Perda de sensibilidade visual pode ser sinal precoce de Alzheimer, aponta estudo
Pesquisa sugere que exames oftalmológicos detalhados podem auxiliar na detecção precoce da doença, destacando a relação entre a saúde ocular e a neurodegeneração
Um estudo recente realizado pela Universidade de Loughborough, no Reino Unido, revela uma descoberta intrigante e potencialmente transformadora na luta contra a doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência neurodegenerativa. Os pesquisadores identificaram que a perda de sensibilidade visual pode ser um dos primeiros sinais dessa doença, oferecendo uma nova perspectiva para o diagnóstico precoce e tratamento da condição. A pesquisa, que monitorou 8.623 indivíduos entre 48 e 92 anos, durante um período de 13 anos (2006 a 2019), destacou a possibilidade de utilizar exames oftalmológicos detalhados como ferramentas na detecção precoce de Alzheimer.
A conexão entre a saúde ocular e a neurodegeneração, segundo o estudo, reside no fato de que o cérebro e os olhos compartilham uma relação próxima. Alterações visuais, como a perda gradual da capacidade de perceber contrastes e mudanças sutis nas cores, podem ser indicativos de alterações neurológicas que precedem os sintomas cognitivos mais evidentes do Alzheimer, como a perda de memória e a confusão mental. O oftalmologista Dr. Rafael Cardoso, ressalta a importância dessa descoberta para a prática clínica. “Se conseguirmos identificar a perda de sensibilidade visual como um sinal precoce de Alzheimer, poderemos intervir de forma mais rápida e eficaz, melhorando significativamente o prognóstico dos pacientes”, afirma Cardoso.
No entanto, o cenário brasileiro apresenta desafios nesse campo. Uma pesquisa realizada pelo Ibope, a pedido da farmacêutica Bayer, revelou um desconhecimento sobre as doenças oculares relacionadas ao envelhecimento. A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), que é a principal causa de perda visual na terceira idade, ainda é desconhecida por 74% dos entrevistados. Além disso, 65% das pessoas com mais de 55 anos nunca ouviram falar da DMRI, uma condição que afeta cerca de 3 milhões de brasileiros e, em média, 30 milhões de idosos em todo o mundo.
A falta de conscientização e a escassez de diagnósticos precoces elevam o risco de complicações graves, como a cegueira, que poderia ser evitada com cuidados preventivos adequados. Dr. Rafael Cardoso enfatiza a necessidade urgente de maior conscientização sobre a saúde ocular entre os idosos. “A prevenção, por meio de exames oftalmológicos regulares, é fundamental. Diagnosticar doenças oculares em estágios iniciais não só preserva a visão, mas também pode ser vital para detectar outras condições graves, como o Alzheimer”, comenta.
Cardoso também sublinha a importância de se investir em campanhas de conscientização e em políticas públicas que facilitem o acesso ao diagnóstico e ao tratamento de doenças oculares. A educação em saúde e o acesso a exames oftalmológicos regulares são essenciais para mitigar os impactos da degeneração ocular e, potencialmente, da neurodegeneração. “Com a identificação e tratamento adequados, é possível não só melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas também alterar significativamente o curso de doenças graves”, completa.
A relação entre a perda de sensibilidade visual e o Alzheimer coloca os oftalmologistas na linha de frente da detecção precoce desta devastadora doença. Estudos como o conduzido pela Universidade de Loughborough reforçam a necessidade de integração entre as especialidades médicas e a importância de uma abordagem multidisciplinar no cuidado à saúde dos idosos.
Diante desses novos achados, a recomendação para a população idosa é clara: não subestime a importância dos exames oftalmológicos regulares. Além de proteger a visão, esses exames podem fornecer informações valiosas sobre a saúde geral, incluindo a detecção precoce de condições neurodegenerativas como o Alzheimer. Os esforços para melhorar a conscientização e o acesso ao cuidado oftalmológico devem ser intensificados, pois, com o envelhecimento da população, a demanda por esses serviços tende a crescer.
O avanço no entendimento da relação entre a visão e o Alzheimer pode significar um salto significativo na capacidade de tratar e, possivelmente, prevenir os efeitos mais devastadores da demência. Portanto, a combinação de exames oftalmológicos regulares, aumento da conscientização pública e avanços na pesquisa médica poderá resultar em uma melhoria substancial na qualidade de vida dos idosos, reduzindo os impactos tanto da cegueira quanto da demência.