provas da agressão.

História e desafios 

Em entrevista ao jornal O Hoje, Mônica defendeu-se das acusações, explicando a origem e o propósito do abrigo. Segundo ela, o ‘Lar dos Animais’ começou em 2015, movido por sua crescente preocupação com o bem-estar dos animais de rua. Ela explicou que até então não tinha consciência da realidade dos animais abandonados. “Até essa época, eu não sabia que existiam animais de rua. Eu sempre trabalhei muito, entrei cedo e saí tarde do trabalho. Quando comecei a olhar as ruas e ver os bichos, fiquei horrorizada com o que via”, relatou.

O abrigo, que começou sem planejamento, foi crescendo à medida que mais animais eram resgatados das ruas. Hoje, o projeto abriga cerca de 600 animais. No entanto, Mônica destacou que a falta de apoio e a superlotação têm sido os maiores desafios para manter o funcionamento. Ela relatou que o abrigo funciona com recursos limitados, sendo sustentado majoritariamente por doações de simpatizantes da causa animal. “Os custos para manter o abrigo são altíssimos, e as doações nem sempre são suficientes para cobrir todas as despesas. Estamos falando de alimentação, cuidados veterinários, medicamentos, limpeza e manutenção do espaço, entre outros custos fixos”, explicou.

Sobre as acusações de maus-tratos, ela foi enfática ao afirmar que as condições do abrigo refletem a falta de recursos e não negligência. “Eu faço o que posso com os recursos que tenho, mas não é fácil cuidar de tantos animais praticamente sozinha. As pessoas me criticam, mas poucas realmente se dispõem a ajudar”, desabafou. Ela ressaltou que, apesar das dificuldades, continua dedicada a cuidar dos animais e a manter o abrigo em funcionamento.

Repercussão e medidas

O caso teve grande repercussão nas redes sociais, dividindo opiniões. Alguns internautas defenderam Mônica e a importância do trabalho realizado pelo abrigo, enquanto outros questionaram as condições em que os animais estão sendo mantidos e cobraram uma ação mais rigorosa das autoridades.

A Polícia Militar foi acionada e registrou uma ocorrência sobre o incidente com a equipe de TV. Além disso, a Rede de Proteção Animal e outras organizações de defesa dos direitos dos animais exigem uma investigação completa sobre as condições do abrigo e as denúncias de maus-tratos. Uma representante afirmou: “É preciso apurar se há realmente negligência por parte do abrigo e garantir que os animais estejam sendo bem cuidados. Se for constatada alguma irregularidade, as medidas cabíveis devem ser tomadas imediatamente”.

Reflexões

A dona do abrigo continua determinada a manter o abrigo funcionando, apesar das adversidades. “Eu não vou desistir. Esses animais precisam de mim, e eu preciso de apoio para continuar esse trabalho. Se a sociedade e as autoridades não se unirem para ajudar, situações como essa vão continuar se repetindo”, concluiu.

Com o caso sob investigação, espera-se que as autoridades tomem medidas para assegurar não apenas o bem-estar dos animais neste abrigo específico, mas também para que sejam implementadas políticas públicas que garantam melhores condições para todos os abrigos de animais do país.

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